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a) Privação do poder de disposição e de administração: indisponibilidade dos legais representantes sobre o património insolvente.

Por força do art. 81.º do CIRE o insolvente, por efeito da declaração de insolvência, fica privado, por si, ou por intermédio dos seus administradores do poder de disposição e de administração dos bens que integram a massa insolvente. Nos termos do artigo 81.º número 2 do CIRE é igualmente vedado ao devedor, dispor dos bens ou rendimentos futuros, mesmo daqueles que venha a adquirir apenas após o encerramento do processo. Ora trata-se de bens e rendimentos que não integram a massa insolvente, uma vez que são adquiridos após o encerramento do processo e por isso após a cessação dos efeitos da declaração de insolvência sobre o devedor. Deriva deste facto o administrador da insolvência assume a representação do insolvente para todos os efeitos de carácter patrimonial que interessam à insolvência, vide artigo 81.º número 4 do CIRE. 54

54 SUBTIL, A. Raposo; ESTEVES, Matos; ESTEVES, Maria José; MARTINS, Luis M. “Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas” Anotado, 2ª Edição, Fevereiro de 2006.

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Em consequência, o insolvente é agora representado pelo administrador da insolvência para todos os efeitos de carácter patrimonial que interessem à insolvência (art. 81.º, n.º 4), competindo-lhe, designadamente, o exercício dos poderes de administração e de disposição dos bens do insolvente que integram a massa insolvente (art. 81.º, n.º 1 in fine), mas encontrando-se excluída da sua competência, salvo expressa disposição legal em contrario, a representação do insolvente no próprio processo de insolvência ( incluindo os seus incidentes ou apensos, cfr artigo 81, número 5 do CIRE, logo do ponto de vista não patrimonial os órgãos do insolvente mantêm-se.

A proibição de administração e de disposição dos bens presentes ou futuros é aplicável ao insolvente, por si ou pelos seus administradores, como resulta do artigo 81.º número 1 do CIRE. Caso seja pessoa singular o insolvente a proibição aplica-se directamente ao devedor e também aos seus administradores ou seja, de acordo com o artigo 6 número 1 b) . Tratando-se de insolvente pessoa colectiva, a proibição aplica-se ao insolvente quanto à sua actuação através dos seus administradores, ou seja aquelas pessoas a quem incumba a administração ou liquidação da entidade. Finalmente tratando se de uma insolvência de um património separa, a proibição aplica-se àqueles a quem incumba a administração ou liquidação do património em causa.

Relativamente ao âmbito objectivo, o insolvente fica proibido de praticar actos de disposição e de administração sobre os bens que integram a massa insolvente, que são separados do património geral, de forma a constitui uma património autónomo – designado por massa insolvente.55 sentença de insolvência artigo 36 g), decreta-se a apreensão de todos os bens do devedor, no seu seguimento e nos termos do artigo 149.º número 1 e artigo 150.º número 1 do CIRE, cabe ao administrador de insolvência diligenciar, de imediato para que esses bens lhe sejam imediatamente entregues, ficando deles seu fiel depositário, isto se o devedor não requerer que a administração lhe fique confiada nos termos do artigo 2214.º e seguintes. Ora podemos então definir a massa insolvente como sendo constituída por todo o património do devedor, à data da declaração de insolvência, bem como pelos bens e direitos que tenham alcance patrimonial e sejam conversíveis em dinheiro que ele adquira na

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FERNANDES, Luís A. Carvalho e LABAREDA, João, Colectânea de Estudos sobre a insolvência, Quid Júris Reimpressão, 2011

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pendência do processo cabendo em primeiro lugar, utilizar o seu acervo para pagar as dividas da massa e o excedente para os credores, segundo a ordem que lhes caiba. O carácter universal do processo da insolvência não é absoluto uma vez que panas os bens susceptíveis de penhora podem ingressar na massa, resultando que a identificação dos bens susceptíveis de ingressar na massa insolvente decorre do preenchimento do conceito de penhorabilidade e por isso do disposto dos artigos 822.º e seguintes do CPC.

Deve realçar-se que o insolvente não perde o poder de disposição e de administração de todo q qualquer bens, pois conserva estas faculdades relativamente aos bens estranhos à insolvência ou seja aos bens que não pertencem à massa insolvente, quer trate dos seus bens (porque impenhoráveis) ou de bens de terceiros.

Coloca se também a questão da sujeição da remuneração auferida pelo insolvente às regras gerais da penhora – a saber a penhorabilidade 56 de apenas um terço dessa quantia como decorre do artigo 824, número 1 a) CPC, e a livre disponibilidade dos restantes dois terços. Nesta questão a jurisprudência não tem sido uniforme, havendo Acórdãos que defendem a penhorabilidade de 1/3 dos rendimentos auferidos pelo insolvente no exercício da sua actividade laboral e após a declaração de insolvência, designadamente os salários, as prestações periódicas a titulo de aposentação ou de regalia social ou pensão de natura semelhante resultantes de actividade laboral pelo contrário, existem decisões que defendem a sua impenhorabilidade, segundo o Acórdão da relação de Lisboa de 16/11/2010, no processo de insolvência o produto do salário ou pensão de reforma auferidos pelo insolvente após a declaração de insolvência, encontra-se fora do conjunto de bens e direitos susceptíveis de apreensão para a massa.

Outra questão deveras importante, reporta se à casa morada de família. Importante deste modo referir que torna se imperativo fazer uma distinção consoante a mesma seja casa de morada de família arrendada e a casa de morada de família própria, ora tratando se de uma casa de morada de família arrendada, uma vez que o direito de arrendamento da casa de morada de família constitui um direito inalienável e em consequência um bem absolutamente impenhorável não pode ser inserido na massa insolvente com vista a satisfação dos credores de insolvência, na pendência de uma caso de morada de família próprio, é insusceptível de exclusão da execução insolvencial, encontrando-se adstrita ao pagamento dos credores.

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EPIFÂNIO, Maria do Rosário, Manual Direito da Insolvência, 5º Edição, Almedina, 2013/ EPIFÂNIO, Maria do Rosário, Os Efeitos Substantivos da Falência, edição PUC, Porto, 2000

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estando portanto vedado ao insolvente a cessão de rendimentos ou a alienação de bens futuros susceptíveis de penhora, independentemente da sua natureza e ainda que os mesmos sejam respectivamente obtidos ou adquiridos após o encerramento do processo. Ao nível das obrigações, qualquer acto ou facto jurídico idóneo para ser fontes de obrigação, inclusive delitos, enriquecimentos indevidos gestão de negócios, não pode ser praticado pelo insolvente com eficácia sobre a massa insolvente, este principio da insensibilidade do património a todas as obrigações, independentemente da sua fonte ou da sua natureza encontram-se consagrados no artigo 81,º número. No que concerne aos direitos reais, o insolvente não perde a sua titularidade, mas apenas no que diz respeito à propriedade, o direito de fruição, o direito de transformação, o direito de alienação, uma vez que por mero efeito da declaração de insolvência, o administrador da insolvência fica instituído dos seus poderes de apreensão de todos os bens integrantes da massa insolvente. No entanto não significa que o insolvente fique impedido de praticar todo e qualquer acto jurídico, vindo desde logo à tona os actos de natureza pessoal, tais como o direito de casar, de requerer o divórcio ou a separação de bens e bens, de testar, ou seja por actos exclusivamente pessoais deve-se entender todos aqueles actos insusceptíveis de prejudicar os credores e por isso desprovidos de qualquer conteúdo patrimonial relevante.

Para finalizar, o insolvente não fica também impedido de praticar todo e qualquer acto de conteúdo patrimonial mas apenas os actos de conteúdo patrimonial relevante, ou seja desde logo pode praticar actos de disposição e de administração dos seus bens que não tenham sido apreendidos para a massa insolvente (vide artigo 81.º número 1 a contrario) e dos bens de terceiro. Importa ainda realçar que a lei reconhece ao insolvente o direito a um subsídio a título de alimentos a atribuir à custa dos rendimentos da massa insolvente do qual pode dispor sem qualquer entrave legal (artigo 84 CIRE) e que se encontra isento de penhora

b) Invalidade dos actos praticados pelos legais representantes; Análise do