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Principais Eventos que marcaram Mudanças no Transporte por Ônibus nos últimos anos

2 O PROBLEMA OBJETO DA PESQUISA

2.3 Principais Eventos que marcaram Mudanças no Transporte por Ônibus nos últimos anos

Entre os principais eventos que marcaram os últimos anos, referente ao transporte coletivo por ônibus, pode-se destacar (Pereira et al., 1999):

- O Estabelecimento do Código Brasileiro de Trânsito: vigorando desde 22/01/98, atribuiu novas competências aos municípios, obrigando os órgãos de gerência a se reestruturarem institucionalmente e a qualificarem seu quadro de pessoal, de forma a exercer novas funções. A redução no número de acidentes de trânsito já observada em vários municípios que o controlam, revela ser este um dos eventos com maior potencial de mudança qualitativa no futuro próximo. Em paralelo com as melhores condições de circulação, a maior aproximação do poder público aos problemas das operadoras e seu usuários deverá melhorar a segurança da circulação nas áreas urbanas.

- Privatizações e Concessões: as leis de licitações (Lei 8.666/93) e de concessões (Lei 8987/95) só se consolidaram a partir de 1997. Novas formas de exploração dos serviços por ônibus, licitações onerosas ou não onerosas por linhas, por lotes, por áreas de exploração, com outros serviços acoplados, etc, estão sendo utilizadas pelos diversos municípios que iniciaram o processo. Embora existam vários municípios optando por regularizar as permissões, com respaldo na legislação local, existe uma tendência cada vez maior de realização de licitações das linhas, tanto para apoiar a racionalização dos sistemas quanto para aumentar a arrecadação ou apoiar os investimentos realizados no setor, pelos municípios.

- Corredores de Transporte: a implantação de corredores para o transporte público de passageiros, com sistemas integrados, e a utilização de bilhetagem eletrônica, ainda tem pouca expressão nas cidades brasileiras. Porém, esta realidade deve ser intensificada nos próximos anos. Apesar de suas exigências de gestão acarretarem um custo operacional maior para os sistemas integrados, estes instrumentos permitirão maior acessibilidade da população a oportunidades de melhoria da qualidade de vida urbana. Além disso, este tipo de integração vem se mostrando potencializador da competitividade do sistema de transporte público.

- Transporte Informal: o crescimento do transporte informal foi notável nos últimos dois anos, levando os governos a repensar as formas de atender, reorganizar e regulamentar o transporte coletivo urbano. O transporte informal vem se desenvolvendo nas brechas do sistema formal, aproveitando-se de suas debilidades com respeito ao atendimento das demandas. Isso se dá, em parte, devido à baixa qualidade dos serviços prestados por ônibus, metrôs e trens e, em parte, decorre da brutal recessão na oferta de empregos. Assim, o transporte informal responde ao fato da estrutura formal não atender adequadamente os reais interesses de deslocamento da população.

- Programas de Qualidade: houve um avanço considerável na conscientização e engajamento nos programas de qualidade por parte dos órgãos gestores e empresas de transporte. Os mesmos vêm se adaptando à tendência mundial de melhoria da qualidade dos produtos, do atendimento aos usuários e da busca da eficiência empresarial. A melhoria por parte de alguns órgãos públicos e empresas privadas, poderá ser um importante contraponto aos transportes informais, com vistas à melhoria das cidades.

- Mudanças na quantidade e qualidade da oferta: as câmaras de compensação tarifária vêm sendo questionadas quanto à sua eficiência, pois induzem ao acréscimo de quilômetros rodados, além da ocupação desordenada dos espaços urbanos, provocando, ainda, aumento de quilometragem em áreas desabitadas e semi-urbanas, levando a uma expansão da oferta sem melhorias efetivas na prestação dos serviços de transporte urbano.

O crescimento da operação de microônibus, bem como a constante renovação das frotas de ônibus, vêm sendo utilizados como estratégias para reverter tendências de perda de demanda, que se observam nas cidades. Soma-se a isto a adoção de serviços sofisticados, como a disponibilidade de ar condicionado e telefone em veículos convencionais.

A renovação da frota, essencial para o crescimento e permanência de uma empresa de ônibus no mercado, é definida, principalmente, por aspectos econômicos. Ou seja, um veículo deverá ser substituído quando sua rentabilidade se mostrar inferior à prevista para um veículo novo. Assim, a estratégia utilizada na renovação de veículos, depende do cálculo tarifário. Este cálculo faz com que veículos novos impliquem em tarifas mais elevadas, ampliando a rentabilidade do setor, que, capitalizado, encontra maior facilidade para renovação da frota. A adoção desse mecanismo de tarifação, que premia veículos novos, pressupõe que eles serão utilizados ao longo de toda sua vida útil. Assim, valores adicionais pagos nos primeiros anos seriam compensados nos últimos. Entretanto, como os veículos usados são vendidos antes dos sete anos - a rigor, entre três e quatro anos – esta compensação jamais ocorre.

Nesse contexto, resta ao usuário cobrir o ônus desse diferencial (Orrico Filho, 1995).

- Mudanças no perfil da demanda: a mudança de hábitos da população; o aumento do número de desempregados; a descentralização na localização de serviços; a duplicação da produção e comercialização cada vez mais fácil de automóveis; os incentivos fiscais aos veículos de baixa potência; o aumento no valor do tempo dos usuários (que não estão se dispondo a longas esperas nos transportes públicos); e as dificuldades financeiras da população, têm levado a uma redução das viagens nas áreas urbanas, tanto em quantidade quanto em extensão, com reflexos significativos sobre o Índice Passageiro por Quilômetro (IPK)3, importante diluidor dos custos operacionais para o cálculo tarifário.

Estão ocorrendo migrações intermodais, ou seja, usuários de renda mais alta estão optando por modos de transporte mais caros e mais rápidos, enquanto aqueles de menor renda estão deixando de viajar ou adotando os veículos clandestinos, como opção para reduzir as suas despesas mensais. - Ameaça de extinção do vale transporte: a adoção, pelo Governo Federal, de pagamento em dinheiro para despesas de transporte casa-trabalho (de seus funcionários), permite preocupações quanto à possível extinção do vale transporte.

- Bilhetagem automática: em algumas cidades, novos sistemas estão sendo analisados e implantados de forma total ou parcial, com diferentes graus de sucesso. Em qualquer caso, tanto para monitorar a demanda quanto para reduzir a prática do uso do vale transporte como moeda paralela, observa-se que a bilhetagem automática se configura cada vez mais importante, para os transportes urbanos.

3 IPK – Índice Passageiro por Quilômetro, trata-se do quociente entre o número total de

- Incentivos à indústria automobilística: apesar das deseconomias que a circulação excessiva impõe às cidades, persiste a escassez de recursos e incentivos para a expansão da rede de transporte público, e amplia-se a guerra fiscal de apoio à instalação de grandes indústrias automobilísticas no país.

2.4 A Importância do Poder Público no Gerenciamento do Setor