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Princípio federativo

No documento Cristiano Maciel Carneiro Leao (páginas 79-83)

4. Princípios Jurídicos

4.5. Princípio federativo

O princípio que assegura a forma federativa do Estado, a que chamamos de Federação ou Estado Federal, também é de fundamental importância para o sistema de direito positivo pátrio.

O termo “federação”, cerne do princípio em questão, tem sua origem nas expressões latinas foedus e foederis, cujo significado remonta a união, aliança, pacto. Segundo MICHEL TEMER111, “[...] é da união, da aliança, do pacto entre Estados que ela nasce”.

A Federação somente encontra espaço em Estados nos quais houver descentralização política e administrativa112, o que implica a transferência de competências – políticas e administrativas, como salientado acima – de um centro unitário para outros centros.

Merece destaque, entre tais competências, a legislativa, pela qual os novos membros detêm a capacidade de editar sua própria legislação nas matérias que lhe couberem, por meio de autorização expressa da Constituição.

Ainda que vigente a descentralização política, existe a necessidade de uma unidade jurídica total, um ponto central que coordene – respeitando os limites encerrados pela Constituição – os demais centros regionais.

O Estado passa a ser uma união de Estados-Membros, sob o pálio de uma entidade que reúna politicamente os entes estatais segundo uma ordem jurídica geral, global, que não pode interferir nas ordens jurídicas parciais, exceto em situações

111 Elementos de direito constitucional. p. 45.

112 O regime descentralizado é, por certo, o contrário do regime centralizado. Neste, um único centro tem capacidade

especialíssimas, como aquelas que, em nosso país, autorizam a intervenção federal nos Estados.

Na toada da descentralização política, convivem harmonicamente – ao menos deveriam – as ordens jurídicas global e parcial, o que somente é possível em razão da repartição de atribuições entre tais conjuntos normativos. O raciocínio aduzido nos leva às idéias de “Soberania” e “Autonomia”.

“Soberania” está diretamente ligada à idéia de poder. Trata-se de um verdadeiro elemento unificador da ordem. Nas palavras de DALMO DE ABREU DALLARI113, soberania pode ser analisada sob as concepções política e jurídica:

“[...] politicamente, é concebida como o poder incontrastável de querer coercitivamente e de fixar as competências. Juridicamente, é o poder de decidir em última instância sobre a atributividade das normas, ou seja, sobre a eficácia do Direito”.

“Autonomia”, por sua vez, guarda relação direta com a forma de relacionamento dos Estados-Membros de uma determinada federação entre si, em detrimento da ordem central. Conforme salientado acima, se os núcleos descentralizados puderem legislar, gozam de autonomia política.

Diante disso e do que se encontra prescrito de forma expressa na Constituição vigente em nosso país, torna-se evidente que o Estado brasileiro é um Estado Federal, pois o poder político é descentralizado e repartido entre as ordens parciais e a ordem central. Conta também com as outras duas (de três) características ínsitas aos Estados Federais, quais sejam: participação da vontade das ordenas jurídicas

parciais na vontade criadora da ordem jurídica nacional e possibilidade de autoconstituição (possibilidade de existência de Constituições locais).

Nosso Estado Federal é indissolúvel, inexistindo a possibilidade de eliminação das ordens parciais em benefício da ordem central, o que ocasionaria a centralização dos poderes em torno de um único ente. Tal indissolubilidade é assegurada pela própria Carta Maior vigente114.

Em matéria tributária, o princípio federativo impõe-se ao delimitar os campos de atuação dos entes central e parciais, que somente poderão atuar nas esferas cujas competências respectivas lhes foram outorgadas pela Constituição115.

A questão da tributação está intimamente ligada ao preceito em questão porque o fruto da atividade tributária assegura a autonomia dos Estados-Membros (aqui entendidos como Estados e Municípios), em sua capacidade financeira.

Esse é um dos elementos que enaltecem o nosso sistema constitucional tributário: no anseio de proteger os princípios republicano e constitucional, o legislador Constituinte repartiu as competências tributárias entre os centros parciais de modo que todos pudessem dispor dos valores necessários para a consecução dos interesses regionais. Trataremos da repartição das rendas constitucionais mais adiante.

Acerca da autonomia entre os membros da Federação e o órgão central – União Federal, no caso brasileiro –, insta gizar a questão da autonomia dos municípios,

114 Nos termos do artigo 60, § 4º da Constituição Federal.

115 Trata-se da repartição das competências tributárias, que mencionaremos adiante. Salientando que tal repartição de

competências decorre do preceito federativo, merece destaque o entendimento de ESTEVÃO HORVATH: “[...] devido ao princípio federativo que impera na República brasileira, um dos maiores princípios, um dos alicerces do ordenamento jurídico brasileiro, os diversos impostos, os diversos tributos são repartidos entre as várias pessoas políticas, melhor dizendo, União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Revista de direito tributário. n.º 58. p. 135- 136.

que são tratados pela Constituição como senhores de suas atividades políticas e administrativas.

A própria Carta Maior, ao repartir as rendas tributárias, outorgou competências aos Municípios para a instituição de tributos, de modo que restasse sua garantia financeira – e, conseqüentemente, política – em relação à União Federal.

É inquestionável que qualquer ato – inclusive e principalmente na seara tributária – tendente a extinguir ou amesquinhar o princípio federativo ou seu corolário da autonomia municipal será eivado de inconstitucionalidade e deverá ser combatido pelas autoridades competentes.

No documento Cristiano Maciel Carneiro Leao (páginas 79-83)