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Principais Atividades Responsáveis pela Contaminação das Águas

De acordo com FOSTER et al. (1987), os maiores e mais sérios riscos de contaminação das águas subterrâneas estão relacionados aos sistemas de saneamento sem coleta e tratamento, às atividades agrícolas, à infiltração de águas contaminadas provenientes de rios e a várias atividades industriais, especialmente aquelas com disposição de efluentes líquidos.

A qualidade dessas águas vem sofrendo degradação à medida que o homem ocupa o solo, gerando efluentes e/ou resíduos domésticos e industriais, dispostos no meio ambiente sem tratamento ou de forma inadequada. Outro fator agravante é a impossibilidade de recuperação de aqüíferos muito contaminados, principalmente quando os contaminantes são extremamente tóxicos, como os compostos organo- sintéticos. Em vários países as tentativas de limpeza têm demonstrado que os resultados obtidos são muito limitados. O problema, além de econômico, é principalmente de ordem técnica, pois até então não existem métodos que permitem a remoção completa de produtos contaminantes dos aqüíferos. Diante deste panorama, chega-se à conclusão que o melhor caminho é a prevenção da contaminação. A preservação consiste em estabelecer-se um programa claro e eficiente de proteção de aqüíferos e de controle das atividades humanas, planejando-se e ordenando-se a ocupação e o uso do solo. A identificação das áreas com maior risco de degradação dos aqüíferos é condição essencial para o desenvolvimento de estratégias que visem à preservação dos recursos hídricos, priorizando a aplicação de recursos técnicos e financeiros nos locais de maior interesse socioeconômico e ambiental.

É conveniente lembrar que em grande parte da bacia do rio Araranguá o maior comprometimento das águas subterrâneas está relacionado às diversas atividades de lavra e beneficiamento de carvão.

A poluição hídrica causada pela drenagem ácida é provavelmente o impacto mais significativo das operações de mineração e beneficiamento do carvão mineral. Essa poluição decorre da infiltração da água de chuva sobre os rejeitos gerados nas atividades de lavra e beneficiamento, que alcança os corpos hídricos superficiais e/ou subterrâneos. Essa água adquire baixos valores de pH (<3), altos valores de ferro total, sulfato total e vários outros elementos tóxicos que impedem a sua

utilização para qualquer uso e destroem a flora e a fauna aquáticas (ALEXANDRE; KREBS, 1995). Também há potencial de contaminação do solo e subsolo em áreas não recobertas por material oriundo da mineração. Isso ocorre através da inundação de regiões não contaminadas com águas de drenagens ácidas e pelo avanço da pluma de poluição, a partir das áreas já poluídas. Nas proximidades de Criciúma, onde ocorre uma grande concentração de indústrias com alto potencial poluidor e uma alta concentração urbana, o comprometimento das águas superficiais e de parte das águas subterrâneas é ainda maior devido à interferência destas outras fontes de poluição.

FOSTER et al. (1987) ressaltam ainda que as ameaças mais sérias no tocante à orientação da OMS, no que se refere à qualidade da água potável, relacionam-se às concentrações de nitratos que se incrementam em grandes proporções e, mais ainda, a episódios cada vez mais freqüentes de contaminação causada por hidrocarbonetos halogenados voláteis.

Sob certas condições hidrogeológicas, algumas unidades de tratamento de esgoto apresentam riscos de uma migração de bactérias e vírus patogênicos para o interior dos aqüíferos e fontes de água subterrânea, sendo responsáveis pela transmissão de agentes patogênicos em surtos de epidemia. Os compostos de nitrogênio nos excrementos não representam um perigo imediato para as águas subterrâneas. Porém, podem causar problemas mais amplos e persistentes. Ainda de acordo com FOSTER et al. (1987), uma população de 20 pessoas/ha representa uma descarga de cerca de 100 kg/ha/a ao solo que, oxidada e lixiviada, com 100mm/a de infiltração, poderá resultar uma recarga local de água subterrânea com uma concentração de 100 mg de NO3-N/l. É provável que provoque maiores

problemas em zonas áridas que não têm um significativo fluxo regional no aqüífero. A magnitude no incremento da concentração de nitrato em águas subterrâneas foi constatada na ilha atlântica de Bermudas, onde se verificou que existe uma relação entre a densidade da população servida por fossas sépticas e os altos níveis de nitrato nas águas subterrâneas. Caso semelhante também foi verificado na área de Merida, na península de Yucatã, no México.

Caso bem mais grave relacionado a altas concentrações de nitratos foi verificado no aqüífero de Puelche, junto à cidade de Buenos Aires. O referido aqüífero relaciona-se a depósitos arenosos estuarinos e marinhos, onde foram observados 40 mg de NO3-/l. Cerca de 60% da população da grande Buenos Aires

utilizam fossas sépticas. De acordo com FOSTER et al. (1987), supõe-se que a oxidação de amônia das descargas dos tanques sépticos é a principal causa da contaminação por nitrato das águas subterrâneas. Ressaltam, porém, que ocorrem outras significativas fontes de poluição as quais poderão também estar contribuindo.

BORGES (1996), estudando o aqüífero do Campeche, na Ilha de Santa Catarina, detectou valores do íon amônia acima do permitido pelo Ministério da Saúde em 18 pontos amostrados, sendo que em 6 deles os teores foram muito superiores ao valor máximo permitido. O referido autor constatou que os valores anômalos situavam-se em uma área bem definida e provavelmente estavam relacionados à criação de cavalos que havia em um sítio. BORGES (1996) apresenta uma síntese dos componentes químicos presentes na água que afetam a saúde humana. Ressalta ainda a contaminação das águas devido à intrusão salina dentro do aqüífero.

O uso de fertilizantes, herbicidas e pesticidas nas atividades agrícolas também é outro importante fator de contaminação dos recursos hídricos. Nos países industrializados é mais freqüente o uso de fertilizantes inorgânicos, produzidos industrialmente, enquanto que nos países em desenvolvimento empregam-se geralmente dejetos humanos ou de animais como fertilizantes orgânicos.

Dentre os fertilizantes, o principal contaminante é o nitrogênio na forma de nitrato. O nitrato move-se com a água subterrânea e pode atingir extensas áreas. Concentrações superiores aos limites permissíveis para a água potável são encontradas em muitas regiões agrícolas do mundo como, por exemplo, na Inglaterra (FOSTER; CREASE, 1972), Alemanha (GROBA; HAHN, 1972) e Estados Unidos (SPALDING et al., 1978).

GAUJOUS (1993), estudando a vulnerabilidade de sistemas aqüíferos na França, ressalta, em particular, a forte vulnerabilidade daqueles aqüíferos relacionados aos leques aluviais. Alguns são objeto de um cuidado específico (planície do Reno, Mosele, leste de Lyon) devido a problemas de poluição por fontes difusas, relacionadas a atividades agrícolas (nitratos, pesticidas).

O referido autor conclui que é conveniente realizar-se uma vigilância muito grande sobre a evolução da qualidade das águas subterrâneas, garantir dispositivos da preservação da qualidade (perímetros de proteção) e lembrar-se do caráter pernicioso (fenômenos hidrogeológicos longos, micro poluentes) de certas fontes de poluição.

Sempre de acordo com GAUJOUS (1993), as principais fontes de poluição dos lençóis subterrâneos na França são nitratos, pesticidas e tóxicos. No caso da poluição por nitratos, as principais causas são poluição doméstica e industrial, agricultura e criação (chiqueiros de porco na Bretanha) e poluição atmosférica. O aumento do teor em nitratos é constatado em toda a França. Os problemas são freqüentemente difusos.

Os problemas para a saúde são a transformação dos nitratos em nitritos no estômago dos lactentes, o que causa um problema de oxigenação do sangue e um risco cancerígeno (por transformação em nitrosamina).

Sob certas condições, os nitratos desaparecem naturalmente nas águas subterrâneas. É o caso da seqüência de calcário ao sul de Lille, onde se observa uma brusca redução dos nitratos quando o aqüífero passa sob cobertura argilo- arenosa. Esta redução se deve a fenômenos bacterianos.

No caso da poluição por pesticidas, alguns são encontrados em doses críticas nas águas subterrâneas. É o caso da atrazina. É uma poluição difusa, com doses muito fracas. Este problema é muito preocupante para o abastecimento da água potável, mesmo se pensando que certos limites legais são atualmente muito rígidos em relação ao risco sanitário efetivo e que estudos toxicológicos e epidemiológicos mais avançados poderão, no futuro, modular-se à norma atual (1 µg/l), segundo as substâncias identificadas.

No caso dos tóxicos, trata-se geralmente de poluição pontual, de caráter “acidental”, de natureza e de origem diversas. Uma causa freqüente é a infiltração de resíduos estocados (em descargas, em áreas industriais). O problema surge por ocasião da localização e identificação das substâncias, com vistas à busca das origens e da responsabilidade. Por exemplo, uma poluição em Ilzach (planície da Alsácia) conduziu a litígios com os industriais durante vários anos (GAUJOUS, 1993).

Por sua vez, o impacto da agricultura irrigada sobre as águas subterrâneas pode ser muito grande. Em algumas zonas áridas com solos permeáveis, o cultivo das terras com sistemas ineficientes de irrigação tem gerado, como efeito, um novo recurso de água subterrânea. A sobre-irrigação, contudo, pode causar grandes incrementos no nível freático e resultar na salinização do solo e da água subterrânea devido à evaporação freática direta (FOSTER et al., 1987).

irrigado e, de maneira subordinada, fumo e maracujá, que utilizam grandes quantidades de fertilizante e de pesticida. Os trabalhos de campo desenvolvidos neste estudo, mais uma vez evidenciaram que grande parte das áreas de rizicultura é irrigada com águas ácidas aduzidas do rio Mãe Luzia. Esta prática continua causando uma recarga artificial do aqüífero relacionado aos Depósitos de Leques Aluviais e, conseqüentemente, contribuindo para a degradação do referido aqüífero.

Na área costeira, onde ocorrem excelentes sistemas aqüíferos relacionados aos depósitos arenosos de origem praial e retrabalhamento eólico, existe um sério risco de contaminação das águas subterrâneas devido à possibilidade de avanço da cunha salina, que poderá ser ocasionado pela sobre-explotação do referido aqüífero. Durante a fase de cadastramento de pontos de água (SANTA CATARINA, 1997e), constatou-se que nas proximidades de Araranguá a maioria das indústrias capta água destes aqüíferos para suprir suas demandas, utilizando sistemas integrados de ponteiras (corresponde a várias ponteiras interligadas, explotadas por uma única bomba). Na região balneária, praticamente todo o abastecimento doméstico é realizado utilizando-se poços-ponteiras. Com o passar do tempo o bombeamento constante pode deslocar a cunha salina e contaminar os aqüíferos.