3.1 Fundamentação teórica dos Potenciais Evocados Auditivos de Estado Estável
3.1.4 Principais métodos de detecção das respostas
Assim como várias pesquisas têm se dedicado a estudar estímulos capazes de evocar respostas com amplitudes maiores, diferentes métodos foram investigados com o objetivo de obter a melhor forma de detectá-las (VALDES et al.; 1997; PICTON et al., 2003).
Sabe-se que as respostas dos PEAEE são detectadas como harmônicos no espectro de freqüência e que possuem energia equivalente a sua freqüência de modulação. No entanto, a atividade captada pelos eletrodos é uma combinação dessas respostas com o ruído elétrico gerado pelo cérebro e músculos da cabeça
e pescoço, que também são representados como harmônicos no espectro. Torna- se, portanto, necessário separar a resposta do ruído (LINS, 2002).
Vários testes já foram empregados com essa finalidade, e a maior parte deles se baseou em dois principais métodos de detecção das respostas: a coerência da fase, que visa mensurar a variabilidade da fase da resposta; e o teste F, que compara a amplitude da freqüência de modulação às amplitudes das freqüências de ruído circunvizinhas (PICTON et al., 2003).
3.1.4.1 Coerência da fase
A coerência da fase parte do princípio de que, em resposta a um estímulo modulado, a atividade cerebral resultante seguirá, constantemente, a freqüência de modulação desse estímulo. O retardo entre o estímulo modulado e a resposta, se de fato a atividade registrada no EEG está seguindo o estímulo, deve ser razoavelmente constante. Esse retardo pode ser medido pelo ângulo da fase. Uma resposta robusta apresentará um relacionamento razoavelmente consistente, ou seja, uma coerência da fase. Se o sistema auditivo não estiver respondendo ao estímulo, o relacionamento da fase será aleatório. Da mesma forma, o ruído elétrico captado se distribui aleatoriamente no lote polar. Os valores variam de 0 (completamente aleatória) a 1.0 (completamente fechada) e são medidos automaticamente pelo software (CONE-WESSON et al., 2002; CONE-WESSON 2003).
A FIG. 6 mostra duas possíveis condições encontradas na coerência da fase. Na primeira, observa-se uma fase fechada. É possível notar que as fases estão aglomeradas, indicando uma resposta robusta, já que a atividade cerebral registrada segue a freqüência de modulação do estímulo. Já na segunda condição observa-se que as fases estão distribuídas de forma totalmente aleatória, indicando que não há coerência entre a atividade cerebral registrada e a
freqüência de modulação do estímulo, não caracterizando, portanto, uma resposta ao som. Nas duas situações o ruído se distribui de forma aleatória no lote polar.
FIGURA 6 - Coerência da Fase
Fonte: Adaptado de CONE-WESSON (2003).
3.1.4.2 Teste F
O teste F avalia se a amplitude da resposta, mensurada na freqüência de modulação, é significativamente maior que a amplitude do ruído, avaliado nas
sidebins - freqüências adjacentes. Quando é aplicada a FFT, cada resposta ocorre
precisamente em um único harmônico no espectro, e o ruído se distribui amplamente nesse espectro. Uma FFT de rápida resolução possibilita a avaliação da resposta com pouca interferência do ruído, sendo que este é avaliado pelas
sidebins próximas à resposta. O sistema MASTER usa 120 sidebins, 60 de cada
lado da resposta. O resultado do teste F é a razão entre a potência na freqüência de estimulação e a potência média das 120 sidebins. A significância dessa estatística é avaliada contra valores críticos para F em 2 e 240 graus de liberdade (LINS, 2002).
A FIG. 7 mostra o espectro de freqüências com a resposta na freqüência de modulação e as 60 sidebins ao lado desta freqüência, utilizada no teste F.
FIGURA 7 - Teste F
Fonte: Adaptado de LINS (2002).
Pesquisas sugerem que os dois métodos e os algoritmos por eles aplicados possuem habilidades razoavelmente similares para detectar as respostas dos PEAEE (VALDES et al., 1997; PICTON et al., 2003).
De uma forma geral, todos os métodos para detectar as respostas dos PEAEE têm utilizado o harmônico do espectro correspondente à freqüência de modulação (JOHN; PICTON, 2000; DIMITRIJEVIC et al., 2002; SWANEPOEL, SCHULIAN; HUGO, 2004). Recentemente, Cebulla, Stürzebecher e Elberling (2006), utilizando outro algoritmo de detecção, denominado q-sample test, demonstraram que o uso de mais de um harmônico do espectro obteve um melhor desempenho de detecção das respostas.
Trata-se de uma vantagem, porque a relação sinal ruído da resposta é muito pequena, principalmente próximo ao limiar auditivo, dificultando a detecção do nível mínimo de resposta. Por essa razão, vários estudos têm se dedicado a estudar estímulos capazes de evocar respostas de amplitudes maiores (CEBULLA; STÜRZEBECHER; ELBERLING, 2006).
A recente adição dos chirps à família dos estímulos de freqüência específica promete PEAEE com grandes amplitudes, o que, somado à detecção resultante do q-sample test, permitirá que os PEAEE sejam coletados com a metade do tempo gasto com os estímulos tradicionais (STÜRZEBECHER et al., 2006; CEBULLA; STÜRZEBECHER; ELBERLING, 2006; ELBERLING et al., 2007).
Delgado et al. (2007) têm estudado uma nova técnica no sistema SmartEP
ASSR, denominada Intensity-Ramping, que detecta as respostas dos PEAEE
variando a intensidade do estímulo. Podem ser utilizados estímulos de uma única freqüência, de múltiplas freqüências ou transientes, tais como cliques ou chirps apresentados a uma ou a ambas as orelhas simultaneamente. A promessa dessa nova técnica é diminuir o tempo de registro dos PEAEE, uma vez que é possível pesquisar os limiares ao mesmo tempo em diferentes intensidades.
É de fato notável a rápida evolução da tecnologia referente aos PEAEE. No entanto, a falta de padronização entre os diferentes sistemas, somada à falta de evidências antes da sua devida comercialização, é bastante preocupante. Os parâmetros de estimulação e registro dos PEAEE variam a cada fabricante (STAPELLS et al., 2005).
Vale ressaltar que, embora a detecção automática das respostas seja um dos grandes atrativos dos PEAEE, é necessária uma abordagem crítica do examinador ao interpretar as respostas. O critério estatístico determina a possibilidade de uma resposta ser maior que o ruído, mas essa decisão é sempre acompanhada por certa porcentagem de erros. O número mínimo e máximo de varreduras necessárias para o registro dos PEAEE, o nível de significância estatística e o critério de decisão para interromper o registro, dentre outras questões, não são bem definidos na literatura e não há um consenso sobre a melhor escolha desses parâmetros.
O fato de a detecção dos PEAEE ser realizada de maneira objetiva pode dar a impressão de que não é exigida experiência para realizar os registros. No entanto, no intuito de evitar a má interpretação dos resultados, é necessária uma abordagem crítica dos registros e um conhecimento do avaliador sobre o sistema utilizado. Pesquisas que abordem a investigação desses aspectos podem contribuir para uma melhor estimativa dos limiares auditivos por meio dos PEAEE.
3.2 Aplicações clínicas dos Potenciais Evocados Auditivos de Estado