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3.2 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL ESSENCIAIS AO LICENCIAMENTO SOB

3.2.3 Princípio do Poluidor-Pagador

Este princípio estabelece que aquele que lucra com determinada atividade deve ser também o responsável pelos impactos e ônus dela resultantes. Assim, se exige que o poluidor internalize o custo suficiente para mitigar, extinguir ou neutralizar os impactos negativos de sua atividade (LEITE et al., 2015).

Conforme Leite et al. (2015, p. 102) “tal princípio impede que ocorra a privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos, procurando corrigir as externalidades negativas trazidas pela atividade poluidor”.

Esse princípio se diferencia do princípio da responsabilização, pois não tem como essência a reparação ou repressão, muito embora possa admitir estas medidas em um momento posterior. No primeiro momento, o princípio do poluidor pagador pressupõe sempre a prevenção, sendo esta sem dúvida sua base (LEITE, AYALA, 2002).

Assim, muito embora o princípio do poluidor-pagador também se refira ao dever do empreendedor de arcar com os custos de medidas reparatórias aos danos que deu causa, o princípio é restrito simplesmente à responsabilidade civil por impactos negativos já ocorridos. Isso porque, a responsabilidade e o caráter reparatório não constituem o sentido fundamental do princípio do poluidor-pagador, que se dá por seu conteúdo preventivo frente aos danos (CANOTILHO; LEITE, 2007).

Dessa forma, é possível diferenciar que em relação à reparação de danos causados deve se aplicar o princípio da responsabilidade, já quanto à precaução, prevenção e distribuição dos ônus da poluição estamos tratando do princípio do poluidor-pagador (CANOTILHO; LEITE, 2007).

Nesse sentido, pode-se entender que o princípio trabalha em três dimensões: a de prevenção, responsabilização e a repressão. Contudo, a sua base será preventiva e, apenas em um segundo momento, poderá pode servir de fundamento para a responsabilização e a repressão.

Seu conteúdo, portanto, é cautelar e preventivo, ao propor a transferência dos ônus da atividade, que normalmente seriam suportados pela sociedade, para impor ao poluidor o dever de arcar com os custos das medidas de prevenção. Nesse sentido, os custos do poluidor não se referem a reparações ou indenizações que a legislação prevê em casos de danos ambientais, mas aos custos de medidas que objetivam mitigar ou impedir a concretização de impactos negativos da atividade (LEITE, AYALA, 2002).

O princípio do poluidor-pagador está ligado, nessa medida, aos custos relativos à implementação de medidas para evitar ou mitigar o dano, uma vez que o poluidor deve, por exemplo, investir em filtros na fábrica, tratar os efluentes e se responsabilizar pelos resíduos produzidos (LEITE et al., 2015).

O empreendedor deve arcar com os custos de medidas preventivas e precaucionais objetivando evitar a ocorrência de dano. Assim, o empreendedor antes de poluidor é pagador, uma vez que previamente a se tornar poluidor, deve pagar os custos de medidas preventivas

para que não ocorra a poluição. Dessa forma, o poluidor é primeiro pagador, justamente para que não se torne poluidor (LEITE, AYALA, 2002).

Deve, ainda, ser mais vantajoso economicamente para o empreendedor adotar os ônus das medidas de prevenção e precaução em oposição a arcar com os custos de reparação de uma poluição. O Estado, portanto, não deve agir repressivamente em relação à proibição de atividades poluidoras, mas dar ao empreendedor vantagens para que aja antes de poluir, tornando, assim, menos oneroso ao empreendedor pagar para evitar a poluição, a poluir e arcar com os custos da reparação (LEITE, AYALA, 2002).

Para Canotilho e Leite (2007) é necessário que seja mais benéfico economicamente para o empreendedor buscar medidas de prevenção em contrapartida a ser obrigado a reparar os danos causados por ela. Nesse sentido, os autores explanam

[...] os pagamentos decorrentes do princípio do poluidor-pagador devem ser proporcionais aos custos estimados, para os agentes econômicos, de precaver ou de previr a poluição. Só assim os poluidores são “motivados” a escolher entre poluir e pagar ao Estado, ou pagar para não poluir investindo em processos produtivos ou matérias primas menos poluentes, ou em investigação de novas técnicas e produtos alternativos (2007, p. 49).

Assim, o empreendedor ao calcular os custos de uma reparação ambiental pelo impacto negativo produzido por sua atividade, deve concluir que será mais viável economicamente procurar medidas de prevenção e precaução dos riscos para que a degradação não venha ser efetivada.

Canotilho e Leite (2007) ainda defendem a criação de um fundo fomentado pelos poluidores para custear as medidas de proteção que devem ser adotadas pelo Poder Público, isso porque, se o Estado for responsável por arcar com medidas necessárias para a proteção ambiental decorrente da degradação causada por atividades particulares, será, na realidade, o próprio contribuinte, ou seja, também a vítima da poluição, quem pagará indiretamente.

Por essa razão, os autores sugerem a criação de fundos, alimentados por empreendedores poluidores, os quais custearão as medidas de proteção efetivadas pelo poder público. Essa política chamada de “equilíbrio do orçamento ambiental” ou “reciclagem de fundos” permite garantir a equidade na redistribuição dos custos sociais de poluição e, principalmente, promover uma proteção eficiente e econômica do meio ambiente (CANOTILHO; LEITE, 2007).

Diante do exposto, pode-se concluir que o licenciamento ambiental e, mais precisamente, o EPIA são instrumentos do ordenamento jurídico brasileiro que garantem a aplicação do princípio do poluidor-pagador. Esses instrumentos visam assegurar que todas as

medidas de proteção necessárias para evitar ou mitigar eventual degradação ambiental sejam identificadas e possam ser adotadas pelo empreendedor. Além disso, todo o processo de licenciamento, bem como o EPIA deve ser custeados pelo empreendedor, uma vez que é ele o interessado e quem deve demonstrar a viabilidade de sua atividade.

É, portanto, responsabilidade do empreendedor o custeio de todas as medidas que tenham por objetivo mitigar os riscos da atividade objeto do licenciamento. É obrigação deste “não permitir que os danos se concretizem, de evitar e prevenir a produção dos efeitos negativos diagnosticados” no EPIA (LEITE et al., 2015, p. 247).

Nesse sentido, “o custo da implementação de tais medidas somente pode ser atribuído ao próprio beneficiário do projeto, in casu, o proponente, o empreendedor, não sendo possível que estes sejam atribuídos ou repartidos com toda a coletividade” (LEITE et al., 2015, p. 247).

Assim, deixar de exigir o EPIA ou outro estudo pertinente no caso que permita definir de forma clara os riscos do empreendimento importa em substituir o ônus, que deveria ser exclusivamente do proponente, para a coletividade gerando, na ótica da justiça ambiental, uma deformação na qual as vantagens são particulares e as externalidades negativas socializadas.