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Princípio da Intervenção Mínima

No documento MARIANA VALÉRIA NUNES LOGES (páginas 35-39)

2.2 Correlação do Princípio da Insignificância com outros princípios do Direito

2.2.2 Princípio da Intervenção Mínima

O princípio da intervenção mínima tem duas áreas de análise quando visto como fundamento do princípio da insignificância, quais sejam a subsidiariedade e a fragmentariedade, marcando, dessa forma, o Direito Penal Mínimo.85

No que diz respeito à subsidiariedade, Marcus Vinicius Reis Bastos expõe que a tutela do direito penal quando é subsidiária, “vale dizer, a norma penal abarca aquelas situações em que a tutela de outros ramos do direito tenha se revelado

82

TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral: arts. 1º a 120, vol. 1. São Paulo: Atlas, 2006, p. 203.

83

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito penal brasileiro. vol. 1: parte geral, arts. 1º a 120. 6ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 147.

84

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 131.

85

GOMES, Luis Flávio. Direito Penal: parte geral. vol. 1, 2. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais : IELF, 2004, p. 113.

insuficiente ou em que a lesão ou a exposição a perigo do bem jurídico tutelado apresente certa gravidade.”86

O direito penal é a forma mais violenta de regular a sociedade, logo, condutas e lesões de menor potencial não devem sem aparadas pelo mesmo. Essas condutas e lesões devem ser resolvidas, ou tentar que sejam resolvidas, em outras esferas do direito como, por exemplo, a esfera civil. Caso outros ramos do direito são sejam capazes de sanar a questão passe-se ao direito penal.

Para Ivan Luiz da Silva, “em razão da natureza subsidiária do Direito Penal entende-se que a sanção penal, sendo a intervenção estatal mais grave, é ultima ratio extrema, ou seja, deve ser empregada apenas em último caso.”87

Sendo assim, o princípio da subsidiariedade liga o direito penal aos outros ramos do direito, onde só pode ser utlizado em ultima ratio quando as demais áreas do direito não puderem solucionar a questão.

A idéia da fragmentariedade é de que nem toda conduta que lesa um bem jurídico penalmente tutelado precisa ser sancionada criminalmente. Isso leva a necessidade de diferenciação dos bens que precisam ou não ser protegidos penalmente, bem como as formas de ofensas a estes.88 Para que a seleção seja feita é necessário observar certos aspectos, são eles a punição penal aplicada apenas à condutas realmente reprovadas socialmente e a tutela do direito penal apenas aos bens de grande relevância.89

Francisco de Assis Toledo, no mesmo sentido, expõe: “eis aí o caráter fragmentário do direito penal: dentre a multidão de fatos ilícitos possíveis, somente alguns – os mais graves – são selecionados para serem alcançados pelas malhas do ordenamento penal.”90

O direito penal não deve se ocupar de crimes de menor

86

BASTOS, Marcus Vinicius Reis. O Princípio da Insignificância e sua aplicação jurisprudencial. In: Revista da AJUFE /Associação dos Juízes Federais do Brasil. Ano 17, n. 58 (mar/set 1998). Brasília: AJUFE, 1998.

87

SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da Insignificância no direito penal. 1. ed. 2ª tir. Curitiba: Juruá, 2005, p. 126.

88

SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da Insignificância no direito penal. 1. ed. 2ª tir. Curitiba: Juruá, 2005, p. 125.

89

GOMES, Luis Flávio. Direito Penal: parte geral. vol. 1, 2. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais : IELF, 2004, p. 113.

90

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 14 e 15.

potencial ofensivo, deve ser utilizado para proteger os bens mais relevantes, como a vida. Ai está a idéia do princípio da insignificância.

O caráter fragmentário do direito penal é trazido também pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Celso de Mello, no Habeas Corpus n.° 98.152/MG fez a seguinte observação:

“Isso significa, pois, que o sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificarão quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano – efetivo ou potencial – causado por comportamento impregnado de significativa lesividade.”91

E não apenas pelo Excelso Pretório já que o Superior Tribunal de Justiça tem o mesmo entendimento. Jorge Mussi, Ministro da Quinta Turma em seu voto no Habeas Corpus n.° 201.807/SP

“Assim, a aplicação do princípio da insignificância, causa excludente de tipicidade material, admitida pela doutrina e pela jurisprudência em observância aos postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Direito Penal, demanda o exame do preenchimento de certos requisitos objetivos e subjetivos exigidos para o seu reconhecimento, traduzidos no reduzido valor do bem tutelado e na favorabilidade das circunstâncias em que foi cometido o fato criminoso e de suas conseqüências jurídicas e sociais (...)”92

Encerrando a fragmentariedade do direito penal, vale ressaltar o que entende Luiz Regis Prado:

“Desse modo, opera-se uma tutela seletiva do bem jurídico, limitada àquela tipologia agressiva que se revela dotada de indiscutível relevância quanto à gravidade e intensidade da ofensa. Esse princípio impõe que o Direito Penalcontinue a ser um arquipélago de pequenas ilhas no grande mar do penalmente indiferente.”93

Abrangendo tanto o caráter fragmentário quanto o caráter subsidiário, a respeito do princípio da intervenção mínima Rogério Greco citado por Cezar Roberto Bittencourt explica:

91

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 2ª Turma. HC nº 98152/MG. Ementa [...] Relator: Min. Celso de Mello. Brasília, DF, julgado em 19/05/2009, DJe-104, divulgado em 04/06/2009 e publicado em 05/06/2009.

92

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 5ª Turma. HC nº 201.807/SP. Ementa [...] Relator: Ministro Jorge Mussi. Brasília, DF, julgado em 04/08/2011, DJe 25/08/2011.

93

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito penal brasileiro. vol. 1: parte geral, arts. 1º a 120. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 139.

“O princípio da intervenção mínima, também conhecido como ultima ratio, orienta e limita o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico. Se outras formas de sanções ou outros meios de controle social revelarem-se suficientes para a tutela desse bem, a sua criminalização será inadequada e desnecessária. Se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais. Por isso, o Direito Penal deve ser a ultima ratio, isto é, deve atuar somente quando os demais ramos do direito revelarem-se incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do indivíduo e da própria sociedade.”94

Luiz Flávio Gomes entende que o princípio da insignificância não é a mesma coisa que o princípio da intervenção mínima. Ocorre que o segundo é demonstrado através do primeiro. O direito penal demonstra sua importância quando pune apenas as condutas e lesões mais relevantes.95 Além do mais, o Ministro Celso de Melo ainda em seu voto no HC n.° 98.152/MG, explica:

“Na realidade, e considerados, de um lado, o princípio da intervenção penal mínima do Estado (que tem por destinatário o próprio legislador) e, de outro, o postulado da insignificância (que se dirige ao magistrado, enquanto aplicador da lei penal ao caso concreto), na precisa lição do eminente Professor RENÉ ARIEL DOTTI (“Curso de Direito Penal – Parte Geral”, p. 68, item n. 51, 2ª ed., 2004, Forense), cumpre reconhecer que o direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo desvalor – por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes – não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.”96

Conclui-se, então, que o princípio da insignificância é utilizado como forma de reduzir a utilização do direito penal que reflete o caráter subsidiário e fragmentário do mesmo, levando em conta apenas os bens jurídicos mais relevantes para a sociedade.

Vale ressaltar que apesar do princípio da intervenção mínima, da mesma forma que o princípio da insignificância, não estar amparado pelo ordenamento jurídico, deve ser observado pelo intérprete e pelo legislador.

94

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 8. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007, p. 50.

95

GOMES, Luis Flávio. Direito Penal: parte geral. vol. 1, 2. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais : IELF, 2004, p. 113.

96

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 2ª Turma. HC nº 98152/MG. Ementa [...] Relator: Min. Celso de Mello. Brasília, DF, julgado em 19/05/2009, DJe-104, divulgado em 04/06/2009 e publicado em 05/06/2009.

3. DO ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL DO PRINCÍPIO DA

No documento MARIANA VALÉRIA NUNES LOGES (páginas 35-39)

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