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2.4 EXPERIÊNCIAS DE PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA

2.4.4 Princípios e Características das Ferramentas de Tomada de Decisão

O elemento definidor da democracia deliberativa, bem como sua fundamentação processual, reside no fato de que os indivíduos que participam dos processos democráticos são suscetíveis a mudar suas opiniões e preferências como resultado da reflexão induzida pela deliberação (DRYZEK, 1999).

Isso significou uma explosão de ferramentas tecnológicas que visam possibilitar a implantação de possibilidades de deliberação coletiva on-line, cujo escopo, capacidade de mudança social e ajuste às expectativas da teoria deliberativa ainda é em grande medida a ser determinada.

Assim, a literatura aponta como sugestão ferramentas de deliberação e ação coletiva que tenham alguns critérios para que tenha sucesso no processo.

Em 2016, houve um Decreto nº 8.638 de 2016 do Governo Federal do Brasil que entende por Governança Digital a utilização pelo setor público de tecnologias da informação e comunicação com o objetivo de melhorar a informação e a prestação de serviços, incentivando a participação dos cidadãos no processo de tomada de decisão e tornando o governo mais responsável, transparente e eficaz. Dentro dessa linha, embora as cooperativas não sejam entidades governamentais, vale citar os temas que poderiam ser aplicados a elas (BRANDI; SILVA 2016):

a) foco nas necessidades da sociedade; b) abertura e transparência;

c) simplicidade;

d) priorização de serviços públicos disponibilizados em meio digital; e) segurança e privacidade;

f) participação e controle social; g) governo como plataforma; h) inovação.

Faz-se necessário ter princípios como os citados para sociedades cooperativas na era digital.

Já segundo Luna Reys (2017), na elaboração de ferramentas de tomada de decisão e participação cidadã de duas linhas que costumam ser exploradas pela literatura. Sendo que a primeira é relacionada com as tecnologias usadas para consulta e deliberação e a segunda é relacionada ao processo de facilitação que é necessário ser usado pelas instituições que utilizam as ferramentas.

Nas plataformas de co-criação e participação de usuários para geração de ideias e opiniões, as autoras Mačiulienė e Skaržauskienė (2016) usam os seguintes critérios:

a) abertura e flexibilidade;

b) diversidade de formas de engajamento; c) descentralização e auto-organização; d) independência e transparência; e) segurança e privacidade.

Já Dahlgreen (2005) ao analisar espaços em democracias que permitem a circulação de informações, ideias e debates, a fim de facilitar as pontes de comunicação entre os cidadãos, estabelecendo três dimensões básicas a serem consideradas, como: estrutural, representação e interação.

A dimensão estrutural concentra-se basicamente nas questões básicas da inclusão democrática, como a liberdade de expressão, a configuração das regras regulatórias do processo comunicativo e a arquitetura do próprio dispositivo comunicativo.

A dimensão representacional, por sua vez, dá especial ênfase aos aspectos relacionados à composição, tanto da informação quanto dos participantes que compõem o processo comunicativo. Aqui estão questões relevantes, como a veracidade, exatidão ou integridade das informações, o pluralismo de opiniões ou o estabelecimento da agenda comunicativa.

Finalmente, a dimensão interativa está relacionada àqueles aspectos intrinsecamente ligados aos modos de troca dentro do processo comunicativo, incluindo questões como as formas pelas quais a informação circula, o modo como a produção deliberativa é gerada e, em geral, tudo relacionado às práticas discursivas.

Por fim, Francés (2015) resume as melhores práticas em cada categoria da seguinte maneira.

Quadro 3 - Dimensões e indicadores da matriz de avaliação de ferramentas de tomada de decisão.

DIMENSÕES E INDICADORES DA MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE FERRAMENTAS DE TOMADA DE DECISÃO

DIMENSÃO ESTRUTURAL

Refere-se à configuração e desenho da plataforma comunicativa, tanto na sua apresentação como na lógica interna em que o debate público opera.

1. Propriedade: direitos de uso e modificação em relação aos códigos de software e programação. 2. Regulação: existência ou não de níveis diferenciados de usuários com capacidade de ação assimétrica no planejamento e desenvolvimento do processo.

3. Privacidade: identificação ou anonimato nas ações realizadas pelos participantes.

4. Segurança: proteção contra ataques ou disfunções de identidade ou conteúdos na plataforma de debate.

5. Facilidade de uso: importância dada pelos designers às questões de acessibilidade e linguagem utilizadas na aplicação.

6. Papéis de intermediação: importância dos papéis dos coordenadores ou promotores na formulação de informações e na definição do processo.

7. Natureza da informação: concepção do uso final da plataforma é a realização de propostas, estabelecimento de debates coletivos, votação ou avaliação distributiva dos cargos, priorização de ideias.

DIMENSÃO REPRESENTATIVA

Refere-se aos aspectos comunicativos intrínsecos ao debate público, tanto em relação à troca de informações quanto na definição interativa das regras do processo.

• Acreditação: necessidade de identificação dos participantes através de documentos oficiais, e-mails ou criação de usuários.

• Pluralismo de vozes permitidas: possibilidade de sanção ou eliminação de opiniões extremas. • Definição da agenda: existência ou não de controle externo dos participantes da agenda (tópicos, decisões, forma organizacional, etc.) do debate atual.

DIMENSÕES E INDICADORES DA MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE FERRAMENTAS DE TOMADA DE DECISÃO

DIMENSÃO ESTRUTURAL

Refere-se à configuração e desenho da plataforma comunicativa, tanto na sua apresentação como na lógica interna em que o debate público opera.

DIMENSÃO INTERATIVA

Refere-se aos aspectos comunicativos intrínsecos ao debate público, tanto em relação à troca de informações quanto na definição interativa das regras do processo.

• Configuração do processo comunicativo: formas de troca de informações entre os participantes do processo. Direcional (os participantes essencialmente respondem ou se posicionam para questões que são levantadas para eles) ou abertos (os participantes podem introduzir novos itens para o debate coletivo).

• Modo de notificação: existência ou não de alertas comunicativos que permitem acompanhar o debate ao longo do tempo.

• Tempos dedicados ao debate: definição externa ou não do tempo necessário antes do processo de tomada de decisão.

• Formas de decisão: mecanismos existentes para a tomada de decisão final no processo, pela distributiva (pelo voto individual das propostas existentes) ou pelo consenso (aceitação da decisão por amplo consenso entre os participantes).

Fonte: Adaptado de Francés (2015).

Assim, acredita-se que diante das experiências de construção de ferramentas para tomada de decisão, ao se propor para uma cooperativa, critérios de outras experiências podem ajudar na elaboração das mesmas.

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