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Principais Reformas Políticas Operadas no Sistema Social e Educativo em Portugal

modernidade escolar em Portugal, começaram pelo Estado Liberal Burguês124. O Liberalismo aposta na criação de um novo sistema de ensino público. Em 1835 a Reforma de Passos Manuel instituiu a escolaridade obrigatória (de nível primário), alargada à população feminina, embora ainda de forma mitigada. Entre 1862 e 1900 o número de escolas triplicou,

        121 CASA-NOVA, 2001.

122 1987.

123 CARNEIRO, 1994, p15.

mas a escola pública continuou a ser um fenómeno essencialmente urbano e minoritário, caracterizada por muitas desigualdades.

Durante a 1ª República, período de construção do Estado-Providência, dá-se (1911) a Nova Reforma do Ensino Primário125. São introduzidos elementos para uma educação moral, através da inculcação de valores e instituições relacionados com a Pátria. Este foi um período marcado por intensas crises políticas, económicas e sociais, que pôs em causa a elevação das taxas de escolarização da população.

Com a queda da 1ª República e a entrada do Regime Ditatorial, em 1927 dá-se a redução de 5 para 3 anos de ensino obrigatório, como uma espécie de “ajustamento” à efectiva procura educativa. Em meados de 50, cumpre-se o desígnio da escolaridade universal. Tudo passa a depender do diploma de instrução primária (relação utilitarista com a escola). No início de 60 prepara-se a escolaridade de 6 anos, instituída em 64 pelo Ministro Galvão Teles, mas os seus efeitos sentem-se apenas 6 anos mais tarde. Veiga Simão publica a nova reforma do sistema educativo em 1971, que contempla a institucionalização do pré-escolar, aumenta a escolaridade de 6 para 8 anos e ainda prevê a inclusão de um 12º ano. Estas medidas foram postas em causa com a Revolução de 74, anos de crise social. Em 1986 é publicada a Lei de Bases do Sistema de Ensino (escolaridade de 9 anos) e daí em diante sucessivas publicações de medidas legislativas. Em 1995 a equipa prossegue as tendências já iniciadas (reajustamento curricular, generalização do pré-escolar, territorialização das políticas…). A modernidade surge com o nascimento da Filosofia na Grécia, entendendo-se este como o primeiro acto instaurador da própria “modernidade”. O mundo é então visto como consciência a partir deste momento “tematizada pela sofística”.126

As autoras127 patenteiam bem que a modernidade escolar em Portugal foi tardia, constantemente marcada por avanços e recuos, avanços lentos e pela presença de medidas legislativas muito fortes, que não viram os seus princípios serem cumpridos. Posteriormente estas centram-se no debate actual sobre a escola portuguesa e sobre o discurso da sua crise, muito alimentado sobretudo pelos media. Não precisamos de ir muito longe para ouvirmos o discurso de que antes é que a escola era boa, mas as autoras alertam para o facto de que as fragilidades do presente revelam ser as fraquezas denunciadas no passado, sendo que já no séc. XIX se faziam ouvir as críticas à qualidade do ensino. Em meados do séc. XX uma percentagem diminuta de alunos ia além do ensino primário, com excepção para os estudantes

       

125 3 Anos de ensino obrigatório + ensino primário complementar (2 anos) + ensino primário suplementar (3 anos). Oito anos mais tarde, a escolaridade obrigatória passou a ser de 5 anos.

126 GIL e CARNEIRO, 2006, p.21. 127 ALMEIDA e VIEIRA, 2006.

liceais, aumento da selectividade social e académica no interior do sistema e um ensino superior restrito a um privilegiado subgrupo de uma geração.

As autoras consideram, assim, que a escola actual encerra uma forte dimensão socializadora e que as sociedades contemporâneas vivem um momento não tanto de crise mas de reconversão de valores, fruto das suas próprias escolhas culturais, alegando que a mudança não pode nunca ser analisada partindo de mitos.

Encontramos aqui, de certa forma, uma visão positiva das mudanças operadas no interior do sistema educativo. Não obstante este facto, devemos, no entanto, considerar que permanece uma forte resistência à obrigatoriedade escolar, de que nos fala João Sebastião128. Esta obrigatoriedade, que tinha como objectivo último esbater as desigualdades sociais através da massificação do ensino, desemboca em situações de exclusão, numa desvalorização da escolaridade elevada e na permanência dos interesses das classes dominantes. A dualidade da sociedade portuguesa em muito contribui para acentuar estes fenómenos. De resto, é bem visível a desertificação a que estão votadas as zonas rurais, potencializada pelo encerramento de escolas, que provoca situações de insucesso, abandono e desmotivação devido à pouca acessibilidade a equipamentos educativos, reflexo do diferente investimento feito pelo Estado Português nestas regiões, também ele muito dualizado. São as próprias instâncias teoricamente potenciadoras de uma maior inclusão e igualdade de oportunidades que alimentam os processos de reprodução social, conceito herdado de Pierre Bourdieu que encontra aplicação na contemporaneidade da sociedade portuguesa. Um conceito abordado por Sebastião é o da “globalização”, pela notável influência que trouxe para o interior do espaço social escolar, através da divulgação de práticas educativas inovadoras, pela diversidade cultural capaz de imprimir no sistema e pelo surgimento de novos meios tecnológicos ao dispor dos alunos. Mas também aqui encontramos processos de exclusão, uma vez que não são criadas condições para que todos acedam a estes meios em condições idênticas, criando mecanismos diferenciados de acesso à informação e à sua rentabilização. Os mais qualificados acabam por obter emprego e maior estatuto social e os menos qualificados acabam vítimas de desigualdade social. O autor defende que este é um campo onde têm de ser introduzidas inovações, começando pela necessidade da manifestação clara de uma grande vontade política (novas competências para as novas gerações, estabilidade e sensibilidade à mudança, inovação organizacional, profissionalização da gestão e territorialização da actividade educativa). As escolas precisam, na sua perspectiva, de maior

        128 SEBASTIÃO, 1998.

autonomia regulada e responsabilizada, na qual possa ser incluída toda a comunidade envolvente.129

Segundo Skills e contemplando as novas medidas políticas, revela-se uma afluência salientada no que são as dificuldades e os desenlaces encontrados: “é notória uma generalizada aposta

na aprendizagem ao longo-da-vida através do recurso a um conjunto de mecanismos que favorecem a orientação para as competências, o acesso generalizado à qualidade formal e a mobilidade entre os subsistemas de educação -formação e entre o trabalho e a educação.”130

Em forma de retrospectiva, as fracas apostas na área da educação e formação ao longo de vários séculos em Portugal, são elucidativas para o indispensável esforço de qualificação e agora considerado mesmo emergente, tendo em conta o real «catching up» analogamente com o de outros países.