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Princípios das Armas Combinadas e da Formação Inter-Armas

No documento MAJ João Caldeira (páginas 32-37)

III. O Sistema de Instrução do Exército

IV.1. Princípios das Armas Combinadas e da Formação Inter-Armas

“ No campo de batalha moderno para se alcançar o sucesso é necessário o emprego coordenado dos sistemas de armas combinadas – Infantaria, Blindados, Artilharia, Engenharia, Guerra Electrónica, Helicópteros de Ataque, Apoio Aéreo.”149

Face ao emprego das armas combinadas, de acordo com as missões que poderão ser atribuídas ao Exército150 e na tentativa de sistematizar as características do seu emprego, propomos os Princípios abaixo indicados no emprego de armas combinadas. Representam regras de conduta,

147 É o caso por exemplo do RI 1, que para além da especialidade Atirador de Inf, ministra a PMG de especialidades que têm a PComp no CAVE.

148 As especialidades ministradas na BMI: Condutores de VBTP (1ºBIMec), CC (RC4), Art AP, Camp BF AP (GAC), são um exemplo de PComp que pela especificidade dos materiais em instrução, são conduzidas em unidades das armas. Cf. Plano de Instrução Militar 2001.

149 O Agrupamento de Inf Mec/CC, ME 20-51-00, pp1.

150 A tipologia seguida no IAEM que considera de acordo com as situações de guerra, crise e paz, as seguintes Operações: Campanha, Pró-Paz (Consolidação, Manutenção, Imposição), Prevenção de Conflitos (Observação e Monitorização), Interesse Público, Humanitárias e Assistência Militar. Cf. Operações de Paz e Dissuasão, NC-70-70-09, pp3-14. De acordo como o ATP-35(B) o espectro da guerra inclui: a Paz e a Guerra, estando entre as duas situações, os Conflitos fora da guerra que incluirão os conflitos regionais, o terrorismo, os conflitos que visam a separação de estados (separatismo), os conflitos étnicos e as disputas fronteiriças. Os Conflitos fora da guerra ocorrem quando as entidades políticas têm interesses opostos e resolvem recorrer à violência ou à ameaça desta. Segundo esta diferenciação, na guerra há a cessação de qualquer actividade diplomática entre as partes em conflito, podendo estarem abertos outros canais que possibilitem negociações com vista à resolução do conflito. Nos conflitos fora da guerra, a diplomacia mantém-se activa, bem como todo o conjunto de relações não violentas entre as partes. A guerra por sua vez inclui os conflitos regionais e os generalizados. Cf. ATP-35(B), 1-5 The Fundamentals, Section II Spectrum of Conflict.

a serem seguidas, na condução de operações num ambiente onde sejam empregues as armas combinadas e nas actividades de formação inter-armas151.

a. Coordenação: Entre todos os meios disponíveis, de forma a conseguir a sua máxima rentabilização. A coordenação em campanha inclui: a manobra executada por unidades de infantaria, de cavalaria e helicópteros de ataque, o apoio de fogos indirectos garantido pela artilharia, mas que possui igualmente meios nas unidades de Infantaria e Cavalaria, o emprego de sapadores integrados com a manobra, as acções de unidades de guerra electrónica, integradas na pesquisa de noticias efectuada por outras unidades no âmbito das ordens de pesquisa. Na formação as sobreposições de conteúdos, podem-se traduzir em gastos desnecessários de recursos. É assim fundamental garantir a necessária complementaridade nos objectivos de formação, permitindo a adequação do que se aprende, ao que é necessário saber.

b. Sincronização152: De todas as acções desencadeadas pelas armas combinadas, surgindo em

tempo, de forma a obterem o efeito num ponto decisivo. Adequar a Formação, nos seus conteúdos e tecnologias, ao momento em que a mesma deva decorrer, de acordo com as aptidões do formando e o ambiente envolvente.

c. Integração: Garantindo um esforço conjunto por parte dos meios disponíveis. Na Formação, deve ser garantido que os conteúdos dos cursos, seja comum na formação geral, mas que também apoiem a formação especifica e constituam um meio para se garantir a ligação entre as armas.

d. Flexibilidade: Permitir com os vários sub-sistemas de combate, dar uma resposta pronta, de forma a cumprir a missão com eficácia. A formação deverá adaptar-se aos novos desenvolvimentos do conhecimento, permitindo que os militares os recebam de acordo com as necessidades respectivas. O dispositivo de formação deverá ser adaptado às necessidades, possibilitando por via dos novos sistemas de informação, configurações de efeito combinado153.

e. Unidade de Comando: Um só comandante, em qualquer escalão. Na Formação, um único comando na execução garantirá a conjugação de esforços, capazes de permitirem a eficiência no emprego dos meios e a eficácia no alcançar objectivos de formação e níveis respectivos.

151 O SIE é caracterizada pelos seguintes princípios: Objectividade, Progressividade, Qualidade, Segurança,

Adequabilidade, Oportunidade, Continuidade, Motivação e Credibilidade. 152 Cf. AJP - 01 (A) Cap 6-8, 0626-Synchronisation of joint operations. 153 Gen Gordon SULLIVAN – Hope is not a Method, pp162

f. Massa: Concentrar judiciosamente o potencial de combate capaz de garantir o controlo dos pontos decisivos154. Na Formação garantir que todos os meios disponíveis e os mais adequados, sejam aplicados de acordo com os obj de formação propostos.

g. Sinergia: A conjugação do potencial das várias armas é superior aos potenciais isolados. Na formação inter-armas procurar que instrutores de matérias especificas, por via da sua formação, assegurem um efeito multiplicador, quando actuarem em conjunto.

h. Economia de Meios: O emprego conjunto das armas, permite o seu emprego adequado às necessidades, permitindo economizar recursos. Garantir que exista o número de instrutores e de meios, adequado ao dos formandos. Possibilitar uma criterioso controlo dos recursos empenhados na formação.

i. Coesão: Das unidades que possuem armas combinadas, garantindo o espirito de corpo da unidade, sem retirar a entidade de cada arma. Na Formação garantir a uniformidade de procedimentos, técnicas, conteúdos. Permitir que existam as especificidades próprias de cada arma, com métodos, técnicas e atitudes adequadas ao ambiente em que operam.

j. Iniciativa: Garantida pelo emprego conjugado de todas as armas. Possibilita a escolha da sequência de emprego dos sistemas disponíveis, devendo sempre ser privilegiado a acção dos comandantes. Na Formação procurar novas técnicas, métodos e permitir a adaptação dos cursos, às necessidades de formação das unidades em proveito das quais o sistema actua. l. Objectividade: As operações são concretizadas para alcançarem objectivos. Garantir que os

objectivos de formação são alcançados, adequando os mesmos aos recursos e ao ambiente, de acordo com a retroacção do sistema. Garantir a validação da formação e permitir que os objectivos sejam constituídos de acordo com as necessidades de formação.

m. Informação: “Sem informação não se consegue comandar”. Garantir que a validação da instrução, actue em proveito da melhoria do sistema. Possibilitar rapidamente que o sistema aprenda enquanto actua, de forma a corrigir as suas insuficiências. Actualização permanente das necessidades de formação, dos conteúdos dos cursos e das competências dos formadores.

IV.2. CPC- 2001: um Curso Inter-Armas

O CPC das armas e Serviços que decorreu em 2001 pretendeu constituir-se como uma forma de racionalizar meios e garantir a eficácia da formação. A nossa análise inclui o CPC como um todo, mas com um particular enfoque nas partes comuns: 1ª e 3ª Fases. O CPC é um curso de promoção, que consta no Plano de Ensino, fazendo parte do ensino de graduação. Em anos

anteriores, o curso era ministrado nas diferentes EP das armas e dos serviços, tendo na sua parte final um exercício final, na modalidade de CPX, no sistema de simulação “First Battle”, rotativo pela EPI, EPC e EPA, onde participavam todos os alunos do curso. Existiam exemplos de armas que recorriam, por falta de recursos humanos qualificados, a professores vindos de outras unidades ou estabelecimentos de ensino, para ministrarem matérias da formação geral, técnica e táctica,155 o que denotava a necessidade de se ajustar a forma do curso. Verificava-se igualmente uma distinta preparação de base dos oficiais que frequentavam o CPOS, em resultado da desigual formação garantida no decorrer dos respectivos CPC. Foi também determinado, que passasse a existir uma progressiva integração das partes comuns da actividade das EP, “sem prejuízo da manutenção do espírito próprio e das tradições”, potenciando a “aproximação das EP’s das unidades operacionais e estudar a progressiva integração de partes comuns da sua actividade” 156. Em consequência, surge o CPC 2001, com uma formação em comum, a cargo da EPI, e com a participação de professores de todas as armas e serviços, num período que decorreu de 22Jan a 06Abr. De 17Abr a 29Jun decorreu uma parte especifica das armas e serviços ministrada sob responsabilidade das EP respectivas. De 2 a 11Jul, decorreu um CPX comum às armas e serviços, de novo sob a responsabilidade da EPI. O CPC foi frequentado por 70 alunos (incluindo 18 alunos oriundos dos PALOP). Entre a decisão da execução do novo modelo para o CPC e o início do curso decorreram 4 semanas, o que se revelou manifestamente insuficiente para a preparação pretendida. Só pelo empenho de todos os intervenientes no processo é que se conseguiu, após duas semanas da decisão, apresentar o programa de Instrução da Parte Comum157.

De novo no presente ano, irá ser seguido na EPI o modelo ensaiado, numa forma em tudo semelhante ao ano transacto. Nos conteúdos do curso, refira-se que o próprio conteúdo de todos os CPC sofreu entre outras, as seguintes mudanças: desenvolvimento do bloco de Operações de Apoio à Paz, a caracterização das Operações em Áreas Edificadas e a adopção do sistema de simulação VIGRESTE, no CPX. Em 2002 a 1ª fase irá decorrer de 21Jan a 17Mai. O CPX decorrerá 1 a 13 de Jul, podendo de novo localizar-se no IAEM, ou na EPT.

Na preparação do curso de 2002 está constituída uma equipa formada por um oficial de cada arma/serviço e quatro oficiais da EPI, que em conjunto, mediante a supervisão do Director do CPC conjunto (é também o director do CPC de Inf) estão a levar a cabo a tarefa de repensar o

155 Dois exemplos: pontualmente a EPT recorreu a oficiais de Inf colocados na RMN e a EPA recorreu a professores do IAEM.

156 Directiva n.º 300/CEME/99, pp10.

157 Decisão: Despacho de 27Dec00 do Gen CEME, transmitido por nota de 03Jan01 da Rep Ensino / CmdInstr; Programa da Parte Comum enviado pela EPI, para o CmdInstr em15Jan01.

programa para o próximo curso, por via daquilo que é necessário modificar no curso de 2001. Nesta revisão, estão a ser reformulados os temas de apoio às técnicas, tentando-os adaptar a cada arma e serviço, dado que foi sentido que os temas anteriores estavam mais vocacionados para as unidades de manobra. Refira-se que a função de comando das subunidades e de estado - - maior no escalão Bat, reflecte uma especificidade no cargo, onde é ainda marcante o peso da arma e desse modo ser necessário ir de encontro a essa expectativa. Em 2002, irá ser introduzido no CPC, o novo processo de decisão, de acordo com a evolução seguida na OTAN158, o que representa uma inovação no escalão Bat. Também dentro de cada arma poderão existir modificações aos conteúdos, no decorrer da 2ª fase. Na EPI, no decorrer do CPC 2001, verificou-se um número pouco ajustado de temas durante a 2ª fase do curso (parte específica) o que se traduziu numa maior dificuldade em consolidar os conhecimentos. No presente ano os conteúdos serão reformulados, tentando aumentar a qualidade da instrução. Os apoios em folhas avançadas e publicações dados aos alunos, serão garantidos pela EPI. À semelhança do ano transacto, no final do curso será efectuado um relatório a enviar para o CmdInstr e para todas as EP. O mesmo será precedido de um questionário aos alunos, sobre a forma como decorreu o CPC. A constituição da EPI, como entidade responsável pela execução da 1ª e 3ª fases, não é uma situação definitiva, podendo vir a ser atribuída a tarefa a outra escola.

O programa de 2002 apresenta as seguintes diferenças em relação ao ano transacto: 5 sessões de História Militar (novo); técnica de Pessoal com a adaptação ao novo processo de decisão; técnica de Informações com mais 4 tempos e mudanças nos Obj de aprendizagem, como os relatórios de informações; técnica de Logística com menos 4 tempos; redução de 1 tempo em Eng (total actual 5), 3 em Tm (total actual 1), 2 no Apoio Logístico às FND (total actual 4); mais 4 tempos no Apoio de Fogos (total actual 16), incluindo o Targeting; menos 1 tempo em áreas edificadas (total actual 3); menos 8 tempos na técnica e táctica das armas e svc (total actual 8); menos 9 tempos no bloco de operações de apoio à paz (9 na actualidade); mais 4 tempos na administração de subunidades, não atribuindo a instrução a todas as EP, mas centralizando a instrução num menor número de instrutores; fim da prova de avaliação de conhecimentos de Gestão da Instrução; fim das 4 sessões de sensibilização à informática.

158 Na doutrina de ref. a implementação da doutrina “Batalha Aero-Terrestre” e do IPB (Intelligence Preparation of the Battlefield, ie Preparação do Campo de Batalha pelas Informações) evoluiu nos anos 90 para um processo de decisão caracterizado pela coordenação, sincronização e integração das operações, através dum novo processo de decisão estabelecido no FM 110-5. Na OTAN surgiu o ATP- 3.2 que adopta a mesma metodologia. Cf. O Processo da Decisão Militar – NC-10-00-09, pp1.

No documento MAJ João Caldeira (páginas 32-37)