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3. PANORAMA DO ORDENAMENTO JURÍDICO

3.1. PRINCÍPIOS

3.1.1. Princípio do desenvolvimento sustentável

Com toda certeza tal princípio é o norteador do Direito ambiental. Um dos principais motivos de existir tal ciência está relacionado diretamente com a necessidade de garantir o cenário esperado que tratamos anteriormente. Para Thomé (2016 p.56) este princípio é reconhecido como o “prima principium” do Direito ambiental.

Sendo correto afirmar, segundo referido autor, que o tripé que sustenta tal fundamento do desenvolvimento sustentável é justamente o crescimento econômico, a preservação ambiental e o equilíbrio social. Portanto ao tratar do controle de produção dos biocombustíveis é esperado que tal estrutura seja analisada e respeitada, visando o desenvolvimento perquirido. Do contrário, um dos lados do tripé ficara maior que o outro e o sistema ideal não permaneceria em equilíbrio harmônico. Para tanto seriam feitos arranjos indevidos para o prosseguimento da pratica econômica, sem o cenário sustentável.

Tal princípio pode ser encontrado na Constituição de 1988. A hermenêutica do art.225 da CF revela a orientação para o desenvolvimento sustentável.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-

se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações, (BRASIL, 1988).

Portanto, segundo o art 225 da constituição, fica em evidencia a preocupação com as futuras gerações. É de relevância importância reconhecer que não somos os únicos ou os últimos a viver neste planeta. Tal analise pode ser vista na obra de Thomé ao recordar que a Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento foi bastante expressiva em conceituar a sustentabilidade como “um desenvolvimento que faz face às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”, (THOMÉ, 2016, p.56).

Dessas formas, o que se espera com do controle de produção do biocombustível é que o processo respeite o princípio do desenvolvimento sustentável. Caso isso não ocorra não há justificativa para uma justificativa ambientalista. “A sustentabilidade ambiental é um objetivo a ser atingido e não, como hoje muitas vezes é entendido, uma direção a ser seguida”, (MANZINI, VEZZOLI, 2008, p. 28). Afirma ainda este autor que não basta ter alguma melhoria em temas ambientais para ser considerado sustentável.

Nesse sentido, segundo Holmberg (1995), citado por Manzini, Vezzoli (2008 p.28), para existir o desenvolvimento sustentável de produtos deve haver o respeito aos seguintes requisitos:

- Basear-se fundamentalmente em recursos renováveis (garantindo ao mesmo tempo a renovação);

- Otimizar o emprego dos recursos não renováveis (compreendidos como o ar, a água e o território);

- Não acumular lixo que o ecossistema não seja capaz de renaturalizar (isto é, fazer retornar às substancias minerais originais e, não menos importante, ás sua concentrações originais);

- Agir de modo que cada indivíduo, e cada comunidade das sociedades “ricas”, permaneça nos limites de seu espaço ambiental e, que cada indivíduo e comunidade das sociedades “pobres” possam efetivamente gozar do espaço ambiental ao qual potencialmente têm direito

Da analise detida desses requisitos Manzini, Vezzoli (2008 p.28) afirma que existe ainda um desequilíbrio entre o sistema de produção e o consumo. Pois não existe o respeito dos requisitos listado anteriormente, logo do desenvolvimento sustentável não fica em evidência. Acaba gerando uma barreira à observância do princípio ambiental em questão.

Portanto, resta demostrada a importância do desenvolvimento sustentável para o processo de controle de produção do biocombustível. Segundo Sinimbú (2017), o objetivo da produção de biocombustíveis é diminuir o impacto ambiental gerado pela mobilidade urbana. Essa publicação faz menção as novas técnicas em estudo para aumentar a produção de cana, sem a necessidade de elevar a área de plantio, bem como os estudos para gerar combustível renovável com o uso de microalgas. É evidente que o caminho direciona para um desenvolvimento sustentável, porém a tecnologia que ainda é desconhecida deve ser aprimorada para garantir a sustentabilidade, além de uma melhor realidade tributário para o setor, que vem sendo questionada com o Renovabio, assunto discutido na publicação, e que iremos analisar mais adiante neste trabalho.

Por fim, para que a sustentabilidade seja analisada de forma justa e bem fundamentada se faz necessário avaliar todo o ciclo de produção do produto. Segundo Manzini, Vezzoli (2008 p.91), o conjunto de todas as fases (pré-produção, produção, distribuição, uso, descarte) do produto são importastes para avaliar do desenvolvimento sustentável. Portanto a energia gasta para reunir os materiais, na pré-produção, para o real início do processo pode envolver o transporte de um lugar para o outro, o plantio, e outros. Dessa forma, no momento de avaliar o impacto ambiental da produção do biocombustível é fundamental enxergar o ciclo de vida completo.

É de extrema importância, visto isso, entender o processo de produção de biocombustíveis como um todo, para só então reconhecer o real impacto ambiental gerado, saber se está respeitando o princípio do desenvolvimento sustentável e os demais princípios do Direito Ambiental, que devem ser avaliados em conjunto, como visto anteriormente.

Nesse sentido, quando o objetivo é proteger o meio ambiente, a analise deve ser exaustiva e reconhecer cada variante do processo, conforme tudo que já foi visto

nesse capitulo. É possível verificar tal preocupação nos entendimentos do Supremo Tribunal Federal. Para tanto veja-se o STF, ao julgar a ADI-MC 3.540, em 01.09.2005: A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ (CF, artigo 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. (STF. ADI-MC 3540, EM 01.09.205)

Fica evidente nesse julgamento que existe a hermenêutica do caso concreto com base no conjunto de elementos jurídico formados pelo princípio do desenvolvimento sustentável e Constituição Federal. Comprovando a importância de cada fonte do Direito Ambiental para a tomada de decisões. Essa hermenêutica do Direito Ambiental é tão peculiar que deve ser respeitada ao máximo, no “in dubio pro

ambiente, sendo defensável que o intérprete, sempre que possível, privilegie o

significado do enunciado normativo que mais seja favorável ao meio ambiente.”, (AMADO, 2014).

Portanto, o desenvolvimento de uma atividade produtiva com implicações ambientais deve necessariamente respeitar o princípio do desenvolvimento sustentável. Qualquer outra forma de produção, que não leve em conta tal princípio, está potencialmente descumprindo um conceito primordial da sustentabilidade.

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