• Nenhum resultado encontrado

Princípio – O evento e a estrutura televisiva

No documento Edição Completa (páginas 171-175)

As competições internacionais de ginástica artística são eventos regula- mentados e realizados por uma entidade independente dos meios de comunicação, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) e suas Federações Nacionais. Atual- mente, a FIG passou também a delimitar o papel e as responsabilidades da emissora de radiodifusão anfitriã, incumbida da transmissão televisiva6, além de toda a regu- lamentação esportiva da modalidade, como o formato das competições (Copa do Mundo, Etapa Mundial, Torneio), as dimensões dos aparelhos, as regras específicas de cada aparelho, número e função dos árbitros, uniformes, estrutura da competição, normas disciplinares para atletas, técnicos, árbitros e federações afiliadas.

3. Disponível em:

<https://www. youtube.com/ watch?v=if5s5Aiv03E>. Acesso em: 20 ago. 2017.

4. Disponível em:

<https://www.youtube. com/watch?v=iryoB6i_ gvI>. Acesso em: 20 ago. 2017.

5. Disponível

em: <https:// globoplay.globo. com/v/5041226/>. Acesso em: 20 ago. 2017. 6. Obrigações das Emissoras de televisão anfitrião. Disponível em: < http://www. fig-gymnastics.com/ publicdir/rules/ files/en_Host%20 Broadcaster%20 Obligations%20 Cycle%202017-2020. pdf >. Acesso em: 20 ago. 2017.

Volume 18 – Edição 1 - 1o Semestre de 2018

Tatiana Zuardi Ushinohama, Letícia Passos Affini e Marco Roxo

171

A obrigação da emissora anfitriã, estabelecida pela FIG, é fornecer todo o equipamento técnico e o pessoal necessário para produzir uma co- bertura abrangente (televisão e rádio), nos mais altos padrões de qualidade, apropriados para um evento esportivo de importância internacional11, de forma que, imparcialmente, atraia uma ampla audiência, sem se concentrar em atletas de um determinado país7.

Meses antes do evento, a emissora de radiodifusão deve traçar e apre- sentar um plano de produção e transmissão audiovisual à FIG e à Federação Nacional organizadora do evento, para que o plano seja aprovado pela enti- dade. No projeto de transmissão televisiva do evento esportivo, a entidade esportiva e organizadora verifica se a disposição dos equipamentos respeita a especificidade da ação da ginástica e a integridade do atleta.

As disputas na ginástica artística são organizadas por sexo e por apare- lhos (salto sobre a mesa, cavalo com alça, barra fixa, barras paralelas, argolas, barras assimétricas, trave de equilíbrio e solo). Esses aparelhos compartilham conjuntamente o espaço do ginásio (Imagem 01), mas, durante as disputas in- dividuais por aparelhos, as provas acontecem isoladamente, uma de cada vez.

7. Tradução de: “that

the responsibility of the Host Broadcaster is to produce a television broadcast of high quality and style that will appeal impartially to the widest possible audience and without concentrating on athletes from a particular country.” (FIG, 2017, p.19).

Imagem 01 – Disposição dos equipamentos da ginástica artística Rio 2016. Fonte: Ricardo Bufolin

172

A transmissão televisiva da ginástica artística produzida por diferentes emissoras

Com base nesse arranjo de competição, a FIG estipulou quatorze câme- ras como o número mínimo para a transmissão das etapas (figura 01), de modo que a concentração de equipamentos televisivos não atrapalhe o desempenho do atleta, pois as câmeras devem manter uma distância de dois metros para não obstruir o ginasta ou distraí-lo.

Na fase final da competição individual de solo feminina, analisada por esta pesquisa, oito atletas disputaram, uma depois da outra, a melhor nota dos árbitros no mesmo equipamento. Para essas apresentações, a estrutura de produção televisiva modifica-se, ressaltando apenas o tablado. Na proposta de transmissão divulgada pela FIG, a emissora posicionou cinco câmeras fixas e uma móvel (spider cam), indicadas na figura 01 com uma seta em vermelho, de maneira que quatro câmeras foram distribuídas nas diagonais do tablado, no mesmo nível, e duas posicionadas acima dele. A câmera dois e a em laranja, na figura 01, fornecem tomadas em slow motion de cada exercício. As diagonais são utilizadas, com grande frequência, pelas atletas em suas apresentações para desenvolver a série acrobática, sendo, portanto, uma posição relevante para a câmera captar as ações esportivas em que há uma intencionalidade de proximi- dade e detalhamento dos movimentos.

Figura 01 – Diagrama posicionamento das câmeras na fase final individual por aparelho. Fonte:

Volume 18 – Edição 1 - 1o Semestre de 2018

Tatiana Zuardi Ushinohama, Letícia Passos Affini e Marco Roxo

173

Nesse exemplo, a FIG apresenta recursos para construir uma transmissão baseada em um dos pontos de vista ou em múltiplos, de modo que a ação huma- na da emissora determinará a maneira de transpor o evento simultaneamente ao desempenho da atleta pelo tablado. A possibilidade da multiplicidade de pontos de vista na transmissão direta e “ao vivo” não era possível no modelo descrito por Whannel (1995), em que havia apenas um enfoque, central e superior, para descrever o desempenho da atleta. E a segunda câmera, apontada no modelo, era utilizada apenas para captar o detalhe da expressão facial da atleta, de modo a ilustrar o discurso sem determinar qualquer orientação espacial da ginasta.

Já em 2016, as três emissoras acompanhadas possuíam a possibilidade de construir o discurso televisivo com uma multiplicidade de pontos de vista; con- tudo, as distribuições dos equipamentos configuradas pelas emissoras anfitriãs (Quadro 01) apresentavam arranjos diferentes do exemplo divulgado pela FIG (figura 01), entre as próprias emissoras e em relação ao modelo descrito por Whannel (1995).

Essa diversidade na disposição dos equipamentos visuais indicou também a probabilidade de haver uma complexificação das construções textuais dentro do discurso “ao vivo” das transmissões, uma vez que só com múltiplas câmeras é possível realizar montagem “ao vivo”.

Quadro 01 – Diagrama das câmeras na fase final da modalidade solo individual. Fonte: Autoria

174

A transmissão televisiva da ginástica artística produzida por diferentes emissoras

Um modelo de transmissão diferente foi proposto pelas emissoras TDN e HRT. A TDN optou por intercalar os pontos de vista distante e aproximado às ações da atleta, a partir do posicionamento das suas cinco câmeras, sem definir uma câmera principal para a transmissão. O ponto de vista ofertado ao especta- dor deslocava-se pelas câmeras conforme a dinâmica da apresentação da atleta, buscando promover a onisciência da transmissão.

Emissoras de TV e suas transmissões de ginástica

No documento Edição Completa (páginas 171-175)