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Principais Diferenças entre os Planos Oficiais de Contas Português e

2.2 O Novo Paradigma do Relato Financeiro IAS/IFRS

2.2.1 Principais Diferenças entre os Planos Oficiais de Contas Português e

As IFRS vêm introduzir diferenças substanciais face ao POC (Plano Oficial de Contabilidade Português).2 As principais mudanças prendem-se com a maior quantidade de informação a incluir obrigatoriamente no anexo ao balanço e à demonstração de resultados, e com o facto de haver elementos comparativos com o período anterior

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relativamente a toda a informação numérica (quadros comparativos). Há agora, por isso, mais informação face ao período homólogo imediatamente antecedente.

Uma outra alteração relevante está relacionada com o desaparecimento das contas de custos e proveitos extraordinários do plano de contabilidade. É entendido pelo IASB que todos os custos têm um carácter operacional (IAS 8). Esta alteração permite que todos os ganhos e perdas que não decorram directamente da actividade não sejam tão facilmente visíveis aos olhos dos investidores. Para os gestores é mais fácil reconhecer certo tipo de custos, que outrora eram extraordinários e como tal vinham explicitados em rubrica própria (como perdas em vendas de imobilizado e correcções referentes a anos anteriores), dado que com as IFRS estas perdas são reconhecidas em “outros custos operacionais”, tornando-os mais opacos para os investidores dada variedade de custos que são incluídos neste elemento da demonstração de resultado. O raciocínio análogo pode ser aplicado aos proveitos.

As IFRS, através da sua norma nº 3, vêm introduzir alterações muito significativas ao nível do tratamento contabilístico do goodwill. Nos planos de contas nacionais, a diferença entre o valor pago na aquisição de uma empresa e o correspondente valor da situação líquida (goodwill) deve ser amortizada num determinado período de tempo (no caso português, foi fixado um período máximo de 5 anos). Isto significa que o goodwill acarreta custos para a empresa por via da sua amortização. Com as novas normas, o valor pago pela aquisição de uma outra empresa deve ser alvo de testes de imparidade, ou seja nos anos subsequentes à aquisição a empresa deve avaliar esse seu activo e caso o valor da empresa adquirida tenha sofrido alterações de valor, tais alterações devam ser consideradas custos ou ganhos do exercício.

Esta alteração introduz grande potencial subjectividade face ao anteriormente estabelecido, pois vai obrigar à avaliação sistemática das empresas adquiridas, o que poderá ser um indutor de práticas de gestão de resultados. Esta situação tem particular importância em empresas de grande dimensão cujo crescimento tenha sido realizado à base de aquisições.

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Outra dimensão deste problema tem a ver com o facto de ser difícil distinguir o

goodwill interno do externo, isto é a dificuldade de avaliar uma empresa ou unidade de

negócio que está incorporada noutra. Pode existir dificuldade em determinar qual o valor gerado pela empresa adquirida após a data de aquisição.

Estas preocupações são salientadas por Whittington e Yamada (Membros do IASB), para quem: “... a IFRS 3 confia numa abordagem apenas da imparidade potencialmente pouco fiável que inevitavelmente não consegue separar o goodwill gerado internamente…”; “…incluir estes itens na mensuração do goodwill vai inadequadamente proporcionar ‘protecções’ contra o reconhecimento de perdas por imparidade que tenham de facto ocorrido a respeito do goodwill adquirido.” (Normas

Internacionais de Relato Financeiro (2004; p. 209 e sg.).

É também introduzido o conceito de justo valor, segundo o qual os activos (mais concretamente o imobilizado) podem estar inscritos na contabilidade ao valor de mercado, em vez do custo histórico tradicionalmente adoptado pelo POC. Assim, a empresa pode ter no seu balanço elementos de imobilizado avaliados a preço histórico e rubricas avaliadas ao preço de mercado (dado que este método de avaliação dos activos é facultativo).

O conceito de justo valor obriga as empresas a reavaliarem todos os anos os activos dessa forma contabilizados (realizando os chamados testes de imparidade) e que a valorização ou desvalorização seja reflectida nos seus capitais próprios. Tal significa que as empresas que adoptem este critério têm de registar esses activos pelo valor de mercado em 2005, e nos anos subsequentes façam avaliações para repercutirem nos resultados do ano os ganhos/perdas de valor.

As IFRS obrigam também a consolidar todas as filiais com a respectiva empresa mãe, ao invés do POC que permitia a exclusão de filiais mediante critérios de materialidade.

É importante referir que alguns activos intangíveis considerados pelo POC, devem ser considerados despesas do exercício, segundo as regras do IASB; só em casos

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excepcionais poderão ser considerados activos da empresa, pelo que não há lugar à sua amortização periódica.

Uma última diferença relevante tem a ver com a contabilização dos instrumentos financeiros. Estes, incluídos os instrumentos derivados, passam a estar valorados ao preço de mercado. Os instrumentos híbridos, como as obrigações com warrant, passam a ser registados segundo a sua substância, sendo vistas como uma carteira de instrumentos financeiros, pelo que as componentes de dívida são registadas como tal e as opções são contabilizadas à parte e ao valor de mercado.

Para Espanha, Perramon e Amat (2007) comparam o plano oficial de contas (PGC-Plan General Contable) com as IFRS, e reportam diferenças similares às atrás enunciadas para o caso português. Assim, as principais questões que podem determinar o impacto das IFRS na gestão de resultados em Portugal, são igualmente expectáveis para Espanha.

2.2.2 Vantagens e Desvantagens da Utilização das IFRS como Sistema Contabilístico