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Capítulo IV Objectivos do trabalho

1. Problemática

Cada vez mais é esquecida a dimensão lúdica na educação e até na vida. A Escola não tem analisado de modo correcto a natureza lúdica da criança. Antes pelo contrário, a Escola tem sido concebida segundo o modelo produtivo da sociedade moderna, interpretando de modo errado a natureza das crianças, procurando torná-las animais sábios.

Actualmente, as crianças começam a frequentar cada vez mais cedo as creches e os Jardins-de-infância, porém, nesses espaços, o brincar é, muitas vezes desvalorizado em relação a outras actividades consideradas mais produtivas. Até o pré - escolar tende para o ensino das letras e dos números (escolarização) em detrimento do lúdico, colocando o brincar para segundo plano. O desenvolvimento físico, sócio-afectivo e cognitivo da criança depende da actividade lúdica. Através do brincar, a criança descobre o mundo à sua volta, interage com os outros e conhece-se a si mesma. É também através do brincar, que a criança imita o adulto, experimenta vários papéis, aprende a resolver os problemas e a trabalhar cooperativamente com os outros.

O brincar tem sido comummente indicado como espaço privilegiado do desenvolvimento da criança. Este deverá ocupar um lugar de destaque na educação. Por vezes, na ansiedade de ensinar e transmitir os conteúdos do programa, o professor pensa que não há tempo para o jogo. Contudo, às vezes o que lhe falta é a “Formação” teórica e prática para incluir o jogo no quotidiano escolar.

É importante repensar o lugar do lúdico nos Currículos das Escolas de Formação de Professores. Nesta formação, a componente lúdica não deverá ser abordada apenas de forma teórica, mas também com actividades práticas. Os futuros professores deverão viver actividades lúdicas e relembrar as suas experiências passadas com o brincar. O que irá permitir que conheçam melhor as

suas possibilidades e limitações, e terem uma visão objectiva sobre a importância do lúdico para a vida da criança. É necessário que também eles aprendam com prazer; se o professor não aprende com prazer não poderá ensinar com prazer.

Um professor que não sabe e/ou não gosta de brincar, dificilmente desenvolverá a capacidade lúdica dos alunos, pois terá dificuldade em lidar com o jogo na sala de aula.

Ao se sugerir o lúdico, não se pretende negar o papel da escola na difusão da cultura erudita e na transmissão de conhecimento; propõem-se sim a conciliação de ambos no processo de ensino e aprendizagem.

Em súmula, é preciso que o lugar do lúdico seja definitivamente repensado e incluído verdadeiramente na escola. A escola, por vezes despreza e destrói os sonhos das chanças, os seus jogos e as suas alegrias. Está ainda muito impregnada pelos interesses produtivos e pela cognição. As experiências vividas pelas chanças no seu quotidiano, principalmente as lúdicas, são por vezes ignoradas pela escola. É fundamental que os professores tenham em conta o saber que a criança constrói em interacção com o ambiente familiar e sócio - cultural, para que assim possam organizar e adequar a sua proposta pedagógica.

2. Objectivos da Investigação

É objectivo principal do nosso estudo conhecer e analisar as representações dos Educadores de infância e Professores do 1o Ciclo sobre o papel do lúdico no Jardim-de-infância e na escola. As questões que se nos colocam são as seguintes:

• Qual a concepção de lúdico de ambos os grupos profissionais?

• Qual o lugar do lúdico na prática educativa dos Educadores de Infância e na prática educativa dos Professores do 1o ciclo?

• Quais as actividades lúdicas mais frequentes e de que modo são realizadas?

• Haverá diferenças no que respeita à presença do lúdico nos dois níveis (Pré e 1o Ciclo) e ás representações dos professores e educadores?

• Em que medida a formação destes educadores e professores deu ou não ênfase à actividade lúdica?

O interesse em desenvolver este estudo advém da nossa experiência profissional onde se constata que existe muitas vezes um despreparo dos Profissionais de Educação (principalmente dos professores) no que respeita ao lidar com o brincar no contexto sala de aula.

O querer investigar nesta área surge também da convicção de que Aprender

brincando deverá ser o novo paradigma da escola. O recurso ao lúdico poderá ser

o caminho a seguir para a aquisição de saberes, de experiências e de competências.

Na nossa opinião, conhecer o que os profissionais em educação pensam é um caminho para compreender melhor as suas acções, isto é, a sua prática educativa. É um caminho importante, também, para identificar as suas necessidades de formação.

Com este estudo pretendemos atingir as seguintes finalidades:

• Permitir a formulação de algumas reflexões sobre a utilização do lúdico na prática educacional;

• Contribuir para uma mudança de atitude, sensibilizando os profissionais de educação para a utilização do lúdico no contexto educativo;

• Procurar contribuir para a melhoria da Formação de Professores, dando ênfase à formação lúdica como suporte para novas metodologias em sala de aula.

3. Natureza da Investigação

Em Ciências Sociais e Humanas e, designadamente, em Ciências da Educação, podem usar-se perspectivas de investigação que se consubstanciam em dois métodos: quantitativo (hipotético - dedutivo) e qualitativo (fenomenológico - interpretativo).

Na perspectiva de Stake (1998, 42), “ A distinção fundamental entre investigação quantitativa e qualitativa situa-se no tipo de conhecimento que se pretende. Ainda que pareça estranho, a distinção não está relacionada directamente com a diferença entre dados quantitativos e dados qualitativos, senão com uma diferença entre a procura de causas frente à procura de acontecimentos. Os investigadores quantitativos destacam a explicação e o controlo; os investigadores qualitativos destacam a compreensão das complexas relações entre tudo o que existe”. Quer dizer, se na investigação quantitativa o objectivo é explicar através de uma relação de causalidade entre fenómenos; na investigação qualitativa a preocupação é “compreender” os fenómenos, os acontecimentos, explorando a interpretação que deles fazem os sujeitos neles intervenientes.

Estando este estudo directamente relacionado com representação, perspectiva e opinião dos professores entrevistados - uma abordagem do subjectivo - implica uma investigação de natureza qualitativa, ou seja interpretativa.

Segundo Bogdan e Biklen (1994, 70), contrariamente aos investigadores quantitativos, “... os qualitativos não entendem o seu trabalho como consistindo na recolha de factos sobre o comportamento humano, os quais, após serem articulados, proporcionariam um modo de verificar e elaborar uma teoria que permitisse aos cientistas estabelecer relações de causalidade e predizer o comportamento humano. Os investigadores pensam que o comportamento humano é demasiadamente complexo para que tal seja possível, considerando a busca de causas e predições negativamente, no sentido de que esta dificulta a capacidade de apreender o carácter essencialmente interpretativo da natureza e experiências humanas’.

O presente estudo foi, pois, desenvolvido numa metodologia própria dos estudos exploratórios, com cariz essencialmente qualitativo não se pretendendo levar por diante uma recolha de dados estatísticos. Como já dissemos, a nossa preocupação é meramente exploratória, não pretendendo generalizar, pretendemos sim, construir uma base sólida para a construção de hipóteses de trabalho para futuros trabalhos mais alargados na sua amostra e mais ambiciosos nos seus objectivos.

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