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Principais métodos de detecção das respostas

No documento Gabriela Ribeiro Ivo Rodrigues (páginas 37-42)

3.1 Fundamentação teórica dos Potenciais Evocados Auditivos de Estado Estável

3.1.4 Principais métodos de detecção das respostas

Assim como várias pesquisas têm se dedicado a estudar estímulos capazes de evocar respostas com amplitudes maiores, diferentes métodos foram investigados com o objetivo de obter a melhor forma de detectá-las (VALDES et al.; 1997; PICTON et al., 2003).

Sabe-se que as respostas dos PEAEE são detectadas como harmônicos no espectro de freqüência e que possuem energia equivalente a sua freqüência de modulação. No entanto, a atividade captada pelos eletrodos é uma combinação dessas respostas com o ruído elétrico gerado pelo cérebro e músculos da cabeça

e pescoço, que também são representados como harmônicos no espectro. Torna- se, portanto, necessário separar a resposta do ruído (LINS, 2002).

Vários testes já foram empregados com essa finalidade, e a maior parte deles se baseou em dois principais métodos de detecção das respostas: a coerência da fase, que visa mensurar a variabilidade da fase da resposta; e o teste F, que compara a amplitude da freqüência de modulação às amplitudes das freqüências de ruído circunvizinhas (PICTON et al., 2003).

3.1.4.1 Coerência da fase

A coerência da fase parte do princípio de que, em resposta a um estímulo modulado, a atividade cerebral resultante seguirá, constantemente, a freqüência de modulação desse estímulo. O retardo entre o estímulo modulado e a resposta, se de fato a atividade registrada no EEG está seguindo o estímulo, deve ser razoavelmente constante. Esse retardo pode ser medido pelo ângulo da fase. Uma resposta robusta apresentará um relacionamento razoavelmente consistente, ou seja, uma coerência da fase. Se o sistema auditivo não estiver respondendo ao estímulo, o relacionamento da fase será aleatório. Da mesma forma, o ruído elétrico captado se distribui aleatoriamente no lote polar. Os valores variam de 0 (completamente aleatória) a 1.0 (completamente fechada) e são medidos automaticamente pelo software (CONE-WESSON et al., 2002; CONE-WESSON 2003).

A FIG. 6 mostra duas possíveis condições encontradas na coerência da fase. Na primeira, observa-se uma fase fechada. É possível notar que as fases estão aglomeradas, indicando uma resposta robusta, já que a atividade cerebral registrada segue a freqüência de modulação do estímulo. Já na segunda condição observa-se que as fases estão distribuídas de forma totalmente aleatória, indicando que não há coerência entre a atividade cerebral registrada e a

freqüência de modulação do estímulo, não caracterizando, portanto, uma resposta ao som. Nas duas situações o ruído se distribui de forma aleatória no lote polar.

FIGURA 6 - Coerência da Fase

Fonte: Adaptado de CONE-WESSON (2003).

3.1.4.2 Teste F

O teste F avalia se a amplitude da resposta, mensurada na freqüência de modulação, é significativamente maior que a amplitude do ruído, avaliado nas

sidebins - freqüências adjacentes. Quando é aplicada a FFT, cada resposta ocorre

precisamente em um único harmônico no espectro, e o ruído se distribui amplamente nesse espectro. Uma FFT de rápida resolução possibilita a avaliação da resposta com pouca interferência do ruído, sendo que este é avaliado pelas

sidebins próximas à resposta. O sistema MASTER usa 120 sidebins, 60 de cada

lado da resposta. O resultado do teste F é a razão entre a potência na freqüência de estimulação e a potência média das 120 sidebins. A significância dessa estatística é avaliada contra valores críticos para F em 2 e 240 graus de liberdade (LINS, 2002).

A FIG. 7 mostra o espectro de freqüências com a resposta na freqüência de modulação e as 60 sidebins ao lado desta freqüência, utilizada no teste F.

FIGURA 7 - Teste F

Fonte: Adaptado de LINS (2002).

Pesquisas sugerem que os dois métodos e os algoritmos por eles aplicados possuem habilidades razoavelmente similares para detectar as respostas dos PEAEE (VALDES et al., 1997; PICTON et al., 2003).

De uma forma geral, todos os métodos para detectar as respostas dos PEAEE têm utilizado o harmônico do espectro correspondente à freqüência de modulação (JOHN; PICTON, 2000; DIMITRIJEVIC et al., 2002; SWANEPOEL, SCHULIAN; HUGO, 2004). Recentemente, Cebulla, Stürzebecher e Elberling (2006), utilizando outro algoritmo de detecção, denominado q-sample test, demonstraram que o uso de mais de um harmônico do espectro obteve um melhor desempenho de detecção das respostas.

Trata-se de uma vantagem, porque a relação sinal ruído da resposta é muito pequena, principalmente próximo ao limiar auditivo, dificultando a detecção do nível mínimo de resposta. Por essa razão, vários estudos têm se dedicado a estudar estímulos capazes de evocar respostas de amplitudes maiores (CEBULLA; STÜRZEBECHER; ELBERLING, 2006).

A recente adição dos chirps à família dos estímulos de freqüência específica promete PEAEE com grandes amplitudes, o que, somado à detecção resultante do q-sample test, permitirá que os PEAEE sejam coletados com a metade do tempo gasto com os estímulos tradicionais (STÜRZEBECHER et al., 2006; CEBULLA; STÜRZEBECHER; ELBERLING, 2006; ELBERLING et al., 2007).

Delgado et al. (2007) têm estudado uma nova técnica no sistema SmartEP

ASSR, denominada Intensity-Ramping, que detecta as respostas dos PEAEE

variando a intensidade do estímulo. Podem ser utilizados estímulos de uma única freqüência, de múltiplas freqüências ou transientes, tais como cliques ou chirps apresentados a uma ou a ambas as orelhas simultaneamente. A promessa dessa nova técnica é diminuir o tempo de registro dos PEAEE, uma vez que é possível pesquisar os limiares ao mesmo tempo em diferentes intensidades.

É de fato notável a rápida evolução da tecnologia referente aos PEAEE. No entanto, a falta de padronização entre os diferentes sistemas, somada à falta de evidências antes da sua devida comercialização, é bastante preocupante. Os parâmetros de estimulação e registro dos PEAEE variam a cada fabricante (STAPELLS et al., 2005).

Vale ressaltar que, embora a detecção automática das respostas seja um dos grandes atrativos dos PEAEE, é necessária uma abordagem crítica do examinador ao interpretar as respostas. O critério estatístico determina a possibilidade de uma resposta ser maior que o ruído, mas essa decisão é sempre acompanhada por certa porcentagem de erros. O número mínimo e máximo de varreduras necessárias para o registro dos PEAEE, o nível de significância estatística e o critério de decisão para interromper o registro, dentre outras questões, não são bem definidos na literatura e não há um consenso sobre a melhor escolha desses parâmetros.

O fato de a detecção dos PEAEE ser realizada de maneira objetiva pode dar a impressão de que não é exigida experiência para realizar os registros. No entanto, no intuito de evitar a má interpretação dos resultados, é necessária uma abordagem crítica dos registros e um conhecimento do avaliador sobre o sistema utilizado. Pesquisas que abordem a investigação desses aspectos podem contribuir para uma melhor estimativa dos limiares auditivos por meio dos PEAEE.

3.2 Aplicações clínicas dos Potenciais Evocados Auditivos de Estado

No documento Gabriela Ribeiro Ivo Rodrigues (páginas 37-42)

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