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CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES

7.2. Principais resultados da análise de dados

Como já foi referido, este estudo foi centrado na análise das respostas a um questionário destinado a alunos do 6º Ano de Escolaridade.

7.2.1. Caracterização dos alunos inquiridos

A primeira parte do questionário incluía perguntas que possibilitavam a recolha de dados para caracterizar os inquiridos, bem como o seu agregado familiar e o meio social em que se inseriam.

A amostra era constituída por 412 alunos, com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos, sendo 53% do sexo masculino e 47% do sexo feminino,.

Relativamente às nacionalidades, Portugal era o país mais representado, totalizando 385 dos inquiridos, o que correspondia a 93,4%. Seguiam-se o Brasil, a Moldávia, Cabo-Verde, a Suíça, Angola, a Índia, a Rússia e a Ucrânia, com percentagens pouco significativas.

Os níveis de escolaridade dos pais eram diversos, sendo a licenciatura o mais representado (23,4%). Pensa-se ser importante referir ainda que 3,7% dos pais dos inquiridos não tinham frequentado a escola ou não tinham terminado os estudos e que 10,3% apenas tinham concluído o 1º Ciclo do Ensino Básico.

A nível profissional, verificou-se que a maior percentagem dos pais (73,2%) trabalhava no sector terciário.

7.2.2. Papel da língua portuguesa na formação dos alunos inquiridos

Na segunda parte do questionário, os alunos foram inquiridos acerca do papel da língua portuguesa na sua formação, tendo em conta o seu envolvimento na vida escolar e a sua vida extra-escolar, ou seja, as suas práticas sociais.

Tendo em conta os domínios trabalhados no âmbito do ensino/aprendizagem da língua portuguesa (Ouvir/Falar, Ler, Escrever e Funcionamento da língua), inquiriu-se os alunos sobre o que aprendiam nas aulas da área curricular disciplinar de Língua Portuguesa.

Metade dos inquiridos nesta investigação considerou que, nas aulas de Língua Portuguesa, aprendia sobretudo a compreender o funcionamento da língua.

A valorização deste item ocorreu em detrimento de outros relativos à compreensão e produção de enunciados orais e escritos.

Pensa-se que esta valorização decorre da grande sensibilização dos docentes para a importância do domínio da língua portuguesa em termos do seu funcionamento e do seu conhecimento explícito, o que se reflecte no processo de ensino/aprendizagem a ela associado.

Possivelmente, é dada esta importância ao funcionamento da língua, porque o estudo da gramática de uma língua desenvolve a capacidade de análise e de abstracção e concretiza o modo como o conhecimento linguístico está organizado no cérebro dos indivíduos. Assim, ao estabelecer relações

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entre elementos, ao exercitar o raciocínio exigido pelo estudo gramatical, o aluno está a desenvolver competências cognitivas.

Paralelamente, os alunos assumiam também como singularmente marcante a aplicação da língua portuguesa em diversas situações, opção proposta em alternativa às que se referiam aos vários domínios trabalhados na área curricular disciplinar de Língua Portuguesa.

Posteriormente, foi pedido aos inquiridos que referissem algumas situações, no âmbito da vida escolar, em que pudessem aplicar as aprendizagens feitas nas aulas de Língua Portuguesa.

Os inquiridos consideraram as aprendizagens feitas no domínio da comunicação escrita (quer em compreensão, quer em produção), no âmbito do ensino/aprendizagem da língua portuguesa, como as mais aplicadas em contexto escolar, no geral. Concretamente, referiram situações que combinavam a compreensão e a produção escrita, tais como a elaboração de resumos (certamente para estudar) e a realização de testes escritos.

Tal facto não é de estranhar, dado que a compreensão na leitura e a produção escrita são duas competências fundamentais a desenvolver, para que se possa aprender e obter bons resultados em todas as áreas curriculares, disciplinares e não disciplinares.

No que se refere especificamente à compreensão na leitura, colocada no centro do nosso estudo, os docentes são frequentemente confrontados com o facto de os alunos não compreenderem verdadeiramente o que lêem, mesmo que possuam aptidão para a leitura.

No âmbito da vida extra-escolar, os inquiridos valorizaram sobretudo o desenvolvimento da comunicação oral e a leitura e compreensão de textos escritos (tais como os que figuram em revistas e livros, as legendas dos filmes, a publicidade, os rótulos de produtos) como as competências desenvolvidas a partir das aprendizagens feitas na área curricular de Língua Portuguesa a que mais recorriam em situações do dia-a-dia.

Em suma, a partir da análise das respostas dadas pelos inquiridos a esta parte do nosso questionário, verificou-se que, no que dizia respeito à

aprendizagem e aplicação no meio escolar, estes alunos valorizavam sobretudo as competências associadas à compreensão na leitura e à produção escrita.

Tal facto deverá ser associado às actividades realizadas em sala de aula. Tendo como base essas actividades, os alunos vêem como essencial o desenvolvimento de competências associadas à compreensão na leitura e à produção escrita, desvalorizando a competência oral. Apesar de ser utilizada, possivelmente fica em défice nas aulas de Língua Portuguesa.

Em contrapartida, no meio social, consideraram que a competência oral era a mais importante. Davam ênfase ao diálogo com os outros, defendendo que os conhecimentos e competências desenvolvidos nas aulas da área curricular disciplinar de Língua Portuguesa clarificavam e desenvolviam a capacidade de comunicar correctamente com as outras pessoas.

Nesta segunda parte do nosso questionário, foi ainda pedido aos inquiridos que dessem exemplos de actividades realizadas nas restantes áreas curriculares, disciplinares e não disciplinares, que contribuíssem para melhorar o seu domínio da língua portuguesa.

Nas suas respostas, referiram a tradução de textos do Inglês para o Português como a actividade mais importante neste contexto, prevalecendo, assim, o exercício de competências associadas à compreensão e produção escrita.

Relativamente às áreas curriculares de Educação Visual e Tecnológica e de Educação Física, assinalaram a produção de textos orais como a actividade mais importante em termos de contributo para um melhor domínio da língua portuguesa, dado que são áreas mais práticas, que implicam um diálogo constante entre os alunos e os professores.

No que dizia respeito às áreas curriculares não disciplinares, prevaleceu a produção de textos escritos.

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7.2.3. Abordagem da leitura nas aulas de Língua Portuguesa

A partir das respostas dadas às perguntas incluídas na terceira parte do questionário, relativas ao lugar ocupado pela leitura nas aulas de Língua Portuguesa, pudemos também tirar algumas conclusões.

No que se refere às representações dos inquiridos acerca do papel da leitura nas suas aulas de Língua Portuguesa, bem como à forma como as competências a ela associada eram trabalhadas nessas mesmas aulas, é de salientar que estes referiram que aprendiam a trabalhar a leitura sobretudo para desenvolver as suas competências de compreensão e produção de textos escritos em língua portuguesa.

A aprendizagem da leitura para desenvolver capacidades úteis na sua futura vida profissional foi desvalorizada, pois apenas 12% dos alunos a consideraram como uma actividade principal no seu desenvolvimento.

Assim, verifica-se que há congruência no que diz respeito à importância atribuída ao desenvolvimento de capacidades através da aprendizagem da leitura, pois a maior parte das respostas referiam a leitura como auxiliadora no desenvolvimento de competências em comunicação escrita.

Quando inquiridos sobre situações, no âmbito da vida escolar, em que aplicavam as aprendizagens relacionadas com a leitura feitas nas suas aulas de Língua Portuguesa, 40% dos inquiridos valorizaram sobretudo a análise e compreensão de textos escritos e 20% destacaram a leitura de textos nas diferentes áreas curriculares, disciplinares e não disciplinares.

É ainda de referir que 6,3% destes alunos mencionaram que aplicavam as aprendizagens relacionadas com a leitura feitas nas aulas de Língua Portuguesa na decifração de mensagens orais, o que lhes permitia estabelecer um universo de relações pessoais e sociais. Tal facto não é de estranhar, dado que a compreensão na leitura e a comunicação oral são duas competências fundamentais que permitirão a inclusão futura no mundo profissional e na sociedade em geral.

No que se refere à aplicação das aprendizagens em leitura feitas nas aulas de Língua Portuguesa em situações do dia-a-dia, um pequeno número de inquiridos referiu a leitura e compreensão de obras literárias do seu interesse (23,4%) e a produção de pequenos textos utilizados no dia-a-dia (18%).

Segundo os nossos inquiridos, a actividade mais realizada nas aulas de Língua Portuguesa para desenvolver competências associadas à compreensão na leitura era a leitura e compreensão de textos escritos, referida por 60% deles. De seguida, surge a redacção de pequenos textos, referida por 14% dos alunos inquiridos.

No que diz respeito a outras actividades que gostariam de ver realizadas nas suas aulas de Língua Portuguesa para desenvolver competências em compreensão na leitura, 38% dos inquiridos referiram a realização de tarefas lúdicas em que aplicassem os seus conhecimentos, tais como palavras cruzadas e sopa de letras. É salientada por 20% dos inquiridos a necessidade de ler obras literárias do seu interesse, livros que motivem para a leitura, que vão ao encontro das suas realidades. A dramatização de textos também é referida por 19% dos alunos como uma actividade da sua preferência, que pode contribuir para o desenvolvimento de competências em compreensão na leitura.

Os alunos mencionam estas actividades, porque, na sua opinião, desenvolvem competências em compreensão na leitura, essenciais para o seu crescimento social e intelectual, de uma forma mais lúdica, mais interessante e mais motivadora.