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Principais Planos de Desenvolvimento adotados no país e suas repercussões nas áreas de

Foto 5-40: Global-Local: Incêndio Centro de Distribuição Unidade de Rio Verde (2016)

3. FORMAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO DE GOIÁS E SUDOESTE GOIANO: DA

3.2 Principais Planos de Desenvolvimento adotados no país e suas repercussões nas áreas de

Os programas de desenvolvimento econômicos voltados para a agricultura, com destaque no período militar, que instauraram a fase monopolista do capitalismo, são o Programa de Ação Econômica do Governo (1964-1966), o Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico (1967-1976), o I PND (Plano Nacional de desenvolvimento) (1972-1974) e o II PND (Plano Nacional de desenvolvimento) (1975-1979).

O Programa de Ação Econômica do Governo (1964-1966) tinha em vista a estabilização financeira, criando condições econômicas para o desenvolvimento das “forças de mercado” e a predominância da livre empresa no sistema econômico” no intuito de conter o processo inflacionário ocorrido no período de 1964/65 e equilibrar os preços a partir de 1966; destaca neste programa o favorecimento do imperialismo através da entrada de capitais estrangeiros (IANNI: 1981). O Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico (1967-1976) considerado por Ianni (1981) como a expressão totalitária dos governos militares em desenvolver um plano estratégico tendo em vista a permanência no poder por longos anos no

81 controle do Estado, por meio do planejamento da produção, consumo e de investimentos da União e suas Autarquias, Empresas e Sociedades de Economia Mista (Roberto de Oliveira Campos, In. Ianni (1980: 9).

O SNCR (Sistema Nacional de Crédito Rural) foi promulgado pela Lei 4.829 de 05/11/1965 e regulamentado pelo decreto 58.380 de 10/05/1966, suas intenções eram de :

I – estimular o incremento ordenado dos investimentos rurais, inclusive para armazenamento, beneficiamento e industrialização dos produtos agropecuários, quando efetuado por cooperativas ou pelo produtor rural; II – favorecer o custeio oportuno e adequado da produção e a comercialização de produtos agropecuários; III – possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais, notadamente pequenos e médios; IV – incentivar a introdução de métodos racionais de produção, visando ao aumento da produtividade, e à adequada defesa do solo. (BRASIL , Leis e Decretos, etc., “Lei n.º 4829 de 5 de novembro de 1965: In: GONÇALVES NETO; 1997, p.160)

A estrutura financeira do SNCR era composta pelo Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, bancos regionais de desenvolvimento, BNCC (Banco de Crédito Cooperativo), BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), bancos estatuais, caixas econômicas, bancos privados, sociedades de crédito e cooperativas; as modalidades de crédito eram destinadas para custeio (cobria os custos de produção para aquisição de fertilizantes, agrotóxicos, combustíveis, sementes, vacinas, medicamentos veterinários e contratação de mão-de-obra,), investimentos (máquinas agrícolas, aquisição de terras, animais, formação de pastagens, correção e formação dos solos, técnicas de irrigação, construção e ampliação de infraestrutura), comercialização e estocagem (GONÇALVES NETO; 1997, p.160).

Os recursos destinados para o SNCR privilegiavam os médios e grandes produtores das áreas de Cerrados, sendo uma contradição do projeto inicial, que objetivava os recursos para os pequenos e médios produtores. O SNCR concretizou o PGPM (Política de Garantia de Preços Mínimos) que, por sua vez, viabiliza a expansão das atividades agropecuárias nas regiões de fronteira através de dois mecanismos: EGF (Empréstimo do Governo Federal) e AGF (Aquisição do Governo Federal). No que se refere ao tema comercialização e estocagem, o EGF garantia o pagamento dos custos de armazenamento da produção agrícola através de empréstimos aos produtores que poderiam esperar o momento mais oportuno (melhores preços) para a venda da sua produção e possibilitar o pagamento dos custos de produção. Paralelamente o AGF incumbia-se de adquirir a produção garantindo o preço mínimo ao produtor rural. Os

82 produtos adquiridos pelo Governo Federal através do AGF, transferia para o comprador, no caso o Estado, os custos de transporte para os centros consumidores. Através do AGF, o Governo Federal constituía os estoques reguladores que objetivavam reduzir os impactos inflacionários decorrentes da elevação dos preços dos alimentos.

Castro e Fonseca (1995) afirmam que o EGF, na região Centro-Oeste, não foi apenas o único responsável pela redução dos fretes dos produtos agrícolas, mas também possibilitando a comercialização da produção de grãos nos grandes centros consumidores, cujos fatores exequíveis são o aumento da população, aplicação de novas técnicas agrícolas que fez aumentar a participação da região no cenário nacional, baixos preços das terras que possibilita a produção em grande escala e a PGPM que garantia a substituição dos recursos do SNCR. Para os autores, a potencialidade dos fatores naturais, a dinâmica econômica e das políticas públicas na viabilidade da produção e inserção do Centro-Oeste na produção agrícola nacional, modificando as características do espaço agrário regional, como também inserem o Centro- Oeste na economia nacional. Cria-se ainda um mercado consumidor local devido ao deslocamento populacional, em virtude da expansão das fronteiras agrícolas na década de 1970 e do próprio processo de agroindustrialização daí decorrente, na década de 1980.

Inserido no SNCR destaca-se o BCC (Banco de Crédito Cooperativo) possibilitando a formação e a constituição de cooperativas que tiveram a função de organizar os produtores rurais, desta forma facilitando a introdução das técnicas e novos insumos da modernização da agricultura. O I PND (Programa Nacional de Desenvolvimento) (1972-1974) enfatizava dois pontos na política pública nacional para a agricultura, segundo Gonçalves Neto (1997; p. 20):

1. utilização dos incentivos fiscais e financeiros para aumento da produção, ao investimento, à comercialização e a transformação tecnológica no setor agrícola 2. Disseminação de insumos modernos, forma diversificada para o Centro-Sul e Nordeste, atentos os seus efeitos sobre absorção de mão-de-obra

O processo de modernização da agricultura foi o responsável pelo financiamento da modernização da indústria, revertendo a balança comercial deficitária gerando divisas para sustentar as importações de tecnologia industrial; reduzindo os preços dos alimentos, contendo os índices inflacionários (aumentando o poder aquisitivo da população) e criando um mercado consumidor para os produtos industrializados utilizados no campo (insumos agrícolas).

83 [...] consistia na mediação de interesses das oligarquias rurais tradicionais em relação aos interesses industriais urbanos. Essa política não abrangia o conjunto do setor agrícola, mas unicamente os setores ligados ao modelo primário-exportador. Ademais, não se buscava, pela política agrícola, fixar nexos de relações interindustriais com a agricultura e indústria interna. Buscava-se, predominantemente, compatibilizar o crescimento industrial, em plena ênfase na década dos cinqüenta e parte dos setenta, com a obtenção de divisas a partir das exportações agrícolas para viabilizar o processo de substituições de importações, assim como abastecer o mercado interno de alimentos e de algumas matérias-primas industriais

O I PND segundo Roberto de Oliveira Campos (In. IANNI 1981, p.13),

[...] oficializava ambiciosamente o conceito de “modelo brasileiro”, definindo-o como o modo brasileiro de organizar o Estado e moldar as instituições para, no espaço de uma geração, transformar o Brasil em Nação desenvolvida.

A integração da economia nacional à dinâmica da economia internacional era a principal meta do I PND, porém esta integração ocorreria através da intervenção do Estado e esta segundo Aguiar (1985, p.97) caracterizava-se

[...] por uma política de ampla franquia ao ingresso de capitais estrangeiros, via as subsidiárias das empresas multinacionais. De outro lado, por uma política de “produção para o exterior”, exclusivamente destinada a esse mercado, não se tratando, assim, de escoamento de excedentes não absorvidos pelo mercado interno. Mas ao mesmo tempo, a intervenção do Estado manifestava-se, também, através da ação repressiva, de forma a garantir, mediante a extorsão da força de trabalho operária e camponesa, os meios necessários à efetivação daquele processo de modernização

No I PND, o Estado buscava enfocar as políticas territoriais na “integração nacional”, incentivando a expansão das “fronteiras econômicas do Centro-Sul em direção ao Centro-Oeste, Amazônia e Nordeste” (COSTA 1991, p. 63-4). O II PND projetou o desenvolvimento da agricultura aos moldes industriais considerados pelo Estado como os responsáveis pelo crescimento econômico do país. Desta forma os agricultores se adequariam às novas formas de produção, passando a existir não mais um fazendeiro e sim empresários rurais e suas propriedades seriam transformadas em modernas empresas, cuja consequência seria a utilização de novas técnicas agrícolas. (Brasil, 1972;1975)

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O objetivo é levar a capacidade empresarial, que já se mostrou apta a desenvolver a indústria e outros setores urbanos, à atividade agropecuária

nacional. Através da ampla disseminação da empresa rural - pequena, média e grande -principalmente pelo apoio financeiro e fiscal do Governo, melhor se equacionarão problemas como o de induzir ao uso de projetos, de levar em conta os cálculos de rentabilidade e estímulos de preços, de empregar mais

moderna tecnologia, considerando a relação entre preços de insumos e de produtos. (BRASIL 1975, p.43)

Insere-se o II PND na ambição do Estado em reverter às balanças comerciais até então deficitárias, aumentando as exportações. A importância da agricultura se dará como uma nova produtora e exportadora de produtos primários e também com consumidora dos produtos industrializados nacionais. Costa (1991), caracteriza o período do II PND como a centralização dos esforços no crescimento econômico dos setores de maior potencialidade para exportações. Destacamos, portanto, o papel da agricultura e das ocupações das “áreas vazias” do território nacional, e as ações das políticas públicas que favoreceram os grandes empreendimentos da fase monopolista do capitalismo. Agregando capitais nacionais e estrangeiros e com o Estado participando de diversas formas, principalmente com a infraestrutura.

O POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento do Cerrado) criado através do decreto 75.320 de 29/01/1975 possuía como principal objetivo a ocupação racional e ordenada do Cerrado através do cambio dos

[...] sistemas de manejo primitivo – obstáculo comprovadamente superável, para grande variedade de culturas -, pela utilização de insumos modernos (calcário, fertilizantes, mecanização, etc.), em sistema de manejo mais intensamente capitalizados” (BRASIL, Presidência da República 1975. In. Salim, 1986)

A forma de ação do POLOCENTRO consistia na seleção de pólos de desenvolvimento agropecuário em regiões estratégicas (Mapa 3-2), sendo cinco em Goiás (Gurupi, Paranã, Pirineus, Piranhas e Rio Verde); três em Minas Gerais (Triângulo Mineiro, Alto São Francisco e vão do Paracatu); duas em Mato Grosso do Sul (Campo Grande –Três Lagoas e Bodoquema) e três no Mato Grosso (Cuiabá – Rondonópolis, Xavantina e Parecis). Estes pólos apresentavam potencial agrícola e infraestrutura, propiciando a propagação dos

85 Mapa 3-2 : POLOCENTRO: áreas de atuação no estado de Goiás

86 As ações do POLOCENTRO consistiam em o apoio na forma de créditos com taxas de juros especiais para o financiamento de desmatamento, correção e conservação dos solos, estímulos aos projetos de florestamento-reflorestamento, construção de estradas vicinais, eletrificação rural, implantação de beneficiamento, armazenamento e transporte de produtos agrícolas; além de estimular a produção e comercialização regional de calcário e outros insumos agrícolas. (BRASIL, Presidência da República 1975; p. 11-2. In Salim 1986, p. 318-9).

A partir do Erro! Autoreferência de indicador não válida., os investimentos dos recursos públicos do POLOCENTRO são perceptíveis aproximadamente 65,5% dos investimentos foram destinados a financiamento das vias de circulação, implantação de projetos agropecuários e armazenamento da produção agrícola, criando condições para inserir novas culturas agrícolas (soja e milho), para transporte e armazenamento dos grãos.

Quadro 3-1 POLOCENTRO: investimentos dos recursos públicos (%) (1985)

Setor Proporção aplicada (%)

Transportes 23,8 Agropecuária 22,0 Armazenamento 20,8 Energia 17,4 Assistência técnica 14,7 Administração e acompanhamento 0,8 Ações complementares 0,5

Total dos recursos investidos 100,0 Organização: o Autor (2016)

Fonte: Fundação João Pinheiro, 1985

Segundo SALIM (1986), as condições favoráveis para aquisição de recursos com juros abaixo do mercado, viabilizou a transformação da base produtiva das propriedades rurais da região como também resultou no atrativo de outros produtores de outras regiões para o Cerrado, devido aos preços das terras mais baixas em relação as outras áreas do país (principalmente no Sul e Sudeste) e a segurança de financiar projetos agropecuários de forma integral, compensando os custos operacionais para elevar a fertilidade dos solos do Cerrado.

O II PND criava outros projetos para viabilizar as ocupações da Região Centro- Oeste (Quadro 3-2) (Mapa 3-3), entre eles: Região da Grande Dourados (Mato Grosso do Sul), Região Geoeconômica de Brasília (Distrito Federal), POLAMAZÔNIA e PRODEPAN (Programa de Desenvolvimento do Pantanal) (BRASIL, 1975)

87 Quadro 3-2 - Participação Relativa dos Programas de Desenvolvimento do Centro-Oeste

durante o II PND

Programa Participação Relativa (%)

POLOCENTRO 61,0

Região da Grande Dourados 16,5

Região Geoeconômica de Brasília 9,7

POLAMAZÔNIA 7,4

PRODEPAN 5,4

TOTAL 100,0

Organização: o Autor (2015) Fonte Brasil (1975)

A importância do POLOCENRO no II PND é nítida ao se observar que aproximadamente 61% dos recursos destinados para a ocupação da Região Centro-Oeste. Assim, a inserção da região no contexto da economia nacional se concretizava, por meio da infraestrutura e das novas formas de produção agropecuária. O PRODECER, descrito por Müller (1989), é resultado do acordo de cooperação assinado em 1976, entre Brasil e Japão, com o intuito de fomentar a expansão da agricultura moderna nas áreas de Cerrados.

Os resultados seriam alcançados através de créditos direcionados para empreendimentos agrícolas de produtores rurais de um conjunto de projetos de assentamento dirigido. Ocorreria a seleção dos agricultores por meio de cooperativas credenciadas, que averiguariam se o produtor teria aptidão para desenvolver atividades agrícolas nas áreas de Cerrados, exigindo-se dedicação integral no desenvolvimento do empreendimento. Este programa direcionava a constituição de propriedades de médio porte (250 a 500 ha), voltadas para a produção de grãos. Müller (Ibidem) descreve que em 1979 a Companhia de Produção Agrícola (CAMPO) é a designada na administração do I PRODECER. A empresa era composta por dois holdings: a BRASAGRO (Companhia Brasileira de Participação Agroindustrial), detentora de 51% do controle acionário e com participação de 49% a JADECO (Japan-Brasil Agricultural Development Corporation). Os recursos eram provenientes de empréstimos do governo japonês e a outra equivalência provinda do governo brasileiro.

88 Mapa 3-3 : Programas de Desenvolvimento do Centro-Oeste durante o II PND

89 A BRASAGRO constituía-se por instituições como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Banco Nacional de Crédito Cooperativo, Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, Cibrazem (Companhia Brasileira de Armazéns) e empresas produtoras de insumos e equipamentos agrícolas. A JADECO era composta por empresas de grande porte como a Mitsubishi, Mitsui e o Banco de Tókio. O PRODECER I foi implantado em 1980, no oeste de Minas Gerais, atingindo 70 mil ha do Cerrado do estado, onde forma assentadas135 famílias, em propriedades de 375 ha, em média, além de três empresas agrícolas. Em 1987 inicia-se o PRODECER II, que assentou produtores em áreas de 250 a 400 ha, nos estados de Minas Gerais (4 projetos), Mato Grosso do Sul (1 projeto), Goiás (2 projetos), Mato Grosso (2 projetos) e Bahia (2 projetos). O destaque de MULLER (1989) para o PRODECER II, está nos projetos dos estados da Bahia e Mato Grosso, que implantados em áreas menos articuladas e dimensionaram a função de catalizadores de frentes comerciais. As ações garantiram empréstimos para crédito fundiário, para o desmatamento, limpeza, preparo e correção dos solos, construções, compra de equipamentos e o custeio dos dois primeiros anos de plantio.

Outros Programas de desenvolvimento do Cerrado foram PRONAZEM (Programa Nacional de Armazenagem Rural) liberava a construção de armazéns com prazos de até 10 anos de financiamento; PROCAL (Programa Nacional de Calcário Agrícola) linha de crédito com o intuito de importar e explorar as jazidas de calcário e os prazos de pagamento era de até cinco anos e o PROINVEST (Programa de Investimento Agropecuário) destinava recursos para a aquisição de capitais fixos e semifixos para proporcionar a produção agropecuária e seus prazos chegavam até seis anos.

3.3 Modernização da agricultura e industrialização da agricultura do Sudoeste

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