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3. CENTRAL TERMOELÉTRICA DO PEGO

3.2. Principais resíduos da CTP

A gestão dos resíduos industriais é parte integrante de qualquer indústria, não só por questões ambientais, mas também por questões económicas. A Figura 3.4 mostra os fluxos principais na CTP. Os resíduos sólidos principais formados são as CV, as escórias e o gesso. Simultaneamente são emitidos para a atmosfera uma grande quantidade de gases. O principal objetivo é a produção de energia elétrica.

As CV, Figura 3.2 (13), são um dos produtos formados na combustão do CM no interior da caldeira. Devido às dimensões reduzidas, são arrastadas pelas emissões gasosas resultantes da combustão, Figura 3.2 (4). Para evitar que estas sejam libertadas pela chaminé, são utilizados precipitadores electroestáticos, Figura 3.2 (11). Neste equipamento, as partículas são carregadas eletricamente, sendo atraídas para as placas coletoras. Um sistema mecânico de martelos provoca a queda das CV, por meio de um batimento controlado, para reservatórios situados na parte inferior do precipitador. Finalmente, este resíduo é encaminhado pneumaticamente para silos de armazenamento. Os precipitadores electroestáticos da CTP operam a um caudal de

alimentação de 541 m3/s, apresentando uma taxa de remoção na ordem dos 99.8%. A

concentração de partículas nas emissões gasosas é cerca de 15 mg /m3.

A CV é então armazenada em dois silos, Figura 3.5a), e pode ter dois trajetos diferentes, de acordo com as suas características. Caso cumpra requisitos pré-definidos é comercializada; caso contrário, é depositada em aterro, Figura 3.5b), por intermédio de camiões cisterna. Por vezes, toda a CV produzida é depositada em aterro, por não ter procura comercial.

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Toda a CV depositada em aterro é previamente misturada com água para que a sua deposição não provoque nuvens de poeira (descarga húmida). Periodicamente, é também compactada para evitar a sua dispersão pelo vento. A plantação de vegetação nas fronteiras do aterro também é prática comum para evitar as perturbações causadas pelo vento. Para além da CV, o aterro ainda serve para a deposição de escórias e gesso. Como este tipo de resíduos está a céu aberto, o contacto direto com a água da chuva pode provocar lixiviados que são prejudiciais caso se infiltrem em lençóis de água subterrâneos. Para evitar que tal aconteça, o aterro está impermeabilizado em toda a sua extensão e ainda está rodeado com vários poços piezométricos que asseguram um rigoroso controlo da água subterrânea.

As escórias, Figura 3.2 (14), são também um resíduo que se forma durante a combustão de CM pulverizado, acumulando-se no fundo da caldeira. A Figura 3.6 apresenta a produção de

escórias na CTP ao longo dos anos.

Ano 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 E scória produzida (kt ) 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Figura 3.5 – a) silos de armazenamento principais de cinza volante; b) vista aérea do aterro de cinzas.

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Os gases de combustão são tratados de modo a minimizarem o impacte ambiental. No ano de 2006, surgiu como consequência da Diretiva 2001/80/EC um projeto de redução de

emissões gasosas denominado Large Combustion Plant Directive. O objetivo é reduzir o teor

de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de azoto (NOx) presente nos gases libertados para a

atmosfera. Assim, foram construídas uma unidade de dessulfurização e uma unidade de desnitrificação na CTP.

Primeiramente, as emissões gasosas são sujeitas a uma Redução Catalítica Seletiva

(SCR) na unidade de desnitrificação, com o objetivo de reduzir o NOx em azoto (N2). Para isso,

é utilizada amónia como agente redutor:

4𝑁𝑂 (𝑔) + 4𝑁𝐻3(𝑎𝑞) + 𝑂2(𝑔) → 4𝑁2(𝑔) + 6𝐻2𝑂(𝑙) (3.1)

6𝑁𝑂 (𝑔) + 8𝑁𝐻3(𝑎𝑞) → 7𝑁2(𝑔) + 12𝐻2𝑂(𝑙) (3.2)

Na unidade de dessulfurização, o SO2 é removido das emissões gasosas por intermédio

de absorvedores onde ocorrem reações de neutralização. Essa remoção é efetuada através da

reação do SO2 com CaCO3 dando origem ao gesso (CaSO4), Figura 3.2 (15):

𝐶𝑎𝐶𝑂3(𝑎𝑞) + 𝑆𝑂2(𝑔) + 2𝐻2𝑂 (𝑙) + 1

2𝑂2(𝑔) → 𝐶𝑎𝑆𝑂4. 2𝐻2𝑂 (𝑠) + 𝐶𝑂2(𝑔) (3.3)

3.2.1. Legislação aplicável

No sentido de cumprir com os compromissos ambientais e de acordo com o requerido pelas legislações em vigor, a CTP desenvolveu um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), de acordo com os requisitos do Regulamento (CE) nº 761/2001, do Parlamento Europeu e do Conselho de 19 de março de 2001. Este regulamento permite a participação voluntária de organizações num sistema comunitário de ecogestão e auditoria (EMAS). O SGA é certificado pela Norma ISO 14001:2004, tendo sido a primeira unidade industrial em Portugal a obter esta certificação.

No caso das emissões gasosas, a Diretiva 2001/80/CE do Parlamento Europeu e do Conselho “relativa à limitação das emissões para a atmosfera de certos poluentes provenientes de grandes instalações de combustão” que foi transposta no Decreto-Lei nº 178/2003, de 5 de

agosto, limita não só as quantidades de NOx e de SOx, como também as quantidades de

partículas para o ambiente. Na Tabela 3.1 estão discriminados os limites máximos de SO2 e

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Tabela 3.1 – Limites máximos legais para as emissões gasosas segundo a Diretiva 2001/80/CE.

A Diretiva nº 96/61/CE, do Conselho, de 24 de setembro, marcou o início da concretização de uma política de Prevenção e Controlo Integrados da Poluição (PCIP). Desde então, estão abrangidas pelo PCIP – “atividades económicas com poluição considerada significativa”. A CTP é uma dessas indústrias, por isso, é necessário uma Licença Ambiental, que neste caso é a Licença Ambiental nº 42/2007, emitida à Tejo Energia – Produção e Distribuição de Energia Elétrica, S.A.. Com vista ao total cumprimento dos limites legais estabelecidos, existem 7 estações de análise espalhadas por diferentes localidades em redor da

CTP que fornecem informações em contínuo, acerca da qualidade do ar em termos de SO2, NOx

e quantidade de partículas. Existe ainda mais 2 estações que estão localizadas no rio Tejo, que medem em contínuo a condutividade, o pH, a temperatura e o oxigénio dissolvido.

De modo a assegurar a correta recolha, armazenamento, transporte, reciclagem, reutilização ou eliminação dos resíduos, estes devem ser classificados com o código da Lista Europeia de Resíduos (LER), aprovada pela Decisão da Comissão 2014/955/EU. Os resíduos são definidos por um código de seis dígitos e os assinalados com “*” são classificados como resíduos perigosos. Na Tabela 3.2 são apresentados os códigos LER para os principais resíduos produzidos na CTP.

Tabela 3.2 – Códigos LER dos principais resíduos produzidos na CTP.

3.2.2. Destino final dos resíduos

As CV e as escórias são resíduos obtidos a altas temperaturas, relativamente estáveis, e, cujo principal problema resulta da sua forma particulada e enorme quantidade produzida.

O destino final das escórias produzidas é o aterro, na medida em que não há, atualmente, nenhuma valorização significativa deste resíduo por parte de outras indústrias. Umas das razões

Emissões Limite em 2008 (mg/Nm3) Limite em 2016 (mg/Nm3)

SOx 400 200

NOx 500 200

Partículas 50 50

Designação do resíduo Código LER

Cinzas, escórias e poeiras de caldeiras 10 01 01

Cinza volante da combustão do carvão 10 01 02

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para isso acontecer prende-se com um facto deste resíduo possuir uma taxa significativa de metais pesados na sua composição.

Por sua vez, as CV são principalmente comercializadas. A indústria cimenteira é regularmente o destino final das CV produzidas, utilizando-as na produção de cimento e outros derivados. Nos últimos 10 anos, aproximadamente 73% da CV produzida na CTP foi comercializada. Na Figura 3.7 mostra-se a quantidade de CV comercializada, bem como a quantidade depositada em aterro ao longo dos anos.

O gesso formado na dessulfurização é armazenado em silos e posteriormente comercializado.

Finalmente, importa referir que a água utilizada no processo é devolvida ao rio, após tratamento.

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