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2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS RELACIONADOS AO PODER

2.6. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS

Em um Estado Democrático de Direito os atos da administração pública devem ser, em regra, públicos e, excepcionalmente, praticados em segredo para resguardar determinados interesses. A publicidade dos atos representa propriamente um direito de defesa e integra o devido processo legal, de modo a se caracterizar um processo justo no qual seja possível que toda a sociedade tenha o direito de conhecer dos atos praticados na via judicial. Nesse sentido

33

JARDIM, Afrânio Silva apud RANGEL, Paulo. Investigação Direta pelo Ministério Público: Visão Crítica. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 73

34

RANGEL, Paulo. Investigação Direta pelo Ministério Público: Visão Crítica. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2012. p.74

se refere Rogério Lauria Tucci:

O princípio da publicidade deflui do devido processo legal, e visa à regularidade doa atos processuais, garantindo às partes em iter procedimental escorreito de qualquer vício, tornando a justiça criminal mais transparente.35

Tal garantia da publicidade dos atos estaria prevista, ressalvando as situações de interesse público, no mandamento constitucional nos artigos art. 5º, LX, caput36, c/c art. 9337, IX, c/c o art. 792 do Código de Processo Penal38.

Em regra, vigora no direito brasileiro o princípio da publicidade absoluta dos atos, sendo que, em determinados casos expressamente previstos em lei, essa publicidade pode ser restringida, conforme o procedimento adotado para o caso concreto.

Ocorre que, na fase pré-processual, ou seja, na fase de investigação criminal realizada pela autoridade policial ou pelo Ministério Público, o princípio da publicidade dos atos é aplicado de forma mitigada, haja vista que as investigações devem ocorrer em sigilo, garantindo o esclarecimento do fato investigado.

O objetivo dessa restrição seria evitar que uma possível comunicação prévia dos atos correntes da investigação a uma das partes prejudique a elucidação do fato que está sendo investigado, impedindo a delimitação das circunstâncias em que o delito teria ocorrido e quem o teria praticado. Uma investigação criminal desordenada pode levar ao prejuízo do esclarecimento do delito investigado como ressalta Paulo Rangel na seguinte passagem:

Investigação criminal tumultuada com intromissão indevida de terceiras pessoas que nada têm a ver com os fatos, mas querem noticiá-la, para comercializar a imagem do indigitado autor, prejudica o esclarecimento da chamada verdade, fere o direito de imagem, a honra, a vida privada e a intimidade que a todos são assegurados pela Constituição Federal (art. 5º, X).39

35

LAURIA TUCCI, Rogério. Direitos e Garantias Individuais do Processo Penal Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1993, pp. 239-240.

36

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

37

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

38

Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados.

39

RANGEL, Paulo. Investigação Direta pelo Ministério Público: Visão Crítica. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2012. p.79.

No entanto, cabe ressaltar que o sigilo deve recair nos documentos ainda não juntados ao expediente investigatório, por ainda não terem sido concluídas as investigações que lhe deram origem, sendo possível que o advogado da pessoa investigada tenha acesso aos elementos de informação já juntados ao procedimento. Sobre o assunto colaciona-se um trecho da decisão do Supremo Tribunal Federal proferida no HC n.º 89.837:

(…) desrespeitar o direito do investigado ao silêncio (nemo tenetur se

detegere), nem lhe ordenar a condução coercitiva, nem constrangê-lo a produzir

prova contra si mesmo, bem lhe recusar o conhecimento das razões motivadoras do procedimento investigatório, nem submetê-lo a medidas sujeitas à reserva constitucional de jurisdição, nem impedi-lo de fazer-se acompanhar de Advogado, nem impor, a este, indevidas restrições ao regular desempenho de suas prerrogativas profissionais (Lei nº 8.906/94, art. 7º, v.g.). - O procedimento investigatório instaurado pelo Ministério Público deverá conter todas as peças, termos de declarações ou depoimentos, laudos periciais e demais subsídios probatórios coligados no curso da investigação, não podendo, o Parquet, sonegar selecionar ou deixar de juntar, aos autos, quaisquer desses elementos de informação, cujo conteúdo, por referir-se ao objeto da apuração penal, deve ser tornado acessível tanto à pessoa sob investigação quanto ao seu Advogado. - O regime de sigilo, sempre excepcional, eventualmente prevalecente no contexto de investigação criminal promovida pelo Ministério Público, não se revelará oponível ao investigado e ao Advogado por este constituído, que terão direito de acesso – considerado o princípio da comunhão de provas – a todos os elementos de informação que já tenham sido formalmente incorporados aos autos do respectivo

procedimento investigatório.40

Dessa forma, na fase de investigação criminal, o fato investigado, ressalvado os elementos informativos já juntados ao procedimento, deve ser mantido em sigilo para assegurar o regular andamento das investigações, dando garantias ao acusado de que será julgado por um fato em que tenha sido legalmente delimitada a autoria e a materialidade sendo estas características que também devem ser seguidas pelo Ministério Público caso venha a se utilizar dessa função investigativa criminal.

40

Disponível em<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/HC89837ementaCM.pdf>. Acesso em 20 de junho de 2013.

3. A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINSTÉRIO PÚBLICO EM OUTROS

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