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Capítulo 6 – Conclusões e pesquisa futura

6.1. Principais conclusões

Apesar da tendência de decréscimo, a doença arterial coronária permanece como uma das principais causas de morte no mundo, não obstante, grande parte destas mortes são evitáveis pela modificação do estilo de vida, diminuição de fatores de risco e o envolvimento do doente na vigilância do seu estado de saúde.

A crescente demanda por serviços de saúde capazes de providenciar cuidados de qualidade em tempo útil, associada ao aumento da influência das doenças crónicas entre as populações, torna essencial capacitar e promover um maior interesse na gestão da própria doença. Paralelamente é desejável a deteção precoce por parte dos profissionais de saúde de eventos de agudização, prevenindo internamentos e agravamentos do estado de saúde das pessoas.

Numa sociedade em que as TIC são omnipresentes, em todos os domínios, até que ponto o seu poder de quebrar barreiras espaciais, temporais e institucionais pode ser aplicado para melhorar a gestão da doença arterial coronária?

Poderão estes profissionais promover o uso das TIC e potenciar os benefícios que estas oferecem, por exemplo com dispositivos wearable e aplicações móveis de saúde, que ajudam na vigilância e promoção do estado de saúde do doente coronário?

O ponto de partida para esta investigação surgiu de uma dúvida pessoal, enquanto profissional de saúde: Qual a importância que os profissionais de saúde atribuem às TIC na promoção e vigilância do estado de saúde de pessoas com doenças coronárias diagnosticadas? Para responder, planeámos uma investigação com duas fases – uma primeira, exploratória (partido da realização de focus group) - de índole qualitativa - e, a segunda, inferencial - seguindo uma metodologia tipicamente quantitativa.

Os resultados obtidos demonstram que, globalmente, as TIC desempenham um papel bastante importante no quotidiano dos profissionais de saúde, seja em aspetos relativos à sua vida pessoal, seja no seu local de trabalho, estando estes resultados alinhados com estudos anteriores relativos ao uso das TIC no contexto da vida pessoal por profissionais de saúde (Gund et al., 2012).

Sendo os smartphones omnipresentes no nosso quotidiano e em muitos aspetos das nossas vidas (Khan et al., 2017), os resultados da nossa investigação, comprovaram que o dispositivo que mais utilizam no acesso às TIC, e com grande frequência diária, é o smartphone - para fins como a consulta do email, a interação em aplicações de chat (p.e. WhatsApp), interagir em redes sociais (p.e. Facebook) e pesquisar informação - sendo os Enfermeiros, os profissionais quem mais frequentemente recorre às TIC para efetuar esta ação.

Por outro lado, os dispositivos tecnológicos que menos usam são os tradicionalmente associados ao lazer, como as consolas de jogo, “Smartbands” e “Smartwatchs”; como tal, jogar e monitorizar a atividade física são ações fracamente referenciadas.

Apesar da literatura sugerir a existência de sentimentos de barreira ou sugestivos de relutância dos profissionais de saúde para a adoção de novas formas de trabalho (Gund et al., 2012), os resultados da nossa investigação, ao nível da prática diária em saúde, demonstram que as TIC são percecionadas como muito importantes.

Adicionalmente verifica-se um reconhecimento de grande potencial para otimização dos processos de trabalho, com margem de crescimento e maturação dentro das organizações. Existem diferenças neste domínio ao nível do grupo etário, estando os profissionais de saúde com idade entre os 22 e os 35 anos, tendencialmente mais propensos a valorizar o papel das TIC no contexto Organizacional e na prática diária. Paralelamente ocorre maior atribuição de importância a estas tecnologias no contexto da prática diária, por parte das Enfermeira/os. Salienta-se ainda que quanto mais frequente é o uso das TIC para pesquisa de informação, maior é a concordância para questões relacionadas com a envolvência das TIC na prática diária.

A cibersegurança é uma temática pouco falada no setor da Saúde, existindo um sentimento neutro em relação à confiança na segurança dos dispositivos wearables a ataques informáticos.

Em consonância com a atribuição às TIC, por parte da OMS, de um cariz essencial ao bom funcionamento dos serviços de saúde (World Health Organization, 2017a), globalmente, os profissionais de saúde consideram as TIC bastante importantes na efetiva vigilância e promoção do estado de saúde do doente coronário. Verifica-se também que quanto maior a concordância sobre o relacionamento das TIC com a doença arterial

coronária, maior é a valorização da importância das TIC na organização e a valorização de aspetos numa aplicação móvel de saúde, relacionados com a avaliação, monitorização e vigilância e com a comunicação entre doente e profissional de saúde.

Pensando nos programas de acompanhamento à distância, estes profissionais, percecionam não só, vantagens para si, mas também para a pessoa com doença coronária que poderá obter por esse meio uma maior consciencialização acerca do seu estado de saúde. Contudo ainda se regista uma reduzida aplicação das possibilidades conferidas por via das TIC para comunicar com o doente à distância, no contexto da doença coronária.

Os profissionais de saúde também valorizam o modo automático como os sinais vitais são avaliados e colhidos pelos dispositivos wearable, apesar da sua aplicação prática, em contexto clínico e a par com as aplicações móveis de saúde para efeitos de vigilância e acompanhamento da pessoa com doença coronária, ser, atualmente, segundo os dados obtidos, praticamente inexistente.

Ainda assim, os profissionais de saúde reconhecem um grande potencial de crescimento nas TIC e na sua utilidade para monitorização à distância, para fins de vigilância e promoção do estado de saúde da pessoa com doença arterial coronária. Como características ou funcionalidades para uma possível aplicação móvel, são valorizadas mais fortemente a monitorização de sinais vitais colhidos por dispositivos integrados com a aplicação móvel e a avaliação do cumprimento das terapêuticas prescritas e dos exercícios de reabilitação cardíaca.

Como critérios de adesão num programa de acompanhamento destas pessoas, são fortemente valorizados - sobretudo pelos profissionais de Enfermagem - os antecedentes pessoais clínicos como a história prévia de enfarte agudo do miocárdio e a doença arterial coronária diagnosticada. É ainda atribuída especial importância como critério de adesão, a envolvência da pessoa em programas de reabilitação cardíaca em consonância com a funcionalidade de avaliação do cumprimento dos exercícios associados a esses programas de reabilitação.

Adicionalmente, quanto maior for a valorização da avaliação, monitorização e vigilância, maior é a importância atribuída aos antecedentes pessoais clínicos, a sinais vitais ou sintomas relacionados com a monitorização cardíaca e com a atividade, peso e dor, no acompanhamento à distância do doente coronário.

Para os profissionais de saúde, um programa de monitorização destas pessoas deve integrar dispositivos capazes de colher sinais vitais que estejam diretamente relacionados com a função cardíaca, como a pressão arterial e a frequência cardíaca. São também valorizados sinais vitais relacionados com eventos de agudização da doença, como a perceção de dor do doente e alterações no traçado cardíaco.