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Principais opções metodológicas

Capítulo III Metodologia

3.1 Principais opções metodológicas

Existe um leque variado de metodologias pelas quais se poderá optar para realizar uma investigação. Alami et al. (2010) referem que “a pertinência de um método deve ser avaliada à luz do objeto da pesquisa. Ela depende do seu contexto de utilização, dos objetivos determinados para a pesquisa e, mais globalmente, da questão a ser tratada” (p. 19).

Pretendia, analisar e compreender as representações utilizadas pelos alunos quando resolvem problemas matemáticos e quais os papéis destas representações no processo de resolução. Face a este objetivo e às questões que orientam o trabalho investigativo, optei por uma metodologia qualitativa de investigação.

Segundo Coutinho (2011), numa investigação qualitativa o objeto de estudo são “as intenções e situações, ou seja, trata-se de investigar ideias, de descobrir significados nas ações individuais e nas interacções sociais a partir da perspectiva dos actores intervenientes no processo” (p. 26). Neste sentido, “a inter-relação do investigador com a realidade que estuda faz com que a construção da teoria se processe, de modo indutivo e sistemático, a partir do próprio terreno à medida que os dados empíricos emergem” (ibidem).

A investigação qualitativa tem, de acordo com Bogdan e Biklen (1994), cinco características essenciais:

 “A fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal” (p. 48). São os investigadores que recolhem a informação utilizando diversas técnicas num ambiente natural;

40  “ É descritiva. Os dados recolhidos são em forma de palavras ou imagens e não de números” (ibidem). Os investigadores “tentam analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto quanto o possível, a forma em que estes foram registados ou transcritos” (ibidem), sendo que os seus objetivos passam por compreender todas as informações disponíveis sobre o que irão estudar;

 “Os investigadores interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos” (ibidem). Ou seja, o processo é mais relevante do que os resultados ou produtos;

 “Os investigadores tendem a analisar os seus dados de forma indutiva” (ibidem); são analisados com o intuito de se construir uma “teoria fundamentada”, tendo como ponto de partida questões mais vastas para progredir para questões específicas;

 “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa” (ibidem), uma vez que possibilita a compreensão do sentido que os indivíduos de um contexto específico atribuem às situações.

No estudo que realizei, a fonte direta dos dados foi a atividade desenvolvida com alunos da turma do 3.º ano de uma escola localizada em Setúbal, em que os dados foram recolhidos por mim, num ambiente natural. Estes têm a forma de imagem, palavras e não apenas de números e, a sua análise, visava compreender o que os alunos pensavam e diziam durante o processo de resolução de problemas, ou seja, era essencial entender o significado que atribuíam à sua atividade. Como tal, o estudo em questão constitui, também, uma investigação sobre a própria prática (Ponte, 2002).

A investigação sobre a prática caracteriza-se pelo investigador não estudar objetos, mas sim aspetos da sua prática profissional, entre os quais se inclui a atividade dos alunos, tendo por ponto de partida uma pergunta a que se pretende responder. Além disso, “assenta, sobretudo, em duas condições. Por um lado, é preciso ter uma disposição para questionar, o que remete para o campo afectivo e para o campo das atitudes. Por outro lado, é necessário o domínio de certo savoir faire, incluindo o uso de diversos instrumentos metodológicos” (Ponte, 2002, p. 11).

41 a investigação sobre a prática pode ter dois tipos principais de objectivos. Por um lado pode visar principalmente alterar algum aspecto da prática, uma vez estabelecida a necessidade dessa mudança e, por outro lado, pode procurar compreender a natureza dos problemas que afectam essa mesma prática com vista à definição, num momento posterior, de uma estratégia de acção (p. 2-3).

Neste tipo de investigação, o professor tem um duplo papel: o de professor e o de investigador. Trata-se do que, por exemplo, Alarcão (2001) designa por professor- investigador:

ser professor-investigador é, primeiro que tudo, ter uma atitude de estar na profissão como intelectual que criticamente questiona e se questiona (…) e ser capaz de se organizar para, perante uma situação problemática, se questionar intencional e sistematicamente com vista à sua compreensão e posterior solução (p. 6).

Quando investiga a sua própria prática, o docente, de acordo com Ponte (2002), “pode tomar como ponto de partida problemas relacionados com os alunos e a aprendizagem, mas também com as suas aulas, a escola ou o currículo” (p. 11). Segundo este autor, para efetuar uma investigação sobre a própria prática, é indispensável possuir- se uma atitude de questionamento e, simultaneamente, reflexiva, assim como “uma predisposição para examinar a sua própria prática de uma forma crítica e sistemática” (ibidem).

Realizei uma investigação sobre a prática porque, a meu ver, este tipo de investigação é adequado ao projeto que desenvolvi, incluindo aqui o objetivo e questões de investigação formulados. Além disso, é relevante face ao contexto em que este estudo se desenvolveu: um contexto de estágio. Com efeito, de acordo com Arends (1995), a investigação sobre a prática poderá ser “um excelente guia para orientar as práticas educativas, com o objetivo de melhorar o ensino e os ambientes da sala de aula” (p. 45). Optei por um tema que me suscita interesse e que considero útil para a minha formação. Simultaneamente, uma investigação sobre a prática tem um cariz reflexivo e pode contribuir para melhorar a ação, sobre a temática que se estuda.

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