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Problemas em que a solução de uma equação diferencial tem que satisfazer alguma condição na fronteira de um determinado domínio são conhecidos como problemas de valor de fronteira. Problemas em que se tem que determinar a posição desta fronteira, que varia no espaço e no tempo, são conhecidos como problemas de fronteira móvel, ou pro- blemas de Stefan. Um dos exemplos clássicos de problema de fronteira móvel seria o do gelo derretendo. Neste problema, uma fonte de calor e colocada em uma extremidade de uma barra de gelo, a princípio a uma temperatura de 0oC, que passa a derreter conforme a temperatura se

eleva. Há, portanto, a formação de uma fronteira, que separa a água em dois estados distintos: sólido e líquido. A posição no espaço desta fronteira varia no tempo segundo equações térmicas.

A diculdade de solução deste tipo de problema com métodos usuais para soluções de equações parciais, como por exemplo, o método das diferenças nitas ou dos elementos nitos, está na determinação da posição da fronteira. Quando a solução é computada utilizando- se uma malha xa de discretização, em geral a fronteira estará entre dois pontos discretizados, para qualquer instante no tempo (CRANK, 1984). Sendo assim, fórmulas e métodos especiais são necessários para uma determinação mais precisa da localização da fronteira. Alguns métodos para solução deste tipo de problema são: malha móvel, level set e campo de fases.

No método da malha móvel, o número de pontos entre um ponto xo inicial e a fronteira móvel é mantido constante, por exemplo I. Sendo assim, a cada passo de tempo a malha é reajustada, fazendo com que a fronteira móvel esteja sempre no I´esimo ponto (CRANK, 1984). Dentre os três métodos existentes, este é o de mais simples implementação. No entanto, ele pode ser menos preciso que os outros dois para problemas com mais de uma dimensão (JAVIERRE et al., 2006). No método level set, uma fronteira de dimensão n é denida como o nível zero de uma função contínua de dimensão n + 1, que evolui de acordo com a velocidade v da fronteira (SETHIAN, 1996). Este método não é tão fácil de implementar quanto o método da malha móvel, mas apresenta vantagens quando o problema exige solução em mais dimensões (JAVIERRE et al., 2006).

A formulação pelo método de campo de fases considera uma região de interface entre dois diferentes estados denidos, ao contrário dos dois métodos descritos anteriores, que consideram uma transição brusca entre os estados (JAVIERRE et al., 2006).

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3 MODELO BASEADO EM DIFUSÃO

Melanoma é um tipo de câncer de pele com origem dos melanóci- tos. Em sua fase vertical, o melanoma pode tornar-se metastático, o que piora o prognóstico de pacientes (BRESLOW, 1970). O desenvolvimento de metástases está relacionado à migração celular e trabalhos vêm sendo desenvolvidos para o estudo da inuência de determinadas substâncias na migração de células de melanoma (ZHU et al., 2004, 2002; CANTÓN et al., 2003; REDPATH et al., 2009; KATERINAKI et al., 2006;MARQUES, 2010). Dentre eles, está o trabalho desenvolvido porMARQUES(2010), que teve como um de seus objetivos a investigação do efeito de agen- tes anti-inamatórios não esteróides na redução da migração de células de melanoma. Ensaios do tipo scratch wound foram conduzidos para avaliação da migração das células pré-estimuladas pela citocina pró- inamatória TNF-α e sob inuência de agentes anti-inamatórios não esteroides.

O objetivo deste estudo é desenvolver um modelo matemático para migração celular in vitro que possa ser quantitativamente vali- dado com o modelo experimental de migração de células de melanoma. Para isto, uma equação será proposta com base em modelos de migra- ção celular e invasão tumoral já existentes e os dados gerados serão posteriormente comparados aos resultados experimentais de migração de células de melanoma cutâneo humano em condições de controle apre- sentados por MARQUES(2010).

3.1 METODOLOGIA

Primeiramente, foi realizada uma adaptação de modelos mate- máticos já existentes para a situação experimental com a qual se pre- tendia comparar os resultados (MARQUES, 2010), criando-se um modelo inicial. A partir da comparação dos resultados da simulação do modelo inicial com dados experimentais, foram propostas mudanças na equação do coeciente de difusão do modelo inicial, como descrito nesta seção. Modelo matemático - O modelo possui apenas uma variável, que é a concentração de células de melanoma, e se baseia nas seguintes suposições, considerando o protocolo experimental utilizado no estudo in vitro: (1) a proliferação e difusão das células são independentes da concentração de oxigênio, uma vez que a disponibilidade de oxigênio é

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igual para todas as células e não é um fator limitante para as mesmas; (2) o coeciente de difusão celular, que representa a movimentação da célula, aumenta com o aumento da densidade celular; (3) a morte celular é desconsiderada.

A variável c representa a concentração de células tumorais e varia no tempo segundo a equação:

∂c ∂t = ∇ · (Dc∇c) + αcc  1 − c Kc  (3.1)

O primeiro termo do lado direito da Equação 3.1 representa a difusão das células. Foi considerada uma difusão segundo a Lei de Fick, semelhante a modelos apresentados por outros autores (ANDERSON et al., 2000;ANDERSON, 2005;EIKENBERRY; THALHAUSER; KUANG, 2009; TOHYA et al., 1998). Foi considerado um coeciente de difusão depen- dente da concentração celular, como modelos apresentados porEIKEN- BERRY; THALHAUSER; KUANG (2009) e TOHYA et al. (1998). No en- tanto, para ajuste da curva aos dados experimentais, foi incluída uma constante d2, obtendo-se a Equação 3.2.

Dc= d1c + d2, (3.2)

em que d1 e d2são constantes e positivas.

O segundo termo do lado direito da Equação 3.1 representa a proliferação celular, que foi modelada como um crescimento logístico, com uma taxa de crescimento per capita αc. Kc é a densidade celular

acima da qual a proliferação não acontece.

A equação foi resolvida considerando-se um sistema espacial de duas dimensões (x, y), sendo a dimensão y unidimensional, 0 ≤ x ≤ X e 0 ≤ t ≤ T .

No trabalho apresentado porMARQUES(2010), foi realizado um ensaio scratch wound para a avaliação da migração celular, em que uma região sem células é criada entre duas regiões com densidade celular maior do que zero. Diferentes condições iniciais foram utilizadas e os melhores resultados foram obtidos para as Equações 3.3 e 3.4.

c (x, y, 0) = c0· e−4x 5

, para 0 ≤ x ≤X

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c (x, y, 0) = c0· e−4(X−x) 5

, para X

2 < x ≤ X (3.4) As condições de contorno utilizadas foram:

∂ ∂xc (0, y, t) = 0, para 0 ≤ y ≤ Y (3.5) ∂ ∂xc (X, y, t) = 0, para 0 ≤ y ≤ Y (3.6) ∂ ∂yc (x, 0, t) = 0, para 0 ≤ x ≤ X (3.7) ∂ ∂yc (x, Y, t) = 0, para 0 ≤ x ≤ X (3.8) Os valores de αc e Kc escolhidos foram os mesmos utilizados no

modelo desenvolvido por EIKENBERRY; THALHAUSER; KUANG (2009), respectivamente 0, 17 dia−1e 5 · 105elulas mm−2. No trabalho desen-

volvido por TJIA; MOGHE (2002), são apresentados valores de coeci- ente de difusão para queratinócitos que variam entre 0, 002 mm2dia−1

e 0, 07 mm2dia−1. Considerando que em sua concentração celular

mínima as células de melanoma possuam um coeciente de difusão nesta faixa, determinou-se o valor das constantes d1 = 2 · 10−5mm2

dia−1c´elulas−1 e d2 = 0, 014 mm2dia−1. A concentração inicial de

células c0 utilizada foi 5 · 104c´elulas mm−2 (REDPATH et al., 2009).

Dados experimentais - Os dados experimentais utilizados para validação do modelo foram retirados do trabalho desenvolvido porMAR- QUES (2010). Foram utilizados os dados de migração das células de melanoma cutâneo humano C8161 em meio de cultura controle. A li- nha celular foi obtida de metástases da parede abdominal, indicando esta ser uma linhagem de células de melanoma com alto poder invasivo (MARQUES, 2010).

As células de melanoma foram semeadas em placas de cultura de 12 poços em meio de cultura e foram incubadas por 3 dias em condições de cultura padrão. No terceiro dia, um ensaio de migração celular scratch wound foi realizado em cada poço utilizando-se uma ponta de pipeta plástica, formando um risco dividindo a área do poço em duas metades iguais, criando ao meio uma região sem células (MARQUES, 2010).

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A redução da área sem células, i.e., a distância entre as duas bordas de camada de células, em diferentes períodos de tempo (0, 2, 4, 8 e 24 horas) representaram a migração das células de melanoma. Foram obtidas medidas triplicadas para cada período num total de 6 experimentos. As imagens da migração das células de melanoma nos intervalos pré-determinados foram obtidas utilizando um microscópio e vídeo Apple MacIntosh, e software Open Lab 3.0.4 (MARQUES, 2010). O Kroto Research Laboratory, laboratório onde os dados ex- perimentais foram obtidos, possui uma licença Research Tissue Bank License (Human Tissue Authority License Number 12179). Todas as culturas de tecido deste trabalho experimental foram provenientes de pacientes que assinaram o formulário de consentimento (Research Con- sent Form) para que os tecidos fossem utilizados com propósito de pes- quisa. Mais informações sobre a aprovação ética da pesquisa experi- mental, como os formulários citados acima, podem ser encontradas no trabalho deMARQUES.

Simulação - Foi desenvolvido um programa em linguagem C++ para a implementação do modelo. Discretização no espaço foi obtida com o método das diferenças centrais e discretização no tempo com o método numérico Runge Kutta de 4a ordem. A solução apresentada

na seção Resultados foi obtida para valores X = 3mm, Y = 1mm, dx = 1µm, dy = 1mm, dt = 0, 1s e T = 24h.

Comparação com dados experimentais - Para cada instante de tempo foi calculado o deslocamento máximo das células de melanoma dmod(t). Os resultados obtidos foram comparados com dados do estudo

experimental. Para cada ponto experimental, foi calculado o erro com a seguinte fórmula:

E (t) = | dmod(t) − dexp(t) | dexp(t)

, (3.9)

onde dexp(t)é o deslocamento para o instante t dos dados experimen-

tais.

3.2 RESULTADOS

Para as concentrações utilizadas na simulação, o valor de co- eciente de difusão celular varia linearmente de 0, 014 mm2dia1 a

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A distribuição de concentração de células tumorais inicial pos- sui valor máximo de 5 · 104elulas mm−2 para x = 0 e x = 3mm,

diminuindo em direção ao centro e apresentando um valor mínimo de 3 · 10−9elulas mm−2 em x = 1, 5mm. Após 24 horas de simulação, o

perl de distribuição de concentração muda, possuindo um máximo de 3, 1 · 104elulas mm−2 para x = 0 e x = 3, diminuindo em direção ao

centro até o valor mínimo de 250 c´elulas mm−2 em x = 1, 5mm, como

pode ser observado na Figura 4.

Figura 4  Concentração celular (c´elulas mm−2) em função da posição

no eixo x(mm) no início (t = 0h) e ao nal da simulação (t = 24h). Ao longo da simulação, a concentração celular nas bordas diminui e a con- centração no centro aumenta, como resultado da difusão. Os melhores resultados foram obtidos para as condições iniciais apresentadas neste gráco (t = 0h).                                   

Na Figura 5, observa-se que o modelo matemático apresentou valores de deslocamento dentro do limite do desvio padrão para todos os pontos experimentais. O maior erro, de 13% foi observado em t = 8h, como pode ser observado na Tabela 1.

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3.3 DISCUSSÃO

Neste estudo foi desenvolvido um modelo matemático de migra- ção de células baseado em um estudo de migração de células de me- lanoma cutâneo humano in vitro. O modelo considera a proliferação e a difusão das células, que possui coeciente variável em função da concentração celular.

Figura 5  Migração das células de melanoma (µm) ao longo do tempo (horas) obtida com o modelo matemático proposto neste trabalho e experimentalmente no trabalho apresentado porMARQUES(2010). Os dados experimentais são apresentados como média ± desvio padrão. Para todos os pontos, 2h 4h 8h e 24h, os valores do modelo matemático encontram-se dentro do desvio padrão dos dados experimentais.

                           

EIKENBERRY; THALHAUSER; KUANG(2009) apresentam um mo- delo em que a morte celular é calculada como consequência de hipóxia. Considerando que o objetivo deste trabalho era validar o modelo ma-

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temático com um experimento em que a presença de oxigênio é consi- derada abundante, a morte celular foi desconsiderada. Outros modelos matemáticos de invasão tumoral (ANDERSON et al., 2000; ANDERSON, 2005;TOHYA et al., 1998) também desconsideram a morte celular. Tabela 1  Erros dos valores do modelo matemático em relação aos dados experimentais. Os erros foram calculados para cada um dos pontos experimentais, com a Equação 3.9.

Tempo (h) Erro

2 1, 2%

4 7, 9%

8 13, 1%

24 4, 1%

A Equação 3.1 mostra uma difusão por movimentação aleatória das células. Em outros modelos, como o apresentado por ANDERSON et al. (2000), a equação de difusão das células de câncer inclui, além da movimentação aleatória, uma movimentação direcionada à concen- tração de certos elementos químicos, ou haptotaxis. Como os dados experimentais utilizados neste trabalho são provenientes de um ensaio realizado apenas com células de melanoma, sem a presença de outros químicos, a haptotaxis foi desconsiderada e optou-se apenas pela difu- são pela Lei de Fick com coeciente de difusão dependente da concen- tração de células.

Outros modelos como os desenvolvidos por EIKENBERRY; THA- LHAUSER; KUANG(2009) eTOHYA et al.(1998) consideram o coeciente de difusão dependente da disponibilidade de oxigênio. Os dados expe- rimentais utilizados para comparação com o modelo desenvolvido neste trabalho, no entanto, são provenientes de um ensaio realizado apenas com células de melanoma in vitro em que a disponibilidade de oxigê- nio não era um fator limitante. Para a representação de migração de células de câncer em ambientes mais complexos, como por exemplo mi- gração in vivo, seria necessária uma reavaliação da Equação 3.2, visando relacionar o coeciente de migração celular com a disponibilidade de nutriente. No entanto, considerando-se o experimento utilizado para validação deste trabalho, a melhor forma de representar o protocolo experimental do estudo in vitro é desconsiderando-se a relação entre a disponibilidade de oxigênio e o coeciente de difusão celular.

Foi utilizado um coeciente de difusão para as células tumo- rais que aumenta linearmente com o aumento da concentração celu-

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lar, semelhante a modelos como os desenvolvidos por EIKENBERRY; THALHAUSER; KUANG(2009) eTOHYA et al. (1998). Estudos sugerem, entretanto, que esta relação pode ser inversa. LYNG; HARALDSETH; ROFSTAD(2000) demonstraram uma diminuição do coeciente de difu- são de células de melanoma com o aumento da concentração celular. As concentrações celulares utilizadas por LYNG; HARALDSETH; ROFSTAD (2000) ( 3 · 105elulas mm2), no entanto, são maiores que a concen-

tração máxima proposta pelo presente trabalho (5 · 104elulas mm2),

não cando claramente estabelecida uma relação entre o coeciente de difusão e a densidade celular para valores de densidade abaixo dos utili- zados porLYNG; HARALDSETH; ROFSTAD(2000). Células de melanoma são células que migram de forma coletiva, o que mostra uma relação en- tre a migração e o contato célula-célula (FRIEDL; WOLF, 2003). Sendo assim, optou-se pela relação de aumento do coeciente de mobilidade com o aumento da concentração celular, de forma semelhante a outros modelos matemáticos de migração de células de câncer de pele (EIKEN- BERRY; THALHAUSER; KUANG, 2009;TOHYA et al., 1998).

Neste trabalho, inclui-se a constante d2 na Equação 3.2, o que

permitiu um ajuste dos valores de migração da célula ao longo do tempo sem modicação signicativa do formato da curva de migração. Com isto, foi obtida uma curva que melhor representou os dados experimen- tais utilizados neste trabalho. Outros valores foram testados para d1

e d2 que, no entanto, resultaram em erros maiores que os da Tabela

1. Outros estudos poderiam ser realizados para avaliação da inuência do coeciente de difusão na migração celular, bem como a variação do mesmo com a concentração de células.

Os valores de coeciente de difusão apresentados neste trabalho (0, 01 ∼ 1 mm2dia−1) são pequenos quando comparados a valores de

coecientes de difusão de células de melanoma obtidos experimental- mente porLYNG; HARALDSETH; ROFSTAD(2000) (50 ∼ 80 mm2dia−1).

No entanto, os valores deste trabalho são comparáveis a valores utiliza- dos por outros modelos de migração de células de câncer, como os de- senvolvidos porEIKENBERRY; THALHAUSER; KUANG (2009) (0, 002 ∼ 0, 07 mm2dia−1) eANDERSON et al.(2000) (∼ 0, 0009 mm2dia−1). Este

fato indica que a migração de células de melanoma não pode ser mo- delada considerando-se apenas a proliferação das células e um processo de difusão pela Lei de Fick. Outras forças devem ser estudadas para que se obtenham modelos com parâmetros semelhantes aos obtidos ex- perimentalmente.

Uma possível explicação para esta diferença seria que o processo de difusão, modelado pela Lei de Fick, não considera a princípio a

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migração coletiva das células. Células de melanoma apresentam predo- minantemente migração coletiva quando in vitro (FRIEDL; GILMOUR, 2009). Na migração coletiva, são observadas junções aderentes entre as células e a formação de pseudópodes é observada nas células da fron- teira e não nas demais células da camada (FRIEDL; GILMOUR, 2009). Isto confere algumas características à migração, por exemplo: durante a migração as células não se separam das bordas e não há formação de buracos no meio da camada de células (MI et al., 2007).

Figura 6  Migração de células de câncer em situação experimental e em modelo matemático. A: Migração de células de melanoma em um ensaio scratch wound. Não se observa a formação de buracos no meio da camada de células. Retirado de (REDPATH et al., 2009). B: Simulação da migração de células de câncer com um modelo baseado na Lei de Fick. Devido à difusão, as células se separam e pode-se observar a formação de buracos no meio da camada após algum tempo de simulação. Retirado de (ANDERSON et al., 2000).

A

B

Inicialmente, optou-se por condições iniciais em que a concen- tração de células tumorais estava distribuída no espaço com formato degrau. Condições iniciais semelhantes, com variações abruptas de concentração na região de fronteira entre espaços com células e espaços sem células haviam sido utilizadas em outros trabalhos (EIKENBERRY; THALHAUSER; KUANG, 2009). No entanto, os melhores resultados de ajuste à curva dos valores experimentais foram obtidos neste trabalho

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para condições iniciais com menor variação de concentração celular, como mostrado nas Equações 3.3 e 3.4. Estudos futuros podem ser realizados para avaliação da inuência da variação da concentração de células inicial na migração celular para que se obtenha modelos que representem ainda melhor a migração celular in vivo.

A mudança observada na distribuição de concentração para t = 0he t = 24h, Figura 4, é qualitativamente comparável à variação na dis- tribuição de concentrações apresentada por MAHESHWARI; LAUFFEN- BURGER (1998), porém difere da mudança observada por SENGERS; PLEASE; OREFFO(2007). No último, no entanto, é observado um au- mento na concentração de células ao longo do tempo, diferentemente do visto na Figura 4, o que indica que no modelo desenvolvido por SENGERS; PLEASE; OREFFO (2007), a proliferação é mais signicativa do que neste trabalho. Isto está ligado a fatores como o tipo de célula em estudo e poderia levar a uma diferente distribuição de concentração celular ao longo do tempo. A distribuição de concentração de célu- las inicial, para t = 0h, apresentada na Figura 4 é qualitativamente comparável à apresentada porANDERSON et al. (2000). A evolução da distribuição de concentração ao longo do tempo é diferente, no entanto, devido às diferenças de considerações feitas por ambos os modelos. No modelo apresentado por ANDERSON et al. (2000), são consideradas a MEC e enzimas que a degradam, bem como suas inuências na movi- mentação das células.

A Figura 5 mostra que o modelo foi capaz de descrever a migra- ção das células de melanoma como apresentado no estudo experimental do modelo de migração de melanoma deMARQUES(2010), uma vez que o valor encontrado pelo modelo encontra-se dentro do desvio padrão para todos os pontos experimentais e o maior erro encontrado, de 13%, ocorre para o ponto experimental de maior desvio padrão. Segundo o teste de Cramér von Mises, as curvas do modelo matemático e dos dados experimentais foram consideradas iguais, com p < 0, 006. No en- tanto, os erros observados na Tabela 1 indicam que ainda há diferenças a serem consideradas entre o modelo matemático proposto e os dados obtidos experimentalmente.

O problema que se pretende resolver com o modelo proposto neste trabalho consiste em, a cada instante no tempo, localizar a po- sição da fronteira entre a região com células e a região sem células. Utilizando-se o método das diferenças centrais para discretização do espaço e tendo como única variável a concentração de células, a de- terminação da posição da fronteira torna-se inexata, o que pode ser responsável pelos erros apresentados na Tabela 1. Outros problemas

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de fronteira móvel, em que a localização da fronteira é parte da solução como, por exemplo, os problemas conhecidos como Stefan problems (JAVIERRE et al., 2006), propõe modelos numéricos diferentes para a solução, o que poderia ser aplicado ao modelo proposto neste trabalho na busca de melhores resultados.

Além disso, modelos como o desenvolvido porTOHYA et al.(1998) eANDERSON et al.(2000) levam em consideração uma aleatoriedade na movimentação das células, o que foi desconsiderado no modelo proposto por este trabalho. A existência de alguma aleatoriedade na movimenta- ção das células poderia aproximar os resultados obtidos dos resultados experimentais. Além disso, a relação com que o coeciente de difusão varia com a concentração de células poderia ser avaliada em trabalhos experimentais futuros.

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