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7. Metodologia de Investigação

7.1. Problemática e Justificação do Tema

Para amadurecer e solidificar a técnica de arco da mão direita e também a da mão esquerda não basta aprender a mecânica dos seus gestos e praticá-los isoladamente. É necessário também aplicá-los e exercitá-los em escalas, arpejos, estudos, etc., para poder, de facto, interiorizar e automatizar todos os movimentos técnicos para que então possamos entrar no campo do repertório violinístico mais desenvolvido como concertos, sonatas e outras peças e também no repertório camerístico e sinfónico.

Em todo este vasto repertório, podemos encontrar todo o tipo de abordagens técnicas desafiantes, desde passagens em escalas, arpejos, mudanças de posição, cordas dobradas, trilos, harmónicos, pizzicato de mão esquerda e os mais variados golpes de arco.

Grandes violinistas e pedagogos ativos entre os finais do século XVIII até à 2ª metade do século XX (já anteriormente referidos) como Pierre Gaviniès (1728-1800), Rodolphe Kreutzer (1766-1831), Pierre Rode (1774-1830), Niccoló Paganini (1782-1840), Heinrich Kayser (1815-1888), Henryk Wieniawski (1831-1880), Franz Wohlfahrt (1833-1884), Henry Schradieck (1846-1918), Leopold Auer (1845-1930), Otakar Ševčik (1852-1934), Carl Flesch (1873-1944), Ivan Galamian (1903-1981), entre tantos outros, foram determinantes na produção de obras e estudos que ajudaram muitos violinistas a desenvolver e aperfeiçoar grande parte da base técnica.

Nomes como Kreutzer, Kayser, Wohlfahrt, Schradieck ou Ševčik tiveram uma particular ação ao focarem-se mais num aspeto singular de cada vez, isto é, cada estudo ou exercício por eles delineado apresentava um determinado aspeto técnico e repetia-o durante todo o fragmento de maneira a poder consolidá-lo através do mesmo padrão repetitivo. Ou seja, todo o estudo podia estar direcionado para um golpe de arco específico como por exemplo, ser todo ele escrito em staccato ou spiccato, exercitando mais a mão direita, ou então ser baseado só em trilos ou mudanças de posição para desenvolver a mão esquerda. Por outro lado, obras como os “Vinte e quatro estudos para violino” de Gaviniès (1794), “Vinte e quatro caprichos para violino solo” de Paganini (1818), “Dez estudos-caprichos da Escola Moderna opus 10” de Wieniawsky (1854), elevaram a prática da técnica violinística para um nível acima, conjugando com um lado musical mais desenvolvido a

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nível de interpretação. Ainda que vistos como “estudos técnicos”, estas obras são consideradas já como parte do repertório virtuoso, sendo mesmo escolhidas para serem executadas em recitais ou até concursos.

Posteriormente, e complementando as obras já referidas, outros violinistas e pedagogos criaram também métodos que, a partir da introdução de variados exemplos do repertório violinístico, desenvolveram mecanismos e exercícios para o aperfeiçoamento técnico de determinadas secções.

O livro A Violinist’s Book do violinista e pedagogo Joseph Szigeti, aponta algumas observações em relação à técnica e interpretação e lança algumas dicas de como exercitar certas passagens de inúmeras obras violinísticas. Leopold Auer, violinista, pedagogo e compositor já anteriormente referido, através da sua coletânea de 8 livros - Graded

Course of Violin Playing - apresenta uma abordagem detalhada dos aspetos mais técnicos

como golpes de arco, cordas dobradas, harmónicos, trilos, que surgem nos concertos, sonatas e outras peças violinísticas de vários compositores. Também Simon Fischer, violinista e pedagogo australiano, através do seu livro Practice, sugere duzentos e cinquenta modos de estudo para trabalhar a técnica violinística, através das mais conhecidas obras de literatura escrita para violino, onde cada exemplo é demonstrado e explicado com os respetivos exercícios.

Apesar de todas estas preciosas fontes e ferramentas de estudo estarem disponíveis para a prática violinística, é de realçar a ausência do uso de excertos de orquestra para o desenvolvimento da mesma.

Ai-Wei Chang, que frequentou doutoramento na vertente “Doctor of Musical Arts, na Univerdidade do Norte do Texas, refere na sua dissertação - Utilizing Standard Violin

Orchestral Excerpts as a pedagogical tool: An Analytical Study Guide With Functional Exercises - que apenas nos últimos 50 anos é que os excertos de orquestra começaram a

ser utilizados como um recurso pedagógico.

Uma das primeiras obras de referência no que toca à introdução de excertos orquestrais no estudo violinístico, mencionada por Ai-Wei Chang, trata-se de Using Orchestral

Excerpts as Study Material for Violin, datada de 1966, por James E. Smith, violinista e

professor americano. A partir de uma seleção de alguns dos excertos orquestrais mais solicitados para provas de admissão orquestra, James E. Smith destaca em cada um deles

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o aspeto técnico a ser trabalhado e classifica cada excerto com um determinado patamar de exigência consoante a sua dificuldade.

Na mesma linha, William Starr - violinista e pedagogo americano - cria Twenty-Six

Composers Teach the Violinist de 1980, onde vários fragmentos musicais de peças a solo,

música de câmara ou mesmo repertório sinfónico vêm complementar o papel de trabalho mais técnico, realizado nas escalas e estudos. Das vinte seis peças que se apresentam neste livro, apenas seis são excertos orquestrais.

Já em 1995, Robert Baldwin – Director of Orchestral Activities at the University of Utah and conductor of the Salt Lake Symphony – lança um interessante artigo, com o nome

Orchestral Excerpts as Etudes, em que lança a proposta de aliar excertos de orquestra

como ferramenta pedagógica, ao trabalho técnico já utilizado pelos professores, como escalas e estudos, durante as aulas semanais. A ideia é, não só construir a técnica pelo processo tradicional em que as escalas e os estudos funcionam como rampa para o restante repertório violinístico, mas sim também complementá-la com o estudo de excertos orquestrais que, para além de ajudar a progredir técnica e musicalmente, ao mesmo tempo permitirá dar conhecer e introduzir os alunos no campo do repertório sinfónico.

Susan C. Brown - violinista, violetista e maestrina americana - desenvolve em 2004 o método String Player´s Guide to the Orchestra, onde recorre também a excertos de orquestra, usufruindo dos seus elementos rítmicos e de toda a variedade de arcadas que percorrem cada excerto, convertendo estes dois elementos em exercícios de escalas. Não havendo uma intenção necessariamente ligada à vertente musical, o objetivo destes exercícios destina-se prioritariamente à prática do estudo de golpes de arco e respetivas articulações, através de escalas adaptadas a partir das linhas melódicas dos excertos. O único contra visível é que, para além de não haver uma preocupação musical em relação a estes exercícios, também não há qualquer referência de tempo, zona do arco ou dedilhações. Fica tudo isto ao critério do professor, inclusive o estilo de execução a ser adotado, consoante o compositor em questão.

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