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A década de 90, para o Brasil, foi caracterizada por mudanças políticas e econômicas. A abertura comercial no início dos anos 90 e as medidas de política vigentes ditaram os novos padrões de competição e reestruturação de processos produtivos em todos os setores da economia. Para o agronegócio não foi diferente. A abertura comercial caracterizada pela queda de tarifas de importações de insumos e a entrada de produtos concorrentes aos produzidos em território nacional levaram a uma adaptação compulsória dos processos produtivos. Tais mudanças foram norteadas para os ganhos de eficiência produtiva e de competitividade.

Também foi notório, nesse período, o ganho obtido pelo setor agropecuário nas vendas para o mercado externo. Destacam-se neste sentido, os incrementos dos volumes exportados dos produtos dos complexos soja e carnes. Os ganhos de eficiência, abertura comercial, incentivos fiscais à exportação e fundamentalmente a desvalorização cambial em relação ao dólar foram essenciais para os incrementos e a manutenção do Brasil como um grande player no mercado internacional de produtos agrícolas.

Figurando no mesmo cenário de competição por mercados estrangeiros, estão os países que garantem sua competitividade às custas de restrições de acesso a mercado e medidas de apoio interno (subsídios à produção e a exportação). Tais medidas têm distorcido os preços mundiais e prejudicado o pleno funcionamento deste mercado. Países como o Brasil,

Argentina, Índia, China e outros que praticamente não fazem uso dessas políticas ficam sensivelmente prejudicados na concorrência internacional.

Organismos de negociações multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), têm sido importantes instrumentos de defesa e de sustentação das reivindicações dos países que se sentem prejudicados no comércio internacional. O principal foco da OMC é a promoção da liberdade comercial, solucionar disputas e, principalmente, possibilitar um comércio mais justo e livre de distorções entre as nações.

As rodadas de negociações, a partir da Rodada Uruguai, vêm procurando promover a redução de subsídios à produção e à exportação, redução das tarifas e cotas de importação incidentes sobre produtos agroindustriais. Os principais alvos dos ataques à liberalização do comércio agrícola têm sido a União Européia e os Estados Unidos, uma vez que esses países são, historicamente, os que mais subsidiam e protegem seus mercados.

No mercado mundial de produtos agroindustriais, além de todas as barreiras tarifárias e não-tarifárias, existem ainda as barreiras técnicas, que são de difícil identificação e monitoramento. Esse tipo de barreira tem servido como um eficiente instrumento de proteção a produtos importados e tem condicionado o fluxo de produtos agropecuários no mundo. Não raramente, a principal justificativa para a implantação de barreiras não-tarifárias e técnicas tem sido as diferentes exigências dos consumidores por alimentos seguros e saudáveis.

As ocorrências de crises sanitárias como a febre aftosa, doença da Vaca Louca e contaminações por dioxina levaram ao surgimento de uma grande preocupação, por parte dos consumidores, quanto à origem e procedimentos de produção da carne bovina. Baseado nos princípios de seguridade e qualidade da carne, a União Européia instituiu, em seu território, um sistema de identificação individual e de rastreamento animal. Assim, alegando a segurança da saúde publica, foi acordado neste bloco econômico que toda carne bovina que fosse importada teria que possuir um sistema de rastreabilidade baseado em um banco de dados oficial e com identificação individual dos animais.

O Brasil, no ano de 2002, foi o terceiro maior exportador de carne bovina do mundo, sendo que grande parcela dessas exportações destinou-se à

União Européia. A previsão, para o final do presente ano (2003), é que o Brasil assuma a primeira colocação em volume vendido. Dada a importância econômica e social da cadeia produtiva da carne bovina nacional bem como o volume de divisas gerado, o governo resolveu acatar as exigências da União Européia. Em fevereiro de 2002, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) lançou o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina – SISBOV, que tem como objetivo normatizar e controlar todas as informações sobre a rastreabilidade em território nacional.

Apesar de ser um programa ainda recente e em fase de implantação, a rastreabilidade pode ser um importante condicionante da cadeia produtiva da carne bovina nacional. Ela pode mudar as relações de negociações entre os agentes da cadeia, possibilitar maior coordenação e entendimento entre esses agentes e promover incrementos, em termos de eficiência gerencial, nas propriedades rurais. Ao garantir para os consumidores a sanidade e a qualidade da carne consumida, a rastreabilidade abre novos mercados internacionais para a carne bovina brasileira. Assim, torna-se importante um estudo que mensure as mudanças ocorridas na cadeia produtiva da carne bovina no Brasil em termos competitivos e de eficiência econômica nos seus principais segmentos.

3.1. Hipótese

A implantação da rastreabilidade da carne bovina no Brasil altera as relações comerciais entre os agentes econômicos dos segmentos de produção e de abate e, simultaneamente, permite o incremento da rentabilidade setorial face à competitividade da cadeia produtiva no mercado internacional.

3.2. Objetivos

O objetivo geral do trabalho é avaliar mudanças na rentabilidade dos segmentos da cadeia produtiva de carne bovina em função da introdução do sistema de rastreabilidade exigida pelo mercado europeu.

Especificamente, pretende-se:

a) Avaliar os indicadores de lucratividade e competitividade a partir da comparação de orçamentos de sistemas de produção rastreados e não- rastreados, em nível do pecuarista e do frigorífico;

b) Verificar relação de participação de lucros entre os segmentos de abate e pecuária, e

c) Determinar como as políticas de proteção e barreiras comerciais impactam as rentabilidades dos diferentes sistemas de produção.

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