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TÍTULO II A LEI DA SAÚDE MENTAL

PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES

Para além dos princípios gerais previstos nas Bases I e II da Lei de Bases da Saúde92 prevê no n.º 1 do art.º 3, os princípios específicos da politica de saúde mental, que são os seguintes:

a) A prestação de cuidados de saúde mental é promovida prioritariamente a nível da comunidade, por forma a evitar o afastamento dos doentes do seu meio habitual e a facilitar a sua reabilitação e inserção social;

b) Os cuidados de saúde mental são prestados no meio menos restritivo possível; c) O tratamento de doentes mentais em regime de internamento ocorre,

tendencialmente, em hospitais gerais;

92 Lei de Bases da Saúde (Lei N.º 48/90, 24 de agosto) Base I – Princípios gerais

1- A proteção da saúde constitui um direito dos indivíduos e da comunidade que se efetiva pela responsabilidade conjunta dos cidadãos da sociedade e do Estado, em liberdade de procura e de prestação de cuidados, nos termos da Constituição e da Lei.

2- O Estado promove e garante o acesso de todos os cidadãos aos cuidados de saúde nos limites dos recursos humanos, técnicos e financeiros disponíveis.

3- A promoção e a defesa de saúde publica são efetuados através da atividade do Estado e de outros entes públicos, podendo as organizações da sociedade civil ser associadas àquela atividade. 4- Os cuidados de saúde são prestados por serviços e estabelecimentos do Estado ou, sob fiscalização

deste, por outros entes públicos ou por entidades privadas, sem ou com fins lucrativos. Base II – Politica de saúde

1- A politica de saúde tem âmbito nacional e obedece às diretrizes seguintes:

a. Promoção da saúde e a prevenção da doença fazem parte das prioridades, no planeamento das atividades do Estado;

b. É objetivo fundamental obter a igualdade dos cidadãos no acesso aos cuidados de saúde, seja qual for a condição económica e onde quer que vivam, bem como garantir a equidade na distribuição de recursos e na utilização de serviços;

c. São tomadas medidas especiais relativamente a grupos sujeitos a maiores riscos, tais como as crianças, os adolescentes, as gravidas, os idosos, os deficientes, os toxicodependentes e os trabalhadores cuja profissão o justifique;

d. Os serviços de saúde estruturam-se e funcionam de acordo com o interesse dos utentes e articulam-se entre si e ainda com os serviços de segurança e bem-estar social;

e. A gestão de recursos disponíveis deve ser conduzida por forma a obter deles o maior proveito socialmente útil e a evitar o desperdício e a utilização indevida de serviços; f. É apoiado o desenvolvimento do sector privado da saúde e, em particular, as iniciativas

das instituições particulares de solidariedade social, em concorrência com o sector publico;

g. É promovida a participação dos indivíduos e da comunidade organizada na definição da politica de saúde e planeamento e no controlo do funcionamento dos serviços;

h. É incentivada a educação das populações para a saúde, estimulando nos indivíduos e nos grupos sociais a modificação dos comportamentos nocivos à saúde publica ou individual; i. É estimulada a formação e a investigação para a saúde, devendo procurar-se envolver os

serviços, os profissionais e a comunidade.

2- A politica de saúde tem caráter evolutivo, adaptando-se permanentemente às condições da realidade nacional, às suas necessidades e aos seus recursos.

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d) No caso de doentes que fundamentalmente careçam de reabilitação psicossocial, a prestação de cuidados é assegurada, de preferência, em estruturas residenciais, centros de dia e unidades de treino e reinserção profissional, inseridos ma comunidade e adaptados ao grau especifico de autonomia dos doentes.

Do teor deste n.º 1 resulta o modelo comunitário, reafirmado pela OMS e pela Resolução N.º 46/119, de 17 de dezembro, das Nações Unidas.

Para Albergaria93 “o modelo comunitário caracteriza-se essencialmente pela

descentralização dos serviços de prestação dos cuidados de saúde mental por forma a aproximá-los da população; pela desinstitucionalização, através da prestação dos cuidados em regime ambulatório e em hospitais gerais, a fim de obstar os internamentos e permanência em hospitais psiquiátricos e com o objetivo mais amplo de combater a estigmatização de que os doentes mentais são alvo; e pela reintegração, na medida em que a politica de saúde mental não se esgota na prevenção, cura ou controlo de patologias, mas se dirige à reinserção social, profissional e familiar do individuo, com a implicação em tal desidrato da família e dos poderes e coletividades locais”.

O n.º 2 prevê que a “prestação de cuidados de saúde mental é assegurada por equipas

multidisciplinares habilitadas a responder, de forma coordenada, aos aspetos médicos, psicológicos, sociais de enfermagem e de reabilitação”.

Vem a Lei da Saúde Mental, logo no art.º 1 estabelecer os objetivos da mesma, sendo estes os princípios gerais da política de saúde mental e regulando o internamento compulsivo de portadores de anomalia psíquica, i. e., contém bases gerais da política de saúde mental e o regulamento sobre o internamento compulsivo dos portadores de anomalia psíquica, designadamente pessoas com doença mental.94

As LSM versam em três pontos fundamentais da política de saúde mental nos art. ºs 2 e 3:

a. Objetivos e interesses a proteger, cf. n.º 1 do art.º 2 LSM

Quanto ao n.º 1 torna-se patente a preocupação do legislador em não esgotar a questão da saúde mental estritamente no plano médico do tratamento das perturbações

93 Ob. Citada, 2006, p. 12

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psíquicas do individuo, antes ocupando-se igualmente de garantir as condições psíquicas necessárias ao livre desenvolvimento do “Ser”, da personalidade, e ainda da dimensão social de que a ciência psiquiátrica é especialmente contingente e na justa medida em que a enfermidade mental é causa de desadaptação social.95

b. A forma adequada de proteção desses interesses, cf. n.º 2 do art.º 2 LSM

No que respeita às medidas de efetivação dos objetivos da saúde mental, traduzem-se elas em ações de prevenção primária (destinadas à redução da frequência das psicopatologias através da contenção dos fatores que as determinam), prevenção secundária (diagnóstico e tratamento da psicopatologia) e prevenção terciária (dirigidas à reabilitação/reinserção social do individuo e redução das consequências incapacitantes da enfermidade).96

c. Os princípios gerais a observar nas formas escolhidas de prossecução daqueles objetivos, cf. art.º 3 LSM

A LSM quanto ao internamento compulsivo parece conformar-se com os valores constitucionais cf. al. b) do n.º 1 do art.º 3 “os cuidados de saúde mental são prestados

no meio menos restritivo possível”.97

Só pode ser determinado quando for a única forma de garantir e submissão a tratamento do internado e finda logo que cessem os fundamentos que lhe derem causa e “só pode ser

determinado se for proporcionado ao grau de perigo e ao bem jurídico em causa”.

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