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Principais impactos ambientais na Zona Costeira de Fortaleza

3. A ZONA COSTEIRA DO CEARÁ E DE FORTALEZA

3.5. Principais impactos ambientais na Zona Costeira de Fortaleza

Após levar em consideração um breve histórico sobre o processo de ocupação da costa de Fortaleza, este subcapítulo tratará de alguns dos principais impactos ambientais resultantes desta ocupação, no sentido de embasar a análise do objeto principal de estudo deste trabalho, que se localiza na orla da capital cearense.

Os problemas ambientais de Fortaleza estão relacionados, de acordo com Vasconcelos

(2005, p. 45), “à ocupação do berma da faixa praial, da construção sobre o campo de dunas e

pela realização de obras costeiras ao longo do litoral que determinaram alterações na dinâmica

local com conseqüências desastrosas para a cidade”.

Os impactos ambientais ocorrentes no litoral são diversos: a erosão costeira, a poluição ambiental por esgoto e lixo urbano, o desmonte de dunas, favelização, aterro de manguezais e lagoas, assoreamento de estuários, formação de ilhas de calor, desmatamento,

perda de biodiversidade, canalização de cursos d‟água, privatização de espaços públicos

(como as praias) e perturbação na corrente de fluxos de sedimentos. Aqui são tratados mais especificamente os dois primeiros tipos de impactos citados (a erosão costeira e a poluição

ambiental por esgoto e lixo urbano) e a questão da transformação das paisagens naturais em artificiais.

3.5.1. A erosão costeira

Após a construção do porto do Mucuripe, a dinâmica costeira foi significativamente alterada. Os sedimentos transportados pela corrente da deriva litorânea se acumularam na bacia portuária, gerando um intenso processo erosivo nas praias a oeste do porto. Os sedimentos acumulados na região do porto, impulsionados pelo vento, passaram a invadir imóveis localizados à beira mar e a orla fortalezense sofreu modificações em seu perfil.

Na tentativa de amenizar tais impactos, diversas obras a oeste do porto do Mucuripe foram realizadas. A primeira foi o espigão da Praia de Iracema, em 1969, que, a priori,

amenizou o problema da área, mas repassou o mesmo para o setor a oeste: “os sedimentos

ficaram retidos à barlamar do espigão, produzindo carência de sedimentos à sotamar, o que

provocou erosão em direção à Barra do Ceará”. (FECHINE, 2007, p. 72).

No entanto, o processo induziu à instalação de outros espigões (Figura 16), sempre repassando o problema para a área situada imediatamente a oeste das obras, nunca contendo de fato as erosões.

Figura 16: Foto da década de 1960 dos espigões construídos na faixa Leste/Oeste para tentar proteger o litoral das erosões provocadas após a instalação do porto do Mucuripe.

3.5.2. A poluição ambiental por esgoto e lixo urbano

Além da erosão das praias, outros graves problemas ambientais ocorrentes na orla de Fortaleza são decorrentes da poluição pelo acúmulo de lixo e despejo de esgotos em rios, lagoas, riachos e nas próprias faixas de praia, como consequência do crescimento populacional acelerado da cidade.

Os principais constituintes do sistema hídrico de Fortaleza são os rios Cocó, Maceió, Pajeú, Jacarecanga, Maranguapinho, Pacoti e Ceará. Todos os rios citados sofrem com sérios problemas de assoreamento e poluição, tendo suas águas consideradas impróprias para o banho e/ou consumo humano, por não possuírem tratamento prévio.

Segundo dados da CAGECE de dezembro de 2007 (CAGECE, 2007), em Fortaleza, o esgotamento sanitário atende apenas 50,56% da população. Considera-se, assim, que os outros 49,44% da população não utilizam a rede de esgoto doméstico, dando às águas utilizadas

“destinação diferente da dos esgotos públicos”, lançando um volume considerável destas

águas a céu aberto. (VASCONCELOS, 2005, p. 31)

No tocante à problemática do lixo, em Fortaleza, a coleta e o tratamento do lixo

urbano são ineficientes. De acordo com Vasconcelos (2005, p. 34), “a ausência de

treinamento e de programas de educação ambiental para os profissionais que trabalham no setor é responsável por uma coleta negligente, em que uma parte do lixo tem como destino

final terrenos, ruas e calçadas residenciais”. Ainda segundo o mesmo autor (op. cit., p. 34), “o baixo nível educacional da população também contribui para a proliferação do lixo na

cidade”, já que em muitos casos a própria população lança seus dejetos diretamente em

Figura 17: Poluição por lixo urbano na Praia do Futuro. Fonte: http://fortalezadescabela.blogspot.com/

Figura 18: Poluição por esgoto na Praia do Futuro. Fonte: http://fortalezadescabela.blogspot.com/

O processo de migração populacional para a cidade de Fortaleza, ocorrido a partir da década de 1950, só piorou a problemática do lixo e do esgoto na capital cearense. Esta população se concentrou mais em bairros periféricos, às margens dos principais rios da cidade. A pressão vem se intensificando cada vez mais sobre esses rios, mas ainda não há um

trabalho eficiente de Educação Ambiental e cidadania por parte dos órgãos gestores para essa população.

Os problemas ambientais e de saúde pública causados pela destinação errada dos dejetos podem ser desastrosos, já que estes não ficam acumulados apenas em uma localidade, mas se deslocam, sendo levados pelos rios até alcançarem o mar e, portanto, levando consigo a poluição para o litoral onde seus estuários estão situados.

3.5.3. A transformação das paisagens naturais

Os ambientes naturais que compõem a zona costeira fortalezense sofrem uma intensa e contínua transformação devido à crescente densidade populacional que, de acordo com Silva e

Pereira (2005, p. 222), construiu “residências, edifícios, instalações portuárias e industriais,

além de outros equipamentos artificiais”. Essa pressão sobre o espaço natural levou à retirada quase que completa da vegetação nativa.

O sistema hídrico superficial também foi bastante modificado: diversas lagoas foram aterradas; alguns córregos e riachos foram canalizados artificialmente; a superfície foi impermeabilizada devido ao asfaltamento e construção de edificações; o ciclo natural das águas foi alterado; a infiltração hídrica foi diminuída e, por conta disso, inundações ocorrem em época de chuvas.

A orla marítima, que antes era ambiente de beleza cênica ímpar (Figura 19), hoje deu lugar a altos edifícios (Figura 20) que impedem a passagem da brisa marinha para dentro da cidade, provocando, juntamente com o asfaltamento de ruas e avenidas, as chamadas ilhas de calor, durante os dias mais quentes.

Figura 19: Fotografia de 1937 da Praia de Iracema. Fonte: Arquivo Nirez (2008)

Figura 20: Fotografia recente da Praia de Iracema. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/