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Princípio da publicidade

No documento O SIGILO NO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR (páginas 38-41)

3.1 PRINCÍPIOS

3.1.2 Princípio da publicidade

A Constituição da República, como observado, anteriormente, traz em seu artigo 37 caput os princípios tidos como constitucionais, ou expressos, dentre o qual se encontra o princípio da publicidade. Entende-se que a “publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos”. (MEIRELLES, 2006, p. 94).

Utilizando-se, ainda, dos ensinamentos deixados por Meirelles (2006, p. 94), o princípio da publicidade é tido como o que “[...] abrange toda atuação estatal não só sob o aspecto de divulgação oficial de seus atos como, também, de propiciação de conhecimento da conduta interna de seus agentes”.

De acordo com Cintra, Grinover e Dinamarco (2004, p. 69), “a Declaração Universal dos Direitos do Homem – DUDH, solenemente proclamada pela Organização das Nações Unidas em 1948, no art. 10º garante o princípio da publicidade popular”.

Assim, em consonância com a DUDH, a Lei Maior brasileira estabelece em seu art. 5º, inciso XXXIII os direitos e garantias individuais, dessa forma:

Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

Analisando este artigo, verifica-se que tal preceito legal garante não só àqueles que possuam interesse particular sobre os atos praticados pela administração pública como possibilita, também, à sociedade como um todo, através do interesse coletivo ou geral, observando, é claro, aquelas informações cujo sigilo seja indispensável à segurança da sociedade e do Estado.

Deve-se observar ainda o que determina o art. 5º, inciso LX, que “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”. Analisando este inciso, pode-se dizer que a publicidade dos atos da administração pública é a regra, e que havendo o interesse da sociedade como, por exemplo, os casos em que envolva a segurança pública ou estiver presente a defesa da intimidade, onde a divulgação do caso possa violar a intimidade da pessoa envolvida é a exceção.

De acordo com o exposto, Di Pietro (2006, p. 89) registra que:

[...] pode ocorrer que em certas circunstâncias, o interesse público esteja em conflito com o direito à intimidade, hipótese em que aquele deve prevalecer em detrimento deste, pela aplicação do princípio da supremacia do interesse público sobre o individual [...].

Tem-se que a administração pública exerce atividades em favor da sociedade, sendo assim:

Em princípio, todo ato administrativo deve ser publicado, porque pública é a administração que o realiza, só se admitindo sigilo nos casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse superior da Administração a ser preservado em processo previamente declarado sigiloso nos termos da Lei 8.159, de 8.1.91, e pelo Dec. 2.134, de 24.1.97. (MEIRELLES, 2006, p. 94).

Para Julio Fabbrini Mirabete (2006, p. 26) “a regra geral da publicidade dos atos processuais está em correspondência com os interesses da comunidade, sendo considerada um freio contra a fraude, a corrupção, a compaixão e as indulgências fáceis”. Verifica-se que houve uma preocupação por parte do legislador constituinte em coibir atos espúrios que, por ventura, o administrador público pudesse praticar valendo-se das suas prerrogativas e da facilidade, que possui em decorrência do seu cargo.

Contudo, alguns doutrinadores entendem que o princípio da publicidade não se aplica ao inquérito policial, ou seja, nem todos os atos da administração pública podem ser divulgados. Sendo assim, Gasparini (2005, p. 11) explica que:

A essa regra escapam os atos e atividades relacionados com a segurança nacional (art. 5º, XXXIII, da CF), os ligados a certas investigações, a exemplo dos processos disciplinares, de determinados inquéritos policiais (art. 20 do CPP) [...], desde que prévia e justificadamente sejam assim declarados pela autoridade competente. Para esses pode-se falar em sigilo. (grifou-se)

Corroborando com a doutrina dominante, Tourinho Filho (2002, p. 19) expõe que:

[...] a publicidade não atinge, grosso modo, os atos que se realizam durante a feitura do inquérito policial, não só pela própria natureza inquisitiva dessa peça informativa, como também porque o próprio

art. 20 do CPP dispõe que a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário... Trata-se, de conseguinte, de lex specialis. Nem se invoque a Constituição. Nela se fala em publicidade dos atos

processuais... e os do inquérito não o são. Nela se fala em litigante...

e no inquérito não há litigante. (grifo do autor)

Destaca-se ainda, a citação de Sumariva (2007), o qual disserta que:

Não podemos imaginar uma investigação criminal sendo amplamente divulgada e acessada por todos. A publicidade dos atos investigativos poderá causar transtorno irrecuperável na busca da prova processual. Como por exemplo, não se pode vislumbrar sucesso na divulgação de uma interceptação telefônica de um investigado. Qual seria o resultado prático de tal diligência, caso o alvo das investigações fique sabendo da diligência antes mesmo que ela aconteça? Com toda a certeza, o ato investigativo não passaria de uma grande encenação teatral.

Por outro lado, existem aqueles que se posicionam de forma contrária, alegando que realmente o inquérito muitas vezes não pode ser acessível a todos, apenas às partes que possuem relação direta com o mesmo. Assim, utilizando-se de um discurso semelhante, Almeida (2007), leciona que “há de se notar que a publicidade do inquérito policial é mais restrita que a do processo. Não é possível considerá-lo acessível a qualquer do povo, mas apenas aqueles que comprovem interesse jurídico nas investigações”.

Em contrapartida, Choukr (2001, p. 34) entende que:

Uma regra que nasceu praticamente morta com o Código de Processo Penal foi a do sigilo do inquérito, estipulada no art. 20 do mencionado diploma legal, ao dispor que a autoridade assegurará no

inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. (grifo do autor)

Choukr (2001) traz que a investigação criminal tornou-se em uma invejável arena onde a administração pública expõe, através da mídia, para a sociedade, indivíduos suspeitos do cometimento de algum delito penal, utilizando equivocadamente o princípio da publicidade. Na Inglaterra “a imprensa necessariamente está distante da investigação, impossibilitada de criar contra o suspeito todo um clima de prejulgamento [...]”. (CHOUKR, 2001, p. 35). Já no Brasil, a mídia se encarrega de indiciar, julgar e proferir a sentença do cidadão que tem a preventiva decretada.

No documento O SIGILO NO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR (páginas 38-41)