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CAPÍTULO 4: RESULTADOS

4.1 Segurança, Criminalidade e Vitimação

4.1.1 Principais Problemas

O ponto de partida das nossas entrevistas foi a recolha das perceções sobre os principais problemas que os residentes dos bairros da cidade de Chimoio enfrentam. Respondendo a esta questão geral, os entrevistados foram unânimes em considerar que a “insegurança pelas ações criminosas” constitui o problema fundamental. Detalhando, a

maioria dos entrevistados é concordante na afirmação de que os principais problemas de segurança se prendem especificamente com a ocorrência de crimes, especialmente contra a propriedade, designadamente “arrombamentos, furtos, roubos e assaltos a residências”, cometidos por grupos vulgarmente conhecidos por “nhamacatanas”.

“A situação não está melhor nos bairros suburbanos, temos registado casos de furtos, arrombamentos e roubos em residências” (oficial da polícia).

“Aqui na cidade de Chimoio, o crime manifesta-se em forma oscilatória…tem havido uma onda de crimes e depois recua, mas depois aparece outra,… e assim sucessivamente” (magistrado).

“A questão da criminalidade é a mais inquietadora, … as pessoas estão sempre com medo de serem atacadas por criminosos. As populações não dormem bem durante a noite, mesmo nas ruas os nossos filhos sofrem saque de carteiras e celulares, … a questão de ladrões é mesmo alarmante (autoridade comunitária).

Solicitados a esclarecer o significado da palavra “nhamacatanas”, os entrevistados explicam que esta é a designação atribuída a certos grupos de criminosos, em função da sua forma de atuação:

“São indivíduos que andam em grupo de 6, 8 a 10 membros, portando e utilizando catanas, facas e outros instrumentos cortantes para a consumação dos seus atos. Quando chegam, arrombam as portas da residência, introduzem-se no interior, agridem violentamente o dono da casa e apoderam-se dos bens” (oficial da polícia).

Um dia chegaram numa casa vizinha, e quando o dono saiu disseram-lhe, entra se não…! Eles sempre procuram golpear os donos da casa e, nalgumas vezes, violam mulheres na presença dos maridos. Enquanto uns retiram os bens e violam mulheres, outros estão a fazer guarnição” (autoridade comunitária).

Estas narrativas elucidam que o ambiente de insegurança, comumente descrito como de “medo, alarmante e inquietador” nos bairros residenciais, se deve à conjunção de vários elementos: (i) ao tipo de criminalidade registada, que alia a violência aos atos contra a propriedade (“furtos e roubos concorrendo com ofensas corporais e violações de mulheres”); (ii) sua estrutura e forma de manifestação, caraterizada por “ondas de crime” cujo pico carateriza a perceção do sentimento de insegurança; e (iii) os atos praticados por grupos com o recurso a “instrumentos cortantes” que intimidam e neutralizam qualquer tipo de resistência da vítima.

Conforme a descrição feita por certos entrevistados, em certas zonas específicas, como o bairro 7 de Setembro, o fenómeno criminal que suscita insegurança nas pessoas tem sido

caraterizado, para além das situações anteriormente descritas, pela frequente prática de venda e consumo ilegal de drogas. “O nosso bairro está mais em cima em termos de fornecimentos de drogas”, disse um dos entrevistados. Ainda que, com menor frequência, alguns entrevistados apontam ainda a ausência da presença policial como um aspeto sentido como preocupante pelos residentes da cidade de Chimoio, contribuindo, neste caso, para o sentimento de insegurança. A título elucidativo, um dos entrevistados respondeu da seguinte maneira: “os índices de criminalidade no interior do bairro são maiores, …sabem que a polícia não vai chegar porque tem deficiência de meios” (autoridade de bairro).

Os locais e espaços de maior ocorrência dos atos criminais são os bairros “periféricos, suburbanos e do interior”. São nomeados a título de exemplo vários dos bairros de Chimoio, designadamente os bairros da Textáfrica, 7 de Abril, 7 de Setembro, 25 de Junho, Nhamaonha, 3 de Fevereiro, bairros 4 e 5, todos da cidade de Chimoio.

Os bairros da zona cimento não sofrem com muita frequência esses casos de roubos. Em algum momento o nosso bairro de 7 de setembro tem tido índices de criminalidade mais elevados do que os outros. Eles atacam e põe-se em fuga” (autoridade do bairro).

“Nos bairros suburbanos,… é lá onde acontece mais crimes porque a nossa ação como agentes de segurança pública não consegue atingir, nesses locais, a circulação noturna é mais arriscada, … aí é fácil ser agredido” (oficial da polícia).

Embora, de acordo com as perceções dos respondentes, a criminalidade seja um fenómeno suscetível de transmitir-se de bairro para bairro, e oscilar ao longo do tempo, os bairros periféricos são descritos como assumindo índices de criminalidade maiores relativamente aos outros bairros da cidade.

A maioria dos respondentes refere que, dentro destes bairros, há locais considerados mais vulneráveis, designadamente os que se caraterizam pela abundância de espaços como “casas e talhões abandonados, pequenas matas, valas de riachos” e outros locais ermos, descritos como “esconderijos” de malfeitores.

Estes crimes, particularmente os cometidos pelos “nhamacatanas”, tendem a registar- se, no interior das residências, em muitos casos na presença dos proprietários. Ocorrem também frequentemente na via pública, designadamente em locais de maior aglomeração de pessoas e de desenvolvimento de atividade comercial formal e informal.

As perceções sobre os tempos de ocorrência de criminalidade têm sido comuns na maioria dos entrevistados. Estes consideram que a criminalidade em causa acontece

principalmente no período noturno, com a subsequente intensificação da insegurança subjetiva.

“As pessoas temem mais a noite do que o dia, quando anoitece reduzem os seus movimentos, fecham as portas e outros locais de acesso, …apelamos sempre as pessoas para evitar andar no período da noite. Se for o caso devem andar sempre em grupo e não de forma isolada” (magistrado).

“Na calada da noite há riscos enormes, … aí exige muito cuidado, é preciso estudar a zona por onde eu quero passar, …. É preciso verificar se as condições de segurança favorecem ou não, principalmente nas vias públicas com iluminação deficitária. A maior parte de crimes acontece durante a noite, vitimando viajantes, estudantes e aqueles indivíduos que vêm de convívios noturnos” (oficial da polícia).

Sintetizando, podemos dizer que há uma assinalável concordância entre os entrevistados quanto aos principais problemas de segurança. A criminalidade que, segundo os entrevistados, está no centro da preocupação da população de Chimoio, traduz-se em atos contra a propriedade que assumem contornos violentos, que passa pelo porte e uso de armas brancas e por atos de agressão muitas vezes grave. Os autores são descritos como jovens que estão organizados em grupo e que a população designa por “nhamacatanas”. As zonas da cidade mais vulneráveis são os bairros suburbanos, e nestes, os locais mais desprotegidos e que estão menos sujeitos a vigilância pelas autoridades policiais.