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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2 Cooperação Universidade-Empresa-Governo

2.2.3 Canais de Transferência de Tecnologia

2.2.3.2 Principais Canais de Transferência de Tecnologia

A cooperação universidade-empresa ocorre através do arranjo de diferentes relações entre os atores, a saber, universidade, empresa e governo, e principalmente nos canais de transferência de conhecimento. O conhecimento desenvolvido na universidade, aliado ao nível tecnológico da empresa influencia, não só como os atores se relacionam entre si, mas também os canais de transferência de conhecimento utilizados (ZAWISLAK; DALMARCO, 2011).

Mecanismos de transferência de tecnologia e conhecimento são mecanismos que visam criar condições e facilidades para o avanço tecnológico, permitindo a transferência de dados, informações, conhecimento e tecnologia entre universidades, centros de pesquisas, laboratórios e empresas. Estes visam criar condições e facilidades que permitam maior fluidez nas relações com a sociedade e, especialmente, no processo interação universidade-empresa (COHEN; NELSON; WALSH, 2002).

Nesta perspectiva, como forma de levar o conhecimento científico produzido na universidade para as empresas e, consequentemente, para a sociedade, vários canais de transferência de tecnologia são abordados nos trabalhos que envolvem o tema cooperação universidade-empresa. Conforme Cohen, Nelson e Walsh (2002) a escolha e utilização dos canais para transferência de conhecimento dependem das características individuais destes, tais como o grau de codificação, facilidade de aplicação ou possibilidade de transferência por meio das relações pessoais.

Como descrevem Cohen, Nelson e Walsh (2002), os canais utilizados para a transferência de tecnologia dependem do propósito da relação. Por sua vez, Schrtinger et al. (2002) e Bekkers e Freitas (2008) relatam a reduzida influência dos setores produtivos nos canais utilizados, sendo as características individuais do conhecimento mais importantes, enquanto D’Este e Patel (2007) afirmam que as características pessoais dos pesquisadores, como idade, cargo e experiência prévia em pesquisa conjunta influenciam os canais utilizados.

Alguns autores apresentam as spin-offs como um caminho alternativo para a transferência de tecnologia da universidade para o mercado, que não envolve a interação com empresas já estabelecidas (COSTA; TORKOMIAN, 2008; SCHARTINGER ET AL., 2002; BEKKERS; FREITAS, 2008; DUTRÉNIT; ARZA, 2010). Inicialmente, a universidade transfere a tecnologia para as spin-offs e, depois, estes transferem para seus consumidores,

completando o fluxo de transferência e beneficiando a sociedade (ZAWISLAK; DALMARCO, 2011).

Costa e Torkomian (2008) e Mowery, Sampat e Ziedonis (2002) evidenciam que as

spin-offs acadêmicas, advindas dos resultados das pesquisas acadêmicas, proporcionam a

geração de empregos altamente qualificados com geração de riqueza para a sociedade e intensificação da capacidade inovativa da indústria nacional.

Analisando os dados de um survey com 1.478 laboratórios de P&D de empresas do setor de manufatura dos EUA que avalia como as empresas protegem os lucros decorrentes das suas invenções, Cohen, Nelson e Walsh (2002) mostram que na maior parte das empresas, o patenteamento e licenciamento não são considerados como mecanismos de transferência de tecnologia importantes. Setores de alta tecnologia, como equipamentos de comunicação e aeroespacial, indicaram a importância das patentes como sendo, no máximo, moderada. A indústria farmacêutica foi a principal a considerar as patentes e licenciamentos como mecanismos pelo menos moderadamente importante.

Os autores concluíram que os canais de transferência de tecnologia mais importantes para que as universidades tenham um impacto sobre a P&D industrial são os mecanismos informais e publicação de artigos e relatórios. Para Póvoa e Rapini (2011) a patente parece ser necessária para a realização da transferência de tecnologia apenas em circunstâncias bastante restritivas, sendo que, somente alguns setores industriais a consideram um mecanismo eficaz de apropriação, pois depende da característica da invenção (se é processo ou produto) e se está em seu estágio embrionário ou acabado.

O estudo de Pinho (2011) sobre a relevância da relação universidade-empresa no Brasil evidencia que, pesquisa conjunta, publicações, contratação de pessoal, conferências, troca informal de informações e pesquisa encomendada são meios de interação que superam por boa margem a relevância de instrumentos usuais de transferência de tecnologia, como licenciamento de tecnologia, incubadoras, parques tecnológicos e spin-offs. O autor argumenta que os resultados para o Brasil são consistentes, como os encontrados por Cohen, Nelson e Walsh (2002) que identificaram o licenciamento de tecnologia como o segundo menos importante numa lista de dez canais de conexão entre universidades e empresas.

Como observado, é através dos canais de transferência que os atores se relacionam, aplicando o conhecimento científico no mercado. Nesta perspectiva, vários são os canais utilizados para a transferência de tecnologia e conhecimento, embora muitos sejam complementares, os principais canais descritos pelos autores podem ser resumidos em feiras e congressos, relações informais, contratação de alunos, spin-off, patentes, palestra/treinamento

e consultoria. Diante disto, o Quadro 3 apresenta os principais canais de transferência de conhecimento e os autores que os citam, demonstrando que, apesar de variar conforme o enfoque do estudo e do autor, no geral são complementares.

Quadro 3 – Trabalhos com discussão sobre os canais de transferência de conhecimento Canais de transferência de conhecimento Referências

Contratação de alunos

Schartinger et al (2002); Cohen; Nelson; Walsh (2002); Bekkers; Freitas (2008); Dutrénit; Arza (2010); Fernandes et al. (2010); Zawislak; Dalmarco (2011); Pinho (2011) Feiras e congressos Schartinger et al (2002); Cohen; Nelson; Walsh (2002); D’Este; Patel (2007); Bekkers; Freitas (2008); Zawislak;

Dalmarco (2011) Nova empresa formada por pesquisadores científicos

(Spin-off)

Schartingeret et al. (2002); Bekkers; Freitas (2008); Dutrénit; Arza (2010); Fernandes et al. (2010); Zawislak; Dalmarco (2011); Pinho (2011)

Relações informais Cohen; Nelson; Walsh (2002); Bekkers; Freitas (2008); Dutrénit; Arza (2010); Fernandes et al. (2010); Zawislak; Dalmarco (2011); Pinho (2011)

Pesquisa realizada em conjunto com a universidade Schartingeret et al. (2002); D’Este; Patel (2007); Bekkers; Freitas (2008); Zawislak; Dalmarco (2011); Pinho (2011)

Palestra em universidades, realizadas pela empresa Schartinger et al (2002); Dutrénit; Arza (2010)

Contrato de pesquisa Schartinger et al (2002); Cohen; Nelson; Walsh (2002); D’Este; Patel (2007); Bekkers; Freitas (2008); Fernandes et al. (2010); Zawislak; Dalmarco (2011)

Consultoria Schartinger et al (2002); Cohen; Nelson; Walsh (2002); D’Este; Patel (2007); Bekkers; Freitas (2008); Fernandes et al. (2010); Zawislak; Dalmarco (2011); Pinho (2011)

Joint Ventures Cohen; Nelson; Walsh (2002)

Utilização das instalações da universidade por parte

das empresas Schartinger et al (2002); Bekkers; Freitas (2008); Zawislak; Dalmarco (2011)

Treinamento de pesquisadores acadêmicos Schartinger et al (2002); D’Este; Patel (2007)

Treinamento de pesquisadores da empresa Bekkers; Freitas (2008)

Patentes

Cohen; Nelson; Walsh (2002); Bekkers; Freitas (2008); Dutrénit; Arza (2010); Fernandes et al. (2010); Pinho (2011)

Licenciamento de tecnologia Schartinger et al. (2002); Cohen; Nelson; Walsh (2002); Bekkers; Freitas (2008); Dutrénit; Arza (2010); Fernandes et al. (2010); Zawislak; Dalmarco (2011); Pinho (2011)

Publicações conjuntas Schartinger et al (2002); Zawislak; Dalmarco (2011)

Contratação de pesquisadores Bekkers; Freitas (2008)

Mobilidade de pesquisadores entre universidade e

empresa Schartinger et al (2002); Zawislak; Dalmarco (2011)

Publicações científicas Cohen; Nelson; Walsh (2002); Bekkers; Freitas (2008); Dutrénit; Arza (2010); Fernandes et al. (2010); Pinho (2011)

Financiamento de projetos de doutorado Bekkers; Freitas (2008)

Compra de protótipo Zawislak; Dalmarco (2011)

Parque científico/ tecnológico Dutrénit; Arza (2010); Fernandes et al. (2010); Pinho (2011)

Participação em redes que envolvem universidades Pinho (2011)

Incubadoras Dutrénit; Arza (2010); Fernandes et al. (2010); Pinho (2011)