• Nenhum resultado encontrado

1.1.3 Os Juizados Especiais Cíveis e sua vocação para a resolução de conflitos

1.2.1.1 Princípio da oralidade

A preocupação com a oralidade manifesta-se, não só, pela identidade física do juiz, irrecorribilidade das decisões, concentração em uma ou duas audiências e na irrecorribilidade das decisões interlocutórias, características ressaltadas na lição de Chiovenda; há diversos aspectos no processo do Juizado Especial Cível em que tal preocupação com a oralidade vem retratada. Assim, por exemplo, quando se permite que o pedido seja deduzido de forma oral e reduzido a termo,83 também quando se permite a gravação de atos e registro apenas de elmentos essenciais dos autos,84 igualmente quando se autoriza a concessão de mandato oral ao advogado.85

83

Art. 14 da Lei n. 9.099/95. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.

§ 1º - Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem acessível: I - o nome, a qualificação e o endereço das partes;

II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta; III - o objeto e seu valor.

§ 2º - É lícito formular pedido genérico quando não for possível determinar, desde logo, a extensão da obrigação.

§ 3º - O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formulários impressos.

84 Art. 13 da Lei n. 9.099/95. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as

quais forem realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei. § 1º - Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.

§ 2º - A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio idôneo de comunicação.

§ 3º - Apenas os atos considerados essenciais serão registrados resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas ou estenotipadas. Os demais atos poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente, que será inutilizada após o trânsito em julgado da decisão.

§ 4º - As normas locais disporão sobre a conservação das peças do processo e demais documentos que o instruem.

85

Art. 9º da Lei n. 9.099/95. Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória.

§ 1º - Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local.

§ 2º - O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa o recomendar. § 3º - O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos poderes especiais.

§ 4º - O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por preposto credenciado.

No que se refere à concentração, a estrutura idealizada favorece a almejada compressão procedimental, tanto assim que o art. 27, da Lei 9.099/199586 permite concentrar, tanto a conciliação, como a instrução, na mesma audiência. Embora na praxe forense sejam, em regra, realizadas duas audiências, uma de conciliação e outra de instrução, nada impede e até seria recomendável – como aliás propugna LESLIE FERRAZ87 que, frustrada a tentativa de conciliação, desde logo se converta em audiência de instrução, realizando-se assim audiência una. Para tanto, contudo, deve a parte ter sido cientificada previamente e não pode disso resultar prejuízo à defesa.88

86

Art. 27 da Lei n. 9.099/95. Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á imediatamente à audiência de instrução e julgamento, desde que não resulte prejuízo para a defesa.

Parágrafo único: Não sendo possível a sua realização imediata, será a audiência designada para um dos quinze dias subseqüentes, cientes, desde logo, as partes e testemunhas eventualmente presentes.

87

“No  que  tange  ao  procedimento,  o  divorcio  das  audiências  de  conciliação  e  instrução  tem  comprometido  seriamente o funcionamento dos Juizados. Esse arranjo, aliado a demora no agendamento da audiência perante o juiz, acaba sendo útil aos interesses dos devedores, em detrimento do cidadão. Assim, da forma como o procedimento está funcionando na prática forense, a necessidade de agendamento da conciliação acaba sendo, em muitos casos, prejudicial – e não vantajosa – ao usuário do Juizado. Não acho, contudo, que é caso de se pensar na supressão da obrigatoriedade da conciliação – o que acabaria com a própria essência dos Juizados – mas sim de se observar a disposição legal, que determina que a sessão de tentativa de acordo, em regra, seja seguida da instrução e julgamento – exceto em casos excepcionais, em que haja evidente prejuízo à defesa. Nesse sentido, talvez também seja caso de se pensar num arranjo estrutural nos moldes do Tribunal Multiportas, onde a simultaneidade dos procedimentos impede que haja recusa em firmar acordos com o propósito de se beneficiar com a demora, a exemplo da reunião das audiências. Contudo, o Tribunal Multiportas traria a vantagem de inserir outros mecanismos de ADRs além da conciliação nos Juizados Especiais”  (FERRAZ, Leslie Shérida. Juizados Especiais Cíveis e Acesso à Justiça Qualificado: uma análise empírica, p. 204-5).

88

Nesse sentido, os seguintes precedentes das Turmas Recursais do RS:

AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E INSTRUÇÃO REALIZADA EM UM ÚNICO ATO. PRÉVIA CIÊNCIA DOS REQUERIDOS A RESPEITO DA CONCENTRAÇÃO DOS ATOS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. PRELIMINAR AFASTADA. INDENIZAÇÃO DEFERIDA, A TÍTULO DE DANOS MORAIS, EM FAVOR DE CICLISTA QUE SOFREU LESÕES CORPORAIS EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. VALOR MÓDICO. RECURSO IMPROVIDO. 1. Realizada a conciliação e a instrução em um único ato, para o que cientificados os demandados, tendo em vista que o autor residia em Santa Fé, AR, não há lugar para se acolher alegação de cerceamento de defesa, posto que a citação se realizou com prévia advertência, sem prejuízo aos suplicados, com mais de dez dias de antecedência à audiência [...]. Sentença confirmada por seus próprios fundamentos. (RIO GRANDE DO SUL. Turmas Recursais. Recurso Cível n. 71001197813, Segunda Turma Recursal Cível, Relator: Clovis Moacyr Mattana Ramos, Julgado em 24 jan. 2007, DJ 8 fev, 2007). AÇÃO DE COBRANÇA. REALIZAÇÃO DE UMA ÚNICA AUDIÊNCIA, EM QUE OFERTADA CONTESTAÇÃO ORAL, COM PROTESTO POR PRODUÇÃO DE PROVAS. INDEFERIMENTO DO PEDIDO. CITAÇÃO QUE INFORMA CABALMENTE A PARTE RÉ DE QUE HAVERIA UMA ÚNICA AUDIÊNCIA, DE CONCILIAÇÃO, INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. SENTENÇA CONFIRMADA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO DESPROVIDO. Tendo a parte requerida sido expressamente advertida, com a citação, de que a audiência seria única, envolvendo tentativa de conciliação, instrução e julgamento, devendo a parte comparecer, trazendo documentos e testemunhas, não se vislumbra nulidade processual em razão do juiz, após receber a contestação oral, ter encerrado a instrução e julgado o feito, por não terem as partes produzido outras provas naquele momento processual. Tanto era protelatório o pedido de juntada de documentos que a parte sucumbente, ao recorrer, não providenciou na sua juntada. Em se tratando de ação de cobrança de cheque prescrito, mas antes de decorridos dois anos da prescrição, é parte legítima passiva o emitente do cheque, ainda que não tenha havido relação negocial direta entre as partes. (RIO GRANDE DO SUL. Turmas Recursais. Recurso Cível n. 71000850024, Terceira Turma Recursal Cível, Relator: Eugênio Facchini Neto, Julgado em 06 jun. 2006, DJ 22 ago. 2006).

Documentos relacionados