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4. Capítulo 3: O método de Culture Jamming e The Yes Men em Bhopal

4.1. Método: definições

4.1.2. Principais culture jammers

Existem grupos de ativistas em diversas partes do mundo que utilizam o método de

culture jamming, mas o seu uso é mais recorrente na Europa e nos Estados Unidos. Como culture jamming é um método, o objetivo de cada grupo pode variar. Por exemplo, o grupo de

ativistas que será analisado neste trabalho, The Yes Men, usa o método para criticar o modelo de globalização liberal. Já o grupo responsável pela revista Adbusters é preocupado com o consumismo.

Entre os diversos grupos de culture jammers, existem quatro mais famosos: The Yes

Men, Adbusters Media Foundation (AMF), The Billboard Liberation Front e The Illegal Art exhibit. O último é uma exposição de arte que procura protestar o endurecimento das leis de copyright. As organizadoras ressaltam que não querem que essas leis sejam abolidas, já que as

consideram fundamentais para dar segurança aos artistas. O objetivo é demonstrar que as leis de copyright ficaram severas demais, atrapalhando o processo criativo que foram criadas para proteger.

Um exemplo do endurecimento de copyright apresentado por Nomai (2008) é a Disney. Os estúdios Disney, em grande parte, devem seu sucesso a releituras dos Contos dos Irmãos Grimm, que eram domínio público. Porém, em 1999, quando os direitos para o Mickey estavam para se tornarem de domínio público, a Disney conseguiu lançar e aprovar um projeto de lei nos Estados Unidos, estendendo os direitos de copyright de 18 à 70 anos. Com isso, impediam que outros artistas fizessem com o estúdio o que Walt Disney fez com os Irmãos Grimm.

Os artistas que expõem na The Illegal Art exhibi34 acreditam que a lei de copyright

deve existir para proteger artistas contra a exploração, mas no formato adotado acaba impedindo o processo criativo, pois por temerem processos e não contarem com recursos para financiar sua defesa (ao contrário dos detentores de copyright), muitos artistas acabam preferindo não fazer alguma obra (NOMAI, 2008).

34 A exposição da The Illegal Art exhibt é itinerante, mas pode ser vista em seu site:

Já foi apresentada uma peça da The Billboard Liberation Front quando explicou-se o

culture jamming do tipo “alteração de outdoors”. O grupo não defende o fim de outdoors; o

que eles combatem é o monopólio dos anúncios por parte de grandes empresas. Na visão deles, suas alterações são uma forma de tomar para si os outdoors, e em seu site ensinam como qualquer pessoa pode alterar um outdoor para ser mais parecido com a sua visão, como uma forma de democratizar o espaço outdoor (NOMAI, 2008).

Vale ressaltar, que nem todas as alterações dos outdoors têm objetivo político, e é um tanto complicado definir em alguns casos se os colaboradores da The Billboard Liberation

Front tiveram qualquer pretensão além de fazer piada; muitos deles, quando entrevistados ou

em seus próprios posts, tendem a dar respostas sarcásticas35.

A Adbusters Media Foundation (AMF) foi criada em 1980, no Canadá, quando Kalle Lasn e Bill Schmalz, unidos a ativistas ambientais, perceberam que empresas madeireiras estavam fazendo anúncios, que na opinião dos ativistas, diminuía e reduzia a importância os impactos do desmatamento. Logo, Lasn e Schmalz criaram um anúncio publicitário com a visão dos ativistas, mas o canal Canadian Broadcast Corporation (CBC) se recusou a vender espaço de propaganda para eles.

Com isso, Lasn e Schmalz resolveram criar o próprio espaço, a revista Adbusters, para protestar contra a cultura e a ideologia dominantes e oferecer um espaço para novas vozes. O ponto focal do grupo é o protesto contra o pensamento corporativo, principalmente nos quesitos consumismo e globalização. Segundo Nomai (2008), desde o Atentado das Torres Gêmeas, a AMF tem contestado também a expansão do exército estadunidense pelo mundo.

Já o grupo The Yes Men, autor do culture jamming referente a Bhopal que será abordado na Seção 4.2, foi criado por Andy Bichlbaum e Mike Bonanno36, e define-se como:

[...] um grupo que usa qualquer meio necessário para concordar sua entrada em áreas fortificadas de comércio, e contrabandear histórias das suas operações secretas para oferecer uma visão de por trás das cenas do universo de grandes negócios. As histórias são frequentemente chocantes e engraçadas. [...] The

Yes Men já personificou a Organização Mundial de Comércio, Dow Chemical

35 Um exemplo disso é o próprio Manifesto (http://www.billboardliberation.com/manifesto.html) que ao adotar

uma linguagem sarcástica em vários pontos dificulta o entendimento da mensagem.

36 São os pseudônimos que os ativistas adotam como The Yes Men, seu nomes verdadeiros são Jacques Servin e

Corporation e a administração Bush na televisão e conferências ao redor do mundo. Eles fazem isso (a) para demonstrar alguns dos mecanismos que mantém pessoas e ideias más no poder, e (b) porque é incrivelmente divertido. Seu objetivo fundamental é chamar a atenção para os perigos de práticas econômicas que colocam o direito do capital acima das necessidades das pessoas e do meio-ambiente (THE YES MEN, 2015, tradução nossa, ênfase nossa)37.

Da citação acima, pode-se notar três características fundamentais do grupo The Yes

Men. Primeiro, a justificativa do nome do grupo. O nome é The Yes Men por conta da forma

que os ativistas utilizam para convencer o público que são representantes de corporações (ou outros atores que o grupo acredita que coloquem "direito do capital" como prioridade), concordando com quem pretendem criticar. Ou seja, o grupo adota uma versão extremada das posições originais, que é frequentemente puxada para o humor, já que tendem a levar a posição original para a conclusão lógica mais absurda possível.

Por último, destaca-se o objetivo do The Yes Men. O grupo, ao se passar por representantes de companhias, procura expor as práticas que consideram não serem justas ou responsáveis. Desde 2010 o grupo parou de agir diretamente e criou o Yes Lab38 e o Action

Switchboard39. As duas iniciativas continuam o objetivo inicial do grupo, mas ao invés de agir diretamente dão apoio a outros ativistas, oferecendo um espaço onde podem encontrar colaboradores (Action Switchboard) e aprender técnicas ou receber dicas de como melhor realizar o protesto (Yes Lab).

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