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6 COMPETITIVIDADE SISTÊMICA

7.6 Os principais problemas da cabotagem e as principais soluções

7.6.2 Principais soluções para a cabotagem

No que tange às soluções para os cinco principais problemas avaliados, são propostas ações em curto, médio e longo prazo.

Para o primeiro problema observado, que envolve a ampliação da frota de navios, as principais soluções são: tornar flexíveis os processos de afretamento em curto prazo; desburocratizar a importação de navios em médio prazo; e investir em tecnologia e mão de obra para aumento da capacidade dos estaleiros brasileiros para a construção de navios no país em longo prazo.

Para minimizar o segundo problema avaliado, que abrange os custos com o navio, as principais soluções consistem em: realizar um diagnóstico do mercado de trabalho, a fim de identificar se existe ou não carência de tripulação marítima; revisar a incidência do ICMS sobre o combustível para a cabotagem, sendo esta uma medida fundamental para a desoneração da modalidade; e realizar um estudo de origem e de destino das cargas para melhorar os fluxos das linhas de cabotagem em curto prazo. Em médio prazo, são necessárias ações para: ampliar a oferta de cursos de formação e capacitação de marítimos; subsidiar o combustível dedicado à cabotagem; e incentivar as cargas de retorno de contêineres vazios. Em longo prazo, é preciso consolidar a formação e a capacitação da tripulação marítima.

Para o terceiro problema analisado, que envolve a legislação, as principais saídas requerem ações no sentido de: acelerar o desembaraço de cargas; acelerar o processo de ressarcimento do AFRMM; revisar os tributos do transporte aquaviário e tornar flexível a formação dos práticos, em curto prazo. Em médio prazo, deve-se estimular a instalação de indústrias próximas aos portos e adotar a meritocracia como base para a escolha dos práticos. Já em longo prazo, as ações consistem em consolidar o transporte aquaviário, impulsionando o transporte de cabotagem, e revisar as normas que regem a praticagem.

Segundo os entrevistados, há excesso de legislação, e isto dificulta a ampliação da cabotagem. Os armadores apontam a necessidade de eliminar algumas barreiras para o crescimento do setor:

• Exigências documentais, tais como o pagamento da Taxa de Utilização Mercante – TUM, para cada Conhecimento de Transporte Eletrônico - CTE emitido para a liberação da carga. Se um contêiner possui carga consolidada, ou seja, vários embarcadores ou vários recebedores, deverão ser pagos tantas TUM’s quantos sejam

os CTEs emitidos, embora estejam relacionados ao mesmo contêiner. Isto onera os custos da cabotagem e pode aumentar o transit-time das cargas, pois, se um navio opera no final de semana, o pagamento só é efetuado no próximo dia útil;

• Controle das cargas semelhante aos das cargas internacionais: O Siscomex Carga exige planejamento maior por parte do embarcador e do armador. Por exemplo, para o embarque de uma mercadoria em um navio que está programado para atracar no porto A na terça feira pela tarde, na segunda-feira anterior o contêiner e a documentação devem estar prontos e disponíveis dentro de um deadline estabelecido, ficando o armador passível de bloqueio da carga e multa pela RFB, caso não atenda ao prazo para manifestar a carga apta para o embarque. Isto diminui a competitividade da cabotagem frente ao concorrente rodoviário para as empresas que não planejam a adaptação ao transporte marítimo de cabotagem que exige maior planejamento e programação logística.

Para o quarto problema observado, que abrange o porto, as principais soluções consistem em: investir na divulgação da modalidade; fortalecer parcerias com outros portos; melhorar os serviços de movimentação de cargas, investindo em máquinas e equipamentos modernos e adequados à necessidade local; capacitar e qualificar profissionais, reestruturando o OGMO; rever a composição tarifária; fazer diagnóstico da capacidade atual; e realizar dragagens regulares, em curto prazo. Em médio prazo, é preciso: ampliar as linhas de navegação; adotar gestão com foco na qualidade e produtividade; ampliar e modernizar a infraestrutura e a superestrutura portuária. Já em longo prazo, é necessário consolidar tarifas e preços diferenciados para a cabotagem; estabelecer produtividade mínima aos operadores portuários e efetivar o porto do Pecém como porto concentrador de cargas.

A ampliação dos investimentos em melhoria de infraestrutura e superestrutura são imprescindíveis para a adequação, desde a profundidade dos berços e pontes mais largas entre os píers e pátios até a modernização de guindastes para maior produtividade nas operações dos navios. Isto é, deve-se investir em modernos equipamentos de movimentação (portêineres e transtêineres) e em infraestrutura portuária para operação de cargas conteinerizadas (aprofundamento de cais, construção de novos terminais ou modernização de terminais), permitindo maior automatização e agilidade nas operações dos modernos navios porta- contêineres. Estes investimentos devem ser prioridade em todos os portos do país, a fim de integrar a operação portuária nacional. Sendo os recursos financeiros disponíveis do Estado

limitados e insuficientes, devem ser complementados pela iniciativa privada, mediante o estímulo às parcerias-público-privada (PPPs).

Falta profissionalização da estiva do OGMO, cujo sistema de gestão deve ser atualizado para um modelo integrado e sistêmico, pois o atual não favorece a competitividade, a eficiência e os interesses em investimentos na qualidade e nos processos. Existe deficiência de controle e mensuração de indicadores que possam trazer benefícios ao setor, sendo um ambiente com desperdícios, retrabalhos e baixa produtividade. Portanto, é preciso investir também na profissionalização e no aumento da produtividade da mão de obra portuária para movimentação de cargas, e melhorar a gestão operacional/administrativa do terminal para a entrega e retirada de cargas. Para tanto, deve-se adotar um sistema de gestão da qualidade, estabelecendo programas de metas, assegurando a qualidade e foco no cliente, na prestação dos serviços.

Para minimizar o quinto e último problema avaliado, que compreende a burocracia no setor, as principais soluções são: o mapeamento do fluxo dos processos para identificar as dificuldades na liberação dos navios e das cargas e o benchmarking de processos portuários em curto prazo. Em médio prazo, é necessário simplificar os processos com a adequação tecnológica. Já em longo prazo, é preciso incentivar a desburocratização no recebimento e a liberação das cargas, consolidando processos mais eficientes.

Conforme apontam os resultados da pesquisa, não há fortes ações e políticas de estímulo ao setor marítimo no Brasil. A exemplo do caso europeu, bem-sucedido no desenvolvimento da navegação costeira, deve-se estabelecer um plano estratégico nacional para incentivo ao transporte marítimo de cabotagem. Além disto, deve-se revisar e dar sequenciamento ao PNLT e ao PELT CE, para a soma de esforços pelo desenvolvimento da navegação costeira e para a consolidação da modalidade.

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