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PARTE II – DA PROBLEMÁTICA À METODOLOGIA

1. PROBLEMÁTICA DO ESTUDO – QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E

A investigação científica é um processo sistemático que permite examinar fenómenos com vista a obter respostas para questões precisas que merecem uma investigação, tal como refere Fortin (2009). É indiscutível a necessidade da investigação no desenvolvimento de qualquer área do conhecimento e ou profissão, cujas práticas assentam em bases científicas como a enfermagem que é entendida quando cria oportunidades para estudar e dar significado à compreensão da complexidade do contexto da prática clínica. Para Streubert e Carpenter (2000, p. 9), “a ciência humana e os métodos de pesquisa que a acompanham, proporcionam uma oportunidade para estudar e criar significado que enriquecerá e contribuirá para a compreensão da vida humana.”

Após a revisão sistemática de literatura, surgiram alguns aspetos sociais inquietantes, como o aumento da esperança média de vida e o consequente envelhecimento da população no nosso país, indicador de um aumento da prevalência de situações de cronicidade e incapacidade. Acresce ainda, as pessoas com doença incurável em estado avançado e em fase final de vida, cada vez mais presentes nos hospitais de agudos. As alterações na organização e dinâmicas familiares fizeram emergir novas necessidades sociais e de saúde, associadas a novas atitudes e expectativas, numa tentativa de tratar e de cuidar holisticamente a pessoa.

Com base nos Censos de 2011 (INE 2012), o envelhecimento da população torna-se num dos aspetos de destaque na evolução demográfica do distrito de Viana do Castelo. Este fenómeno, associado às principais causas de morte por doença no distrito e aos índices de dependência, reflete-se num aumento de doentes portadores de doença crónica sensíveis a cuidados de saúde, por um tempo mais prolongado. A investigação de Prévost (1992) mostra que a utilização da técnica assética favoreceu o afastamento do doente e o seu sofrimento. Kottow (2004, p. 285) refere que “não é importante se vivemos de um modo doente ou saudável; o que conta é ser doente de um modo saudável e não saudável de um modo doentio.” É neste sentido que a enfermagem e particularmente a enfermagem de reabilitação é chamada a responder a estes novos desafios. Face a estes pressupostos e parafraseando o que diz Dominicé, Favario e Lataillade (2000, p. 146), existem “certas situações em que a relação terapêutica se torna um meio de restaurar a imagem do corpo.” O estudo de Kralik, Kock e Eastwood (2003) realizado a mulheres com esclerose múltipla,

demonstra que o corpo influencia o reforço da identidade e o modo como os enfermeiros efetivam a identidade é omisso.

Braga (2009) refere que seria importante estudar as intervenções de enfermagem de reabilitação nas alterações da mobilidade e a sua influência nos doentes paliativos. Montagnini et al. (2003) defendem que a incapacidade progressiva é comum nos doentes paliativos e que a reabilitação de suporte a estes doentes tem como objetivo manter a função e promover o conforto. Referem também, que há estudos que têm demonstrado alguns dos potenciais benefícios da reabilitação nesta população, onde se inclui a melhoria da capacidade funcional, a mobilidade, a fadiga, a dor, o bem-estar, o estado emocional, a função cognitiva e a qualidade de vida, numa atitude de reabilitação que deve ser abrangente e interdisciplinar. E, ainda, que as intervenções de reabilitação não são valorizadas apesar dos elevados níveis de dependência funcional dos doentes ou que pouco se sabe sobre a eficácia dessas intervenções no contexto do doente paliativo.

Por sua vez, o Royal College of Physicians (RPCP) (2008) analisam que a gestão da deficiência de longo prazo é um elemento central dos serviços de reabilitação para apoiar as pessoas até ao final das suas vidas. Além disso, muitos departamentos têm agora enfermeiros especialistas que proporcionam um suporte a longo prazo para o doente e sua família. Dado o atual contexto socioeconómico, deve existir uma compreensão entre os cuidados de reabilitação e os paliativos, fundamental para garantir cuidados coordenados a estes doentes, em vez de duplicação de prestação de cuidados.

Também as experiências da investigadora ao longo do seu percurso profissional, tais como: a formação (especialidade em Enfermagem de Reabilitação e pós graduação em Cuidados Paliativos); o percurso profissional, donde se destaca a experiência num serviço de Medicina de um hospital de agudos2, a cuidar de pessoas com doença crónica, sem potencial de recuperação; o desenvolvimento de competências numa Equipa de Gestão de Altas, onde diariamente se avaliam doentes com necessidade de cuidados paliativos do foro não oncológico, aos quais não é garantido o acesso aos cuidados paliativos. E ainda, a não visibilidade da importância dos cuidados de enfermagem de reabilitação aos doentes do foro paliativo não oncológico, na medida em que estes cuidados ainda são prescritos a pessoas que se encontram em fases diferentes, sob o ponto de vista do ciclo de doença.

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Instituição vocacionada para curar ou tratar com êxito. O hospital de agudos é concebido para a produzir cuidados com vista à cura da doença, não estando vocacionado para doentes incuráveis e terminais. Está mais preparado para prolongar sofisticadamente a doença, do que para cuidar do doente que enfrenta a morte. (Sapeta, 1997)

Assim, pareceu ser oportuno realizar um estudo de investigação que demonstrasse a influência dos cuidados de enfermagem de reabilitação na mobilidade do doente paliativo não oncológico, com a intenção de promover cuidados de enfermagem de reabilitação que deem resposta à pessoa nas suas diferentes dimensões. Emerge deste modo, a questão de investigação: Qual a influência que os cuidados de enfermagem de reabilitação exercem na mobilidade do doente paliativo não oncológico?, para compreender a influência que os cuidados de enfermagem de reabilitação exercem na mobilidade do doente paliativo não oncológico.

As intervenções de enfermagem de reabilitação no doente paliativo não oncológico devem estar centradas nas necessidades efetivas do doente, com objetivos bem definidos e uma avaliação e reavaliação contínua. Assim, intervir no processo de mobilidade destes doentes requer dos enfermeiros de reabilitação, competências e habilidades humanas e relacionais que os desvincule do modelo biomédico, que preconiza a recuperação da função para um modelo de cuidados, centrado na pessoa que necessita de cuidados de manutenção da sua saúde.

Parece poder afirmar-se que os cuidados de enfermagem de reabilitação são fundamentais para manutenção da capacidade funcional e qualidade de vida do doente e das suas famílias, bem como prevenir a imobilidade destes doentes.

Partindo dos pressupostos atrás referidos, este estudo tem como objetivos específicos:

• Identificar os cuidados de enfermagem de reabilitação na mobilidade do doente paliativo não oncológico;

• Identificar o significado que os cuidados de enfermagem de reabilitação têm para os enfermeiros de reabilitação que cuidam do doente paliativo não oncológico.

Dando resposta às seguintes questões orientadoras:

Que cuidados de enfermagem de reabilitação são prestados ao doente paliativo não oncológico na mobilidade?

Qual o significado que os cuidados de enfermagem de reabilitação têm para os enfermeiros de reabilitação que cuidam do doente paliativo não oncológico?