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5 PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR

5.1 PRINCÍPIOS

O cerne da proteção ao consumidor encontra-se no princípio da vulnerabilidade,

previsto no art. 4º, inciso I, do CDC. É o sustentáculo básico que perpassa por toda a filosofia

de defesa consumerista, ao prescrever que o consumidor é a parte mais frágil da relação de

consumo, quer seja quanto a um aspecto sócio econômico, jurídico-científica ou de ordem

técnica (NUNES, 2012, p. 178). Parte da ideia de que esta relação é desigual, estando o

fornecedor em situação de vantagem, quer pelo seu poder econômico, por sua experiência ou

conhecimento, sobre o produto ou serviço que fornece.

Para que a relação de consumo se torne isonômica, reconhece-se a vulnerabilidade do

consumidor, buscando equilibrá-la no mercado de consumo, conforme ensina Fabrício Bolzan

de Almeida

Com a constatação de que a relação de consumo é extremamente desigual,

imprescindível foi buscar instrumentos jurídicos para tentar reequilibrar os

negócios firmados entre consumidor e fornecedor, sendo o reconhecimento

da presunção de vulnerabilidade do consumidor o princípio norteador da

igualdade material entre os sujeitos do mercado de consumo. (ALMEIDA,

2013, p. 289)

Havendo reconhecimento da situação da vulnerabilidade do consumidor, cabe ao

Estado garantir a sua proteção.

5.1.2. Ação Governamental

A presença do Estado nas relações de consumo decorre da fragilidade do consumidor

na relação de consumo, cabendo ao Estado resguardar os direitos da parte vulnerável. A

Constituição de 1988, ao determinar ser direito fundamental o direito do consumidor atribui

ao Poder público o dever de defendê-lo, sendo princípio previsto no art. 4º, II, do CDC, a ação

governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor, seja por iniciativa direta,

por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas, pela presença do

Estado no mercado de consumo ou pela garantia dos produtos e serviços com padrões

adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho (Art. 4º, II, a, b,, c, d, CDC).

Explica-nos Fábio Vieira Figueiredo e Simone Diogo Carvalho Figueiredo que

A ação governamental é feita por meio da instituição de órgãos de defesa do

consumidor (PROCON, IDEC), da Secretaria de Direito Econômico (SDE),

do Ministério Público, do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e

Qualidade Industrial (SINMETRO), entre outros. (FIGUEIREDO e

FIGUEIREDO, 2009, p. 31).

5.1.3. Harmonização de Interesses e Boa-fé Objetiva

Conforme estabelece art. 4º, III, CDC, deve haver harmonização e equilíbrio entre os

interesses do consumidor, vulnerável, e do fornecedor, para que haja equilíbrio entre a defesa

dos direitos do primeiro com a livre atividade econômica e desenvolvimento científico. Dessa

forma, compatibiliza-se os interesses de ambas partes da relação de consumo, para que a

defesa do consumidor não apresente entrave à ordem econômica ao mesmo tempo que esta

não viole direitos consumeristas. Para tanto, tem-se como base a boa-fé nas relações de

consumo.

O princípio da boa-fé objetiva

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, por sua vez, exige que, em nome da harmonia de

interesses, consumidor e fornecedor atuem com boa-fé, isto é, “[...] com sinceridade,

seriedade, veracidade, lealdade e transparência, sem objetivos mal disfarçados de esperteza,

lucro fácil e imposição de prejuízo ao outro” (ALMEIDA, 2003, p. 48). Dessa forma,

garante-se uma relação garante-sem abuso ou lesão para qualquer um dos sujeitos, que devem cooperar para a

harmonia e o equilíbrio de interesse na relação de consumo.

36 “A boa-fé subjetiva tem seus holofotes voltados para questões internas, psicológicas dos sujeitos de direito. Na verdade, busca-se saber se o titular de um direito tinha ciência ou não da existência do vício que estava por trás da prática de determinado ato jurídico. Por outro lado, quando o tema envolve a boa-fé objetiva, o enfoque a ser analisado não se preocupa com questões de ordem subjetiva, mas sim com regras de conduta, ou seja, analisa-se a relação no plano dos fatos, de forma objetiva, para então concluir se os sujeitos da relação atuaram ou não com boa-fé.” (ALMEIDA, 2013, p. 312)

5.1.4. Educação, Informação e Transparência

Para que se atinja uma isonomia na relação de consumo, é necessário diminuir o grau

de desigualdade entre consumidor e fornecedor. Neste esteio, o princípio da educação e

informação, previsto no art. 4º, IV, CDC, propõe que se eduque o consumidor, tanto

formalmente quanto informalmente

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, para que este possa exercer conscientemente o seu

papel na relação, de forma a torná-la mais equilibrada. Para tanto, é necessário que o

consumidor seja informado sobre seus direitos e deveres, bem como sobre o produto ou

serviço que está adquirindo, cabendo ao fornecedor o dever de informar com adequação,

suficiência e veracidade (LÔBO, 2001, p. 605-606).

Por conseguinte, para que a informação seja possível, é necessário observar o princípio

da transparência previsto no caput do art. 4º do CDC, que se traduz, conforme Rizzatto Nunes

na obrigação do fornecedor de dar ao consumidor a oportunidade de

conhecer os produtos e serviços que são oferecidos e, também, gerará no

contrato a obrigação de propiciar-lhe o conhecimento prévio de seu

conteúdo. (NUNES, 2012, p. 178)

Salienta-se que, em se tratando de Direito do Consumidor, tanto a educação quanto a

informação, além de princípios, são direitos básicos previstos no art. 6º da Lei nº 8.078 de

1990.

5.1.5. Controle da Qualidade e Segurança

O princípio do controle da qualidade e segurança dos produtos e serviços encontra-se

previsto no inciso V, do art. 4º, do CDC, do qual se depreende que se deva incentivar os

fornecedores a criarem “meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e

serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo”. Dessa

forma, em se tratando de organismos geneticamente modificados, é necessário, em nome da

defesa ao consumidor, que os produtores e demais fornecedores estabeleçam forma de

controle de sua segurança e qualidade, evitando conflitos com os consumidores.

Tal princípio também se traduz em um direito básico, seja o direito à proteção da

vida, da saúde e da segurança, que para ser efetivamente alcançado, depende desses

mecanismos de controle.

37 “José Geraldo Brito Filomeno ressalta a existência de dois tipos de educação a respeito do tema: a formal e a informal. No tocante à educação formal, destaca o autor a relevância de a criança ter contato desde os primeiros passos com o Direito do Consumidor, ainda que seja desnecessária a criação de uma disciplina para tratar do tema. [...] Em outra obra, Filomeno enaltece a importância da educação informal e o belo trabalho realizado nesse sentido pelos órgãos e entidades de defesa do consumidor, como ocorre com a elaboração de “cartilhas,

material informativo, e outros instrumentos fornecidos pelos PROCONs constituem-se em utilíssimo

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