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Principais enfoques teóricos

No documento Cultura(s) nos mega agrupamentos (páginas 50-53)

A escola é uma organização social construída pelas interações das pessoas que dela fazem parte, orientadas pelos seus valores, crenças, mitos e rituais. Pode dizer-se que a escola é uma realidade construída socialmente, pela representação que dela fazem os seus membros. No decurso deste processo sociocultural, não existe uma escola igual à outra, cada uma tem a sua personalidade, embora sigam os mesmos discursos formais, os mesmos fundamentos de educação e a mesma legislação. Essa diferença de personalidade na cultura organizacional da escola, afeta grandemente o empenho e os resultados na formação e aprendizagem dos alunos. O conceito de cultura organizacional refere-se às práticas regulares e habituais da escola, a sua personalidade construída a partir do modo como as pessoas, em conjunto, pensam na escola como um todo, sobre o papel que ela representa na comunidade, sobre o papel das atuações de seus representantes, os valores que expressam e traduzem nos seus discursos, em suas ações quotidianas e na comunicação e relacionamento interpessoal.

Numa perspetiva gestionária (cf. Torres, 2004), as organizações coesas são amostras de uma cultura forte, unida, que se aceita inteiramente ou se rejeita. A cultura é uma realidade complementar e indispensável da organização, um elemento essencial e estruturante, não um elemento de adorno, que possa ser substituível. À luz desta perspetiva, ter cultura é reflexo da consciência que as organizações têm de si mesmas, reconhecendo e identificando-se com símbolos, linguagem, histórias, mitos e lendas.

As questões ligadas à gestão e mudança da cultura organizacional têm sido objeto de debate, dada a grande polémica que geram na comunidade científica. As diferentes respostas,

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estão relacionadas, sobretudo, com a conceitualização e definição da cultura organizacional. Fácil, difícil ou impossível, a gestão da cultura organizacional depende, em última análise, da definição de cultura e de organização bem como da moldura teórica de referência de que se parte.

Na ótica de Lundberg (1985), para que a mudança cultural se possa efetivar e impor, deverão estar reunidas várias premissas: condições externas possibilitadoras; condições internas permissoras; pressões precipitantes; eventos desencadeantes e uma “visão” cultural. Estas condições favoráveis facilitariam a mudança e a aprendizagem organizacionais, mas, por outro lado, tornar-se-ia indispensável o desenvolvimento de uma estratégia de mudança baseada na ilação, gestão e estabilização da mudança cultural. Entre a reformulação da cultura existente e a fixação da nova cultura decorreria todo um ciclo de aprendizagens organizacionais. Por sua vez, a gestão da mudança, ao visar a reformulação da cultura, deverá ser capaz de desencadear a participação e envolvimento dos atores organizacionais. Os modelos de estratégias gestionárias desenvolvidos pelos líderes escolares são peças cruciais para o entendimento da especificidade da condução e promoção das orientações culturais dos estabelecimentos de ensino, a partir dos quais se avaliará a eficácia escolar.

Ainda na esteira das perspetivas gestionárias, uma cultura forte de cooperação, partilhando os mesmos objetivos, metas, práticas e experiências pedagógicas e garantindo um compromisso de responsabilidades entre os atores organizacionais escolares parece ser impulsionadora do sucesso educativo e escolar, tornando-se deste modo, numa forte prioridade gestionária.

A escola como organização tende a diferenciar-se da empresa sob o ponto de vista sociológico e organizacional como mostram as suas características: Centralização do sistema educativo, controlo político, administrativo e burocrático, ausência (ou precária) de autonomia organizacional, especificidade dos objectivos organizacionais (Lima, 1998)). Assim, temos dois níveis de análise: o nível normativo externamente emanado pelo MEC e o nível das práticas organizacionais, aquelas que se praticam nas escolas. Na prespetiva de Lima, a análise das organizações contempla distintos planos analíticos: Plano das orientações para a ação e o Plano da ação organizacional.

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3.1. Cultura Organizacional como variável independente e externa

À luz desta focalização, a escola funciona como depósito da cultura nacional, toda a dinâmica dentro da organização é gerida pelos atores sociais, a nível de comportamentos, estratégias a adotarem e ajustamentos às respetivas estruturas organizacionais.

Isto leva-nos a olhar para os fatores socioculturais resultantes da condição cultural, social e económica de professores, alunos pessoal administrativo, encarregados de educação, etc., na compreensão da particularidade de cada um, ao nível da idade, o sexo, a classe social de origem, o tipo de escolaridade, a localidade da residência, entre outros fatores.

Desta moldura humana, espera-se um comportamento acomodativo, adaptativo e ajustável às orientações normativo-culturais superiormente definidas (Torres, 1997).

3.2. Cultura Organizacional como variável dependente e interna

Á luz desta focalização, cada organização escolar passa a ter a sua cultura, determinada pela especificidade de sua estrutura organizacional. Ela representa mais do que as orientações normativas e culturais (regras formais), resulta das formas como os orgãos de direção reagem, interpretam, difundem e exercem a sua liderança na escola. Os professores, os alunos, os funcionários administrativos…, são vistos como membros organizacionais, são meros recetores das orientações impostas(Torres, 1997).

3.3. A Organização Escolar como cultura socialmente construída

Na perspetiva da cultura como metáfora, a organização escolar é vista como sendo uma cultura, constituindo esta a sua forma expressiva, a sua essência, projetada sob a forma de padrões e representações partilhadas pelos autores. Esta conceção pluralista da cultura emerge de interações e negociações de significados e de esquemas interpretativos desenvolvidos pelos professores, alunos, funcionários admistrativos e demais atores educativos.

As estratégias gestionárias desenvolvidas pelos líderes escolares são peças fulcrais para o entendimento da condução e promoção das orientações culturais dos estabelecimentos de

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ensino, a partir dos quais se avaliará a eficácia escolar. Como afirma Torres (1997), “uma análise dos perfis gestionários e de liderança presentes nas escolas

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constituiria um importante passo quer para a identificação dos possíveis traços ou requisitos potencialmente indutores de uma gestão e mudança escolar (e cultural) mais virada para o alcance da eficácia e da eficiência, quer ainda para indagar sobre os efeitos que estes tipos de gestão exerceriam sobre a socialização organizacional e profissional dos seus membros” (Torres, 1997, p.72).

No documento Cultura(s) nos mega agrupamentos (páginas 50-53)