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PARTE II IMPLICAÇÕES DO DESEMPENHO FINANCEIRO

CAPÍTULO 4 – EFEITOS DO DESEMPENHO FINANCEIRO: REVISÃO DE LITERATURA

4.1. PRINCIPAIS ABORDAGENS

Brender e Drazen (2006 e 2005b) apresentam nos seus estudos os principais argumentos sobre como o desempenho financeiro dos incumbentes poderá afectar o comportamento dos eleitores aquando da votação eleitoral. De acordo com os autores, as atitudes dos eleitores perante as políticas financeiras promovidas pelos incumbentes podem ser sintetizadas em duas abordagens distintas, conforme demonstra, de forma resumida, a Tabela 4.1. A diferença entre estas duas abordagens reside na adopção de decisões financeiras prudentes versus imprudentes, incluindo o curto e o médio e longo prazo.

Tabela 4.1. Principais Abordagens sobre o Desempenho Financeiro e a Reeleição

Abordagens Argumentos

Fiscal illusion

Eleitores Apoiam políticas financeiras que originam elevados défices orçamentais e dívidas públicas.

Visão simplista dos interesses dos eleitores e dos incumbentes.

Os eleitores são racionais e prospectivos. O papel eleitoral dos grupos de interesses.

Incumbentes Têm incentivos para manipular as decisões financeiras.

As decisões financeiras aumentam a probabilidade de reeleição dos incumbentes. Fiscal

conservatism

Eleitores Não apoiam políticas financeiras que originam elevados défices orçamentais e dívidas públicas.

Os eleitores são racionais e bem informados.

Incumbentes A promoção de decisões financeiras imprudentes é sancionada eleitoralmente. Características institucionais e culturais. As decisões financeiras não aumentam a probabilidade de reeleição dos incumbentes.

A primeira abordagem – fiscal illusion – argumenta que os eleitores apoiam as políticas públicas que geram elevados défices orçamentais e dívidas públicas e que tais políticas aumentam a probabilidade de reeleição dos incumbentes. Os verdadeiros custos e benefícios das decisões governamentais são frequentemente interpretados de forma incorrecta, criando incentivos para os incumbentes

manipularem as decisões financeiras (Eslava, 2006; Fitoussi e Saraceno, 2008; Maher e Johnson, 2008; Venes, 2011). A noção de fiscal illusion implica que os eleitores além de não compreenderem na sua totalidade o orçamento público são, constantemente, enganados pelos políticos (Eslava, 2006). Esta primeira abordagem é sustentada por diferentes argumentos. Um dos argumentos considera uma visão muito simplista sobre os interesses quer dos eleitores quer dos incumbentes. Por um lado, e tendo em conta que os eleitores apoiam políticas públicas que criem elevados défices orçamentais, estes preferem um nível reduzido de impostos e um elevado nível de despesas públicas, usufruindo, desta forma, de um maior número de serviços e de melhor qualidade e elegem os incumbentes que satisfaçam estas preferências. Por outro lado, e face a esta concepção sobre os eleitores, os incumbentes adoptam comportamentos oportunistas, implementando tais políticas públicas de forma a aumentar a probabilidade de reeleição (Nordhaus, 1975). Segundo Brender e Drazen (2006) e, de acordo com esta visão, os eleitores ou são míopes ou não se preocupam o suficiente com as implicações futuras daquele tipo de políticas públicas. Conforme atenta Venes (2011), esta aparente miopia provocada pela falta de transparência orçamental tende a aumentar a confusão por parte dos eleitores, reduzindo o incentivo para os políticos serem financeiramente responsáveis.

O segundo argumento considera que mesmo na presença de eleitores racionais e prospectivos, estes poderão não sancionar os incumbentes que adoptam políticas públicas financeiramente imprudentes (Brender e Drazen, 2006). Como é possível conciliar a existência de políticos oportunistas e eleitores racionais? Uma possível resposta a esta questão foca-se nos modelos apresentados por Rogoff e Siebet (1988) e Rogoff (1990). Segundo os autores, a racionalidade dos eleitores baseia-se numa informação imperfeita e, nesse contexto, aceitam elevados níveis de despesa pública ou reduzidos montantes de impostos, acreditando que os incumbentes na execução destas políticas necessitam de incorrer em elevados défices orçamentais e que no longo prazo estas políticas resultarão em crescimento e ganhos de eficiência. Mais uma vez, os políticos incumbentes têm incentivos e adoptam estratégias para manipularem, intencionalmente, as políticas financeiras com o intuito de obter um maior número de votos (Maher e Johnson, 2008; Venes, 2011).

Conforme refere Eslava (2006), os eleitores ao possuírem informação imperfeita sobre o nível de competência dos incumbentes implica que no contexto de avaliação eleitoral aqueles considerem mais competente um incumbente que tenha desenvolvido um maior número de serviços públicos em

detrimento de um incumbente tido como financeiramente mais rigoroso. Nesse sentido, é possível encontrar uma explicação para a manipulação racional dos défices financeiros: os eleitores são incapazes de observar e analisar todos os detalhes do orçamento público. Tal como sugerem Rogoff (1990) e Shi e Svensson (2006), respectivamente, os eleitores ou observam apenas parte dos programas públicos desenvolvidos pelos partidos incumbentes (despesas públicas mais visíveis ao eleitorado) ou mesmo que tenham conhecimento de todos os programas alguns eleitores podem não estar totalmente informados sobre o equilíbrio financeiro das contas públicas.

Um outro argumento sustentado por esta teoria, tem como base modelos mais sofisticados que incidem sobre o papel que os grupos de interesse desempenham na sociedade, colocando de parte a miopia dos eleitores e a necessidade de informação. Assim, de acordo com estes modelos e, numa tentativa de ganhar apoio eleitoral, os incumbentes procuram satisfazer as exigências de determinados grupos de interesse de forma a manter o seu apoio eleitoral, implicando um nível de défice orçamental acima do que seria considerado óptimo (Brender e Drazen, 2006). O estudo desenvolvido por Drazen e Eslava (2006) incide precisamente sobre a tentativa dos políticos incumbentes atingir grupos específicos de eleitores. Aqueles podem tentar influenciar os eleitores direccionando os gastos públicos para grupos específicos, de forma a aumentar a popularidade e, consequentemente, a probabilidade de reeleição.

A abordagem oposta – fiscal conservatism – segue as orientações de Niskanen (1975) e de Peltzman (1992), sustentando que os eleitores não são sensíveis à adopção de decisões financeiras imprudentes. Em suma, aumentar as despesas públicas e incorrer em défices orçamentais parece não aumentar a probabilidade de reeleição dos incumbentes que promovam tais políticas, podendo inclusive prejudicar tal reeleição. Partindo do pressuposto de que os eleitores são racionais e que têm acesso à informação, além de estarem mais conscientes das restrições orçamentais dos governos, vêm os défices orçamentais como onerosos e redutivos do bem-estar social. Neste sentido, os eleitores tendem a reprovar eleitoralmente tais défices, especialmente nos países onde é necessário reduzir a dívida pública, como é o caso, actualmente, de muitos países desenvolvidos, incluindo Portugal (Brender e Drazen, 2006 e 2005b). Além destes argumentos, Peltzman (1992) argumenta que os eleitores são “fiscal conservatives”, ou seja, não aprovam elevados níveis de despesas públicas e sancionam os incumbentes que promovem esse aumento, mesmo quando as despesas não provocam elevados défices orçamentais.

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