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Praticamente ao fim desta obra, tem-se que a regra é clara, a Polícia Judiciária possui a atribuição de investigar no âmbito criminal, e ao Ministério Público é atribuído o poder de requisitar a instauração do Inquérito, a produção de diligências complementares e o exercício do controle externo da atividade policial.

Em nosso Direito Democrático há um sistema de freios e contrapesos, que respeita as funções atribuídas a cada órgão do Estado, sendo assim, se fosse possível a atuação do Ministério Público nas investigações criminais, haveria o que se chama de disparidade de armas, pois o próprio órgão acusador atuaria com o propósito apenas de confirmar as suas suspeitas, e, esse é um dos motivos pelo qual o constituinte não atribuiu tal função ao órgão ministerial, conforme redige Bitencourt (2007):

Conscientemente, o legislador não o fez, e deixou de faze-lo deliberadamente, por que não achou conveniente atribuir essa atividade a um órgão que é o titular da ação penal e, portanto, parte acusatória, para evitar a disparidade de armas entre acusação e defesa na relação processual penal.

O cidadão, e até mesmo ao acusado, receberia um tratamento de inferiorização no que se refere à acusação, pois esta se utilizaria de meios próprios e dos meios da polícia para promover a acusação, assim afirma André Boiani Azevedo (2004):

Para que a disputa se desenvolva lealmente e com paridade de armas, é necessária, por outro lado, a perfeita igualdade entre as partes: em primeiro lugar, que a defesa seja dotada das mesmas capacidades e dos mesmos poderes da acusação.

Em defesa do princípio da paridade de armas relata Pitombo (2003):

Não se pode inventar atribuição nem competência, contrariando a Lei Magna. A atuação administrativa interna do Ministério Público, federal ou estadual, não há de fazer às vezes das policias. Cada qual desempenhe

sua especifica função, no processo penal, em conjugação com o Poder Judiciário, senão, não nos livraremos desta crise de legalidade.

Com isso, tem-se que o princípio da paridade de armas visa assegurar um processo justo, que respeite os direitos e garantias constitucionais dados a cada um dos cidadãos, assim como, respeite as funções atribuídas constitucionalmente a cada um dos órgãos do Estado.

8 CONCLUSÃO

O início desta obra abrange a origem da investigação criminal, e fica demonstrado que desde o princípio até os dias de hoje, o objetivo é o mesmo, a elucidação de delitos, em busca de sua autoria e materialidade.

Sendo assim, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 144 § 4º, atribuiu a Polícia Judiciária (Civil e Federal) o poder de investigar os atos delituosos, com isso, passou a ser uma competência privativa da Policia Judiciária que se concretiza através do Inquérito Policial.

Tem-se ainda, que a investigação criminal, preliminar a ação penal, presidida pelo Ministério Público é manifestamente ilegítima e inconstitucional, tendo em vista a falta de previsão legal.

O Ministério Público é o titular da Ação Penal, e com isso faz parte da atividade repressiva exercida pelo Estado juntamente com a Policia Judiciária, na investigação criminal, e, devido a tal, é cabível ao órgão ministerial que participe sim das investigações criminais, mas de forma indireta, requisitando diligências complementares, por exemplo.

Tal fato é necessário para que se mantenha vivo o Princípio da Paridade de Armas entre a acusação e a defesa, pois, como titular da Ação Penal, se presidir uma investigação criminal, não vai buscar apenas a elucidação de um delito por si só, mas também a confirmação de suas suspeitas, o que ainda que de forma não proposital o fará desviar-se do real objetivo da investigação criminal, trazendo prejuízos para a defesa, e fazendo com que a “balança” penda para o lado da acusação, o que não equilibraria a relação processual no Estado Democrático de Direito.

Além disso, a Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 129 inciso VII, que é competência do Ministério Público realizar o controle externo da atividade policial, logo, avocando as atividades da polícia, como a investigação criminal, não haveria essa fiscalização intitulada pela Carta Magna.

Conclui-se, portanto, que o Ministério Público e a Policia Judiciária devem exercer cada qual a sua função, de acordo com as atribuições constitucionais, sob pena de anular as investigações por violação ao princípio da

legalidade, disposto no artigo 37 da Constituição, e a invasão de competência funcional, o que traria um grande prejuízo a ordem e segurança jurídica.

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