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III. Análise do Plano Municipal de Saúde

3.4 Principais observações

Comparando a análise dos Planos Municipais de Saúde ao referencial teórico do Planejamento Estratégico Situacional utilizado para examiná-los, detectamos sua pouca profundidade. Em alguns Planos, este fato se faz presente na carência de dados para a composição do diagnóstico que deve servir de base à análise da situação do município. No que diz respeito a esta análise, os municípios parecem realizá-la de forma bastante genérica e insuficiente, pelo que demonstra a listagem de problemas, com exceção de um município. Em certos casos, deixam de referir-se aos dados apresentados, estabelecendo apreciações sem relação com a descrição da situação. Em outros, esta não é explicitada, partindo-se diretamente para a listagem de problemas.

Evidencia-se, desse modo, que não foi feito processamento dos dados, de modo a permitir uma análise da realidade que busque identificar os problemas e detectar suas causas. Disso resulta uma listagem também genérica de problemas, os quais não coincidem, muitas vezes, com a descrição das condições sociosanitárias, revelando-se a carência de análise mais consistente que permitiria inclusive a agregação de problemas. Isto acaba por tornar imprecisa a intervenção proposta, o que se vai evidenciar na definição de prioridades e ações a executar. Certos Planos estabelecem intenções gerais sem a descrição do que será feito para enfrentar os problemas identificados. Em outros, o formato solicitado no roteiro foi preenchido, relatando as prioridades, os objetivos, algumas ações, a população alvo, as metas a atingir e os períodos para a realização das ações. No entanto, tais especificações ficam prejudicadas pelo baixo processamento analítico da realidade, dos problemas e de suas causas, o que foi claramente evidenciado

em determinados Planos em que os problemas listados terminam por não gerar intervenção.

De qualquer forma, nenhum dos Planos atribui responsabilidades nas ações a executar e não evidenciam a intersetorialidade citada nos questionários, apesar de certas prioridades demandarem ações intersetoriais. Vale dizer que um dos municípios sinaliza duas situações de intersetorialidade, porém de forma vaga. A inexistência de referências à intersetorialidade e a não atribuição de responsabilidades são explicadas em decorrência de os roteiros utilizados não solicitarem tais referências.

O detalhamento desses elementos – ou seja, os responsáveis pelas ações e a intersetorialidade – é importante porque declara os compromissos assumidos pelos vários atores com os outros atores e com o Plano a ser implementado. Logicamente, maior particularização das ações permitiria mesmo especificar melhor os responsáveis por elas, fator essencial ao acompanhamento do Plano no que concerne ao sistema de petição e prestação de contas, já discutido no referencial teórico do Planejamento Estratégico Situacional, Capítulo I.

A especificação dos recursos necessários restringe-se aos econômico-financeiros e é explicitada de forma agregada no total de despesas. Compreendemos tal fato pela ausência de maior detalhamento nas ações – o que tornaria possível desagregá-lo – e também em razão de um dos roteiros não solicitá-lo. O roteiro do MS faz alusão aos recursos necessários, porém no instrumento Programação, razão pela qual não foi apresentado pelo município que seguiu a proposta do Ministério.

Por fim, percebemos que aos municípios falta o auxílio para desenhar propostas que tornem viáveis o controle e avaliação dos resultados de seus Planos. Isto pode ser facilitado pela maior precisão e especificação das operações / ações.

A análise revelou que os Planos Municipais de Saúde reproduzem, em geral, as carências dos roteiros examinados e mostram que, nos municípios que se julgaram não orientados, os problemas relativos à construção dos Planos são bem mais evidentes.

Quanto aos que se consideraram orientados detecta-se – principalmente em um deles – maiores avanços em termos de coerência e consistência de seu Plano, apesar de não explicitar – em virtude de não ser solicitado pelo roteiro utilizado – uma análise de viabilidade, ou seja, um exame das fraquezas e restrições ao Plano, a partir do qual torna- se possível construir estratégias de viabilidade, o que poderia potencializá-lo. Esse Plano revela que o município em questão dispõe de bom suporte técnico e que a orientação

fornecida atende às necessidades, diferenciando-o das condições de outros municípios para a elaboração do Plano.

Salientamos que o próprio município distancia-se bastante dos demais deste estudo tanto em termos de porte como de equipe técnica interna à Secretaria Municipal de Saúde. Por ser caso diferenciado, buscamos separá-lo da análise geral sempre que possível.

Os problemas relacionados aos Planos analisados – aqui comentados do ponto de vista do referencial teórico que tomamos para a análise – evidenciam que eles resultam da baixa capacidade de governo para a sua elaboração, não constituindo projetos de governo potentes e de qualidade.

No questionário, não investigamos a qualificação da orientação que os municípios referiram ter recebido. Contudo, em razão da análise dos roteiros de planos veiculados pela SSMA-RS e pelo Ministério da Saúde, tal como pela análise dos Planos destes cinco municípios, percebemos que a metodologia utilizada não capacita os municípios a elaborar Planos consistentes e coerentes que possam traduzir-se em programação operativa, possibilitando-lhes acrescer sua governabilidade do sistema.

É possível que os problemas encontrados na análise destes Planos não sejam muito diferentes da maioria dos Planos dos outros municípios do estudo. Fica evidente, no entanto, que é imprescindível um suporte maior, uma vez que os municípios estão iniciando o processo de municipalização e que operam provavelmente sem quadros técnicos capacitados, lutando com uma série de dificuldades e precisando sobretudo de apoio e acompanhamento dos níveis estadual e federal. Nestas circunstâncias, é fundamental que as instâncias mencionadas avancem no sentido de contato mais próximo com os municípios e que os orientem efetivamente, auxiliando-os a elaborar seus Planos.

IV. Importância do Plano Municipal de Saúde

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