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2. QUADRO ADMINISTRATIVO a Existência de autoridades competentes

3.3.2 Principais limitações do processo de AIA

As limitações encontradas no processo de AIA, conforme apontado pelas pesquisas realizadas em diversos países, decorrem de todas as etapas. Na triagem ocorre a ausência de critérios para a definição do tipo de estudo ambiental a ser realizado, a definição do escopo dá-se de forma generalizada (NADEEM; HAMEEDA, 2008) e a excessiva padronização faz com que as especificidades locais não sejam adequadamente consideradas (APPIAH- OPOKU, 2001); a proposição de alternativas tecnológicas e locacionais é incipiente ou inexistente (HICKIE; WADE, 1998; STEINEMANN, 2001; PINHO; MAIA; MONTERROSO, 2007; KRUOPIENEA; ŽIDONIENEB; DVARIONIENEA, 2009; POPE et al., 2013) ou abrange alternativas ambientalmente inviáveis (ZUBAIR, 2001).

Ainda, a literatura aponta que os estudos ambientais têm baixa qualidade, com inadequada definição da área de influência, diagnósticos superficiais e incompletos (GOMES et al., 2009; PANIGRAHI; AMIRAPU, 2012), bases inadequadas de dados (HICKIE; WADE, 1998; ZUBAIR, 2001), inapropriada identificação, previsão e avaliação de impactos (APPIAH- OPOKU, 2001; PANIGRAHI; AMIRAPU, 2012), tratamento insuficiente de impactos cumulativos (ZUBAIR, 2001; WÄRNBÄC; HILDING-RYDEVIKA, 2009; POPE et al., 2013) e proposição de medidas que não são a solução para o impacto (PRADO FILHO; SOUZA, 2004); a equipe elaboradora do estudo, muitas vezes, é despreparada e inexperiente, além de não ser multidisciplinar (TORO; REQUENA; ZAMORANO, 2009); a participação pública não é efetiva e capaz de influenciar a tomada de decisão (PARDO; 1997; FURIA; WALLACE-JONES, 2000; SONERYD, 2004; ALMER; KOONTZ, 2004; NADEEM; HAMEED 2008; PANIGRAHI; AMIRAPU, 2012; POPE et al., 2013) e possui apenas um papel meramente informativo ou consultivo (CORTNER, 2000; SONERYD, 2004).

Por fim, são descritas limitações por falta de qualificação dos atores envolvidos no processo (TORO; REQUENA; ZAMORANO, 2009; KRUOPIENEA; ŽIDONIENEB; DVARIONIENEA, 2009); implementação inadequada dos programas de monitoramento (AHAMMED; NIXON, 2006; NADEEM; HAMEED, 2008; TORO; REQUENA; ZAMORANO, 2009; PANIGRAHI; AMIRAPU, 2012) e fraca integração com o processo de tomada de decisão em níveis estratégicos de planejamento (PANIGRAHI; AMIRAPU, 2012).

No Brasil, estudos realizados pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2004 e pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 2008 apontam para as principais deficiências da AIA

no país. No caso do trabalho do MPF, foram identificadas as principais deficiências que se relacionam com a elaboração dos estudos ambientais, apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 – Deficiências nos Estudos de Impacto Ambiental.

Elemento Deficiências

Termo de referência (TR)

As exigências arroladas foram desconsideradas;

As recomendações foram repassadas às etapas posteriores à emissão da Licença Prévia, figurando como condicionantes das demais licenças.

Objetivos do empreendimento

Adoção dos objetivos do conjunto total de obras interdependentes como justificativa para aprovação de apenas um dos trechos/projetos;

Omissão, ou registro superficial, da relação do projeto com o conjunto de obras ao qual se filia, possibilitando a conclusão pela sua independência.

Estudos de alternativas tecnológicas e

locacionais

Ausência de proposição de alternativas;

Apresentação de alternativas reconhecidamente inferiores à selecionada; Prevalência dos aspectos econômicos sobre os ambientais;

Comparação de alternativas a partir de base diferenciada. Delimitação das áreas

de influência (AI)

Desconsideração da bacia hidrográfica;

Delimitação das AI sem alicerce nas características e vulnerabilidades dos ambientes naturais e realidades sociais regionais.

Diagnóstico ambiental

Prazos insuficientes para a realização de pesquisas de campo;

Caracterização da área baseada, principalmente, em dados secundários; Ausência ou insuficiência de informações sobre a metodologia utilizada;

Proposição de execução de atividades de diagnóstico em etapas do licenciamento posteriores à Licença Prévia;

Falta de integração dos dados de estudos específicos.

Identificação, caracterização e análise de impactos

Não identificação ou identificação parcial de determinados impactos; Indicação de impactos genéricos;

Identificação de impactos mutuamente excludentes;

Subutilização ou desconsideração de dados dos diagnósticos;

Omissão de dados e/ou justificativas quanto à metodologia utilizada para arrogar pesos aos atributos dos impactos;

Minimização dos impactos negativos e supervalorização dos positivos; Não avaliação da cumulatividade e sinergia de impactos.

Mitigação e compensação de

impactos

Proposição de medidas que não mitigam o impacto; Indicação de medidas mitigadoras pouco detalhadas;

Indicação de obrigações ou impedimentos técnicos e legais como propostas de medidas mitigadoras;

Ausência de avaliação da eficiência das medidas propostas; Não incorporação de propostas dos grupos sociais afetados;

Proposição de Unidade de Conservação da categoria de uso sustentável para a aplicação dos recursos, em casos não previstos pela legislação;

Ausência de informações detalhadas acerca dos recursos financeiros destinados aos programas e projetos ambientais.

Programas de acompanhamento e

monitoramento ambiental

Erros conceituais na indicação de monitoramento;

Ausência de proposição de monitoramento de impactos específicos; Proposição de monitoramento insuficiente;

Prazos incompatíveis com épocas de ocorrência de impactos. Relatório de Impacto

Ambiental (Rima)

O Rima é um documento incompleto;

Emprego de linguagem inadequada à compreensão do público; Distorção de resultados, no sentido de minorar os impactos negativos; As complementações do EIA não são incorporadas ao Rima.

Já o TCU auditou o sistema operacional de licenciamento ambiental federal, através de informações coletados em todos os 27 estados brasileiros. Entre as principais conclusões da equipe de auditoria estão (LIMA; MAGRINI, 2010):

 Falta de coordenação entre Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e outros órgãos governamentais envolvidos no licenciamento;

 Ausência ou conflito na definição de poderes para realizar o licenciamento ambiental;  Dificuldades de comunicação entre os órgãos governamentais;

 Deficiências nas bases de dados utilizadas na elaboração do diagnóstico ambiental;  Falta compartilhamento de informação entre o Ibama e órgãos estaduais e municipais do meio ambiente;

 Excesso de pessoal associado à falta de especialização em determinadas áreas;

 Estrutura física deficiente, tanto na falta de espaço para as pessoas como na falta de local apropriado para armazenar os registros dos processos de licenciamento ambiental;

 Ausência de qualificação adequada de pessoal;

 Ausência de um sistema de informações que permita o armazenamento e compartilhamento de dados sobre estudos ambientais, pareceres e notas técnicas;

 Ausência de regulamentação específica para determinados tipos de atividades;  Deficiências nos estudos ambientais componentes do processo;

 Sobreposição de fases de licenciamento, sem clara definição da divisão destas fases;  Sobreposição de medidas compensatórias com idêntica redação para as mesmas comunidades;

 Deficiências na supervisão do cumprimento das condições e medidas mitigadoras.