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PRIVATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADODEGOIÁS: mapeamento dos programas operados

REGIÃO CENTRO-OESTE

PRIVATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADODEGOIÁS: mapeamento dos programas operados

por atores privados (2015 – 2018)

Cassia Domiciano Universidade Federal do Paraná

Márcia Cossetin Universidade Federal de Rondonópolis - MT

Introdução

Neste capítulo apresentam-se os programas e atores privados localizados no estado de Goiás, fruto da atualização da pesquisa “Mapeamento das estratégias de privatização da Educação Básica no Brasil (2005-2018)”, coordenada por Theresa Adrião. De modo mais específico, evidenciam-se três programas selecionados conforme critérios definidos no âmbito da investigação, sendo eles: capilaridade, incidência e perenidade. Entende-se capilaridade, a abrangência dos programas, ou seja, a diversidade dos segmentos escolares envolvidos, as etapas de escolaridade atendidas e as dimensões da política educativa atingida em sua execução (gestão, currículo e oferta) (ADRIÃO, coord., 2019).

Inicialmente, realiza-se a caracterização do estado em que consta a situação geográfica, política e econômica. Tais características demarcam a posição do estado nesses diferentes contextos ajudando na compreensão do processo de privatização que se materializa na rede estadual de ensino. Em seguida, expõe-se todos os programas encontrados no período de 2005 a 2018 para evidenciar, de forma mais detalhada, os três que se enquadram nos critérios definidos para seleção.

Caracterização do estado de Goiás

O estado de Goiás localiza-se na região centro-oeste do Brasil, com uma extensão territorial de 340.086 km². A população total do último Censo realizado no ano de 2010 era de 6.003.788 milhões de habitantes e densidade demográfica de 19,93 habitantes/km² com uma estimativa para o ano de 2020 de 7.113.540 habitantes. É o estado mais populoso da região centro-oeste e seu território compõe-se por 246 municípios (IBGE, 2010).

O Índice de Desenvolvimento Humano no ano de 2010 era de 0,735, índice considerado alto o que classificava o estado na oitava posição em relação aos demais estados da Federação e Distrito Federal. Conforme dados da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de Goiás (SEGPLAN) o número de pessoas consideradas pobres entre os anos de 2004 e 2014 decresceu 29%. Em relação à extrema pobreza a SEGPLAN indicava, no mesmo período, 66.398 mil pessoas, 198.261 pessoas a menos durante o intervalo em destaque (GOIÁS, 2017). Ressalta-se que tais dados coincidem com um período em que os índices relacionados à pobreza caíram em todo país. De acordo com Silva (2017), de 2004 a 2014 a pobreza caiu 68% no Brasil, uma média de 10% ao ano, fato que não se replicou para os anos posteriores. Paula e Pires (2017) indicam crescimento negativo médio de -3,7% nos anos de 2015-2016 no Brasil.

A economia do estado tem como atividades centrais o agronegócio – relacionada à agricultura (soja, sorgo, milho, feijão, cana-de-açúcar e algodão) e pecuária – e estaria explorando a indústria nos setores de sucroalcooleira e automotivo. No ano de 2010, segundo dados do IBGE o Produto Interno Bruto de Goiás totalizou 106.772 milhões de reais o qual dividido pela sua população (6.155.266), representava um per capita de 17.346,44 milhões.

Quanto à configuração política, observa-se no quadro 1 a reeleição de todos os governadores, com destaque para o governador Marconi F. Perillo Júnior (PSDB) que esteve à frente do executivo por quatro mandatos.

Conforme Josimar Gonçalves da Silva (2013), Marconi Perillo Júnior, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) em coligação com o Partido da Frente Liberal (atual Democratas), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Progressista (PP) e Partido Social Democrática Cristão (PSDC – Atual Democracia Cristã), quebrou a hegemonia do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), legenda que por dezesseis anos manteve-se no executivo estadual.

Quadro 1 – Governadores do estado de Goiás (2005-2018)

Nome Partido Período

Ronaldo Ramos Caiado Democratas DEM 01/01/2019 atual José Eliton de Figuerêdo Júnior

Partido da Social Democracia Brasileira PSDB

07/04/2018 31/10/2018 Marconi F. Perillo

Júnior

Partido da Social Democracia Brasileira PSDB 01/01/2011 07/04/2018 Alcides Rodrigues Filho Partido Progressista PP 31/03/2006 31/12/2010 Marconi F. Perillo Júnior

Partido da Social Democracia Brasileira PSDB

01/01/1999 31/03/2006 Fonte: Secretaria de Estado da Casa Civil – Goiás1. Elaboração das autoras.

Na eleição seguinte (2005), a coligação entre PSDB, PP e outros partidos se manteve e com apoio de Perillo Júnior, Alcides Rodrigues do PP ascende ao poder, mantendo a força política desses partidos no estado. A vitória dessa coligação se repete nos dois pleitos seguintes (2010 e 2015). No final do quarto mandato (2018), Marconi Perillo Júnior renuncia ao executivo para disputar o Senado Federal, sem, contudo, obter votação que o fizesse ocupar a cadeira. Naquele mesmo ano, Ronaldo Caiado do Democratas foi eleito em primeiro turno com 59,73% dos votos, assumindo a gestão em 2019 (MORAIS, 2018).

1 Disponível em: https://www.casacivil.go.gov.br/noticias/615-governantes-republica.html. Acesso em: 12 set. 2020.

Educação no estado de Goiás

A educação em Goiás, como na maioria dos estados brasileiros, percorre longo caminho até chegar à maioria da população. Com o estado sob forte influência oligárquica (FREITAS, 2017, p. 36), “[...]as iniciativas em alterar a estrutura do ensino tiveram início nos primeiros anos da República, com a aprovação da Lei nº. 38, de 31 de julho de 1893”. Pela lei, a instrução pública no estado teria dois graus: primário e secundário. O primário sob o financiamento e responsabilidade dos municípios e o secundário, de competência do estado, oferecido nos Liceus (FREITAS, 2017).

Conforme Freitas (2017) mesmo com previsão de multa, o estado não foi capaz de cumprir suas responsabilidades e a hegemonia política da oligarquia dos Bulhões2, com forte apoio à livre iniciativa, fez com que o ensino privado ganhasse ressonância na administração pública. Se o estado não tinha condições materiais e financeiras para cumprir a lei, tampouco as tinham os municípios. De acordo ainda com Freitas (2007), a partir de alteração legal posterior – Lei nº. 186, de 13 de agosto de 1898 – o estado se responsabilizava pelas escolas primárias subvencionadas, pela rede pública do ensino Normal, secundário, profissional e superior, ficando para os municípios as escolas primárias públicas e para a iniciativa privada o ensino primário, secundário e superior.

A expansão mais acentuada da educação pública se materializou no final dos anos de 1970 e início dos oitenta. Freire

2 De acordo com Miriam Fábia Alves (2007), os Bulhões foram o primeiro grupo hegemônico a firmar-se na direção do estado de Goiás, chefiado por Leopoldo de Bulhões, com forte apoio federal, mantiveram-se no poder de 1892 – 1905; em seguida, firma-se no executivo estadual Xavier de Almeida que inicialmente mantinha o apoio e as relações políticas com os Bulhões, mas que rompe com seus apoiadores anos depois por divergências políticas e disputas acirradas. Por último, mediado por um acordo do presidente Wenceslau Braz entre as “[...] facções políticas goianas” (ALVES, 2007, p. 58), os Caiado ascendem ao poder no estado de GO.

(2017), com base em outros autores (MAFRA; CAVALCANTI, 1992; CARNEIRO, 1984), afirma que o crescimento do número de vagas e escolas se deu sob a redução dos salários dos docentes e sua consequente pauperização, tempo histórico em que ganham força as organizações sindicais representativas dos professores tendo em vista a crescente reivindicação por melhores condições de salário e trabalho. Freire (2017), fundamentado em Carneiro (1984), indica também que o quadro de expansão da rede escolar de forma precária se acentuou na medida em que a proporção dos recursos destinados à educação diminui de forma dramática entre os anos de 1960 e 1980, saindo de 21,03% na década de 1960 para 10,25% no início dos anos de 1980, redução da ordem de 10,78%.

Com muitas semelhanças a outros estados brasileiros, Goiás chega ao século XXI – ano 2018 – totalizando 4.400 escolas, somando-se as da rede estadual (1.568), municipal (1659), federal (26) e privada (1.147). As tabelas e gráficos a seguir mostram o movimento das matrículas e dos estabelecimentos educacionais no intervalo de 2005 e 2018.

Tabela 1 – Estabelecimentos estaduais e privados que ofertam o Ensino

Fundamental e Médio regular (urbano e rural) em Goiás – 2005/2018 Ano

Ensino Fundamental Regular (Urbano e Rural)

Ensino Médio Regular (Urbano e Rural)

Estadual Municipal Privado Estadual Municipal Privado

2005 1.043 1.960 799 553 14 247

2018 916 1.652 856 652 07 291

Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sinopses Estatísticas (2005; 2018). Elaboração das autoras.

Os dados da tabela 1 mostram que o número de estabelecimentos que ofertam o ensino fundamental na rede pública reduziu no período em destaque. De 2005 para 2018 o decréscimo da rede estadual correspondeu a 12,18% e da municipal 15,72%, já o segmento privado cresceu 7,14% indicando que o governo do estado vem, gradativamente, se desobrigando do Ensino Fundamental nos últimos anos. Para o Ensino Médio

verifica-se crescimento tanto no setor público estadual, quanto no segmento privado. Em números absolutos, o estado ampliou 99 estabelecimentos e a iniciativa privada 44. A quantidade de unidades municipais diminuiu de 14 para 7.

Tabela 2 – Total de matriculados nas escolas estaduais e privadas nos

Ensinos Fundamental e Médio regular (urbano e rural) em Goiás – 2005/2018 (nº abs)

Ano Ensino Fundamental Ensino Médio

Pública Estadual Privada Pública Estadual Privada

2005 888.525 415.882 140.607 234.500 232.136 35.852

2018 712.076 248.448 165.517 200.483 192.656 32.929

Fonte: Inep, Censo Educacional, 2005 a 2018. Elaborado por ADRIÃO et al (2020).

Pela Tabela 2 observa-se que as matrículas do Ensino Fundamental e Médio decaem 19,86%, o que em números absolutos correspondeu a 176.449 vagas. Desse total 167.434 (94,89%) pertenciam à esfera estadual, explicitando mais uma vez o descompromisso do estado para com a oferta de vagas públicas. O segmento privado avançou sua oferta em 17,72% no mesmo período, ocupando o espaço deixado pelo estado. No Ensino Médio houve queda nas vagas ofertadas em todas as dependências administrativas, a rede pública decresceu 14,51%, o estado 17,01% e a rede privada 8,16%, mais uma vez evidencia-se o maior encolhimento do estado na quantidade de matrículas.

Gráfico 1 – Matrícula Total – Ensinos Fundamental e Médio Regular

(Rede Pública, Estadual e Privada): 2005-2018