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3. CAPÍTULO 2: CINEMA QUEER OU O QUEER NO

3.3 Problematizando o chamado Cinema Queer

É importante afirmar que os filmes classificados como New

Quer Cinema, ou apenas Cinema Queer, são, em sua totalidade,

relacionados aos sujeitos LGBT. Desta forma, a noção de queer vai de encontro a algumas questões propostas pela teoria queer e seu ataque à política de identidades. Entendo como importante deixar claro que, neste espaço, adoto teoria queer como uma ferramenta para pensar representações em filmes que em sua maioria trabalham com discussões sobre sexualidade. Nem todos os filmes com personagens homossexuais têm uma proposta queer, assim como existem outros com personagens e relações heterossexuais que vão ao encontro dos questionamentos propostos pela teoria mencionada. Sendo assim, volto para o questionamento de Teresa de Lauretis quando pergunta, focando na literatura, quando um texto pode ser chamado de queer.

Os debates acerca do momento chamado de New Queer Cinema não somente excluíram mulheres da maioria de seus filmes, como voltaram-se para personagens homens gays e brancos. Escapando às classificações, não existem limites para a escolha do objeto, podendo-se explorar qualquer tipo de produção. A teoria queer talvez seja um caminho para analisarmos como as subjetividades, identidades e relacionamentos são representados. Abre também maior espaço para

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Lesbianism at the movies means, conversely, an opening up of aesthetic, political, fictional and psychological horizons that extend traditional narrative boundaries. How different films achieve this remains, fortunately, unforseable.!

reflexão dos filmes que representam a heterossexualidade e de que maneira a teoria queer pode discutir tais relações.

Como afirmou Richard Miskolci, “considero que seria mais promissor tirar a própria heterossexualidade da sua zona de conforto, trazendo ao discurso suas normas e hegemonia cultural nela centradas, de forma a questionar até mesmo o que seria normal” (2012, p.17). Assim como Jack Halbertstam afirmou (2012), é também importante pensar no funcionamento da heterossexualidade, desestabilizando-a como algo natural, e entendendo-a, também, como construção. O New

Queer Cinema foi assim denominado para refletir sobre uma produção

cinematográfica diferenciada, porém, como estou argumentando,é excludente em inúmeros fatores. Se a teoria queer surgiu como um questionamento da política de identidade, a normatividade não deve ser excluída dessa discussão.

A forma mais comum que essa afirmação de identidade assumiu com as diretoras lésbicas foram os filmes sobre saída do armário. Sair do armário tem sido um ritual central do movimento lésbico e os filmes feitos por lésbicas tem refletido bastante isso. Estes filmes oferecem uma expressão pública de experiência pessoal. Eles são um componente da cultura lésbica que molda, apoia e politiza a mudança pessoa e auto- definição. É impossível subestimar a necessidade por filmes que afirmam todos os aspectos da identidade lésbica, dada a virulenta hostilidade contra lésbicas na nossa sociedade. Filmes são obrigados a recuperar a história, oferecer auto definição e criar visões alternativas79(BECKER;

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79The most common form this affirming of identity has taken in lesbian

filmmaking is the coming out film. Coming out has been a central ritual of the lesbian movement, and the films by lesbians quantitatively reflect this. Such films offer a public expression of personal experience. They are one component

CITRON; LESSAGE; RICH: 1981, tradução nossas).

O filme que será analisado no último capítulo tem como uma das suas principais temáticas o coming out ou sair do armário. Porém, enquanto essas questões identitárias e de sexualidade tomam o pensamento e cotidiano da personagem principal de All Over Me, outros elementos aparecem interligados na narrativa, apresentando a personagem não somente como uma menina confusa em relação a sua sexualidade. O filme representa, ainda, a sociedade como um lugar violento em relação aquele ou àquela que subverte certas normas, tendo a música como um espaço de empoderamento e voz, independente se a mulher está no espaço de quem faz a música ou de quem escuta.

Posto isto, o terceiro capitulo explora a relação da mulher com o rock no decorrer da História, pretendendo entender melhor de que maneira All Over Me dialoga com essas discussões, apresentado aspectos fundamentais na caminhada da personagem principal. No decorrer desse percurso histórico, serão apresentados alguns filmes que tentaram, de alguma maneira, apresentar essa relação, sejam eles biografias históricas ou histórias de mulheres que integram bandas, utilizando, ainda,a trilha musical como elemento simbólico de um contexto de liberação de personagens mulheres. Afirma-se que apesar de o filme escolhido ter a temática da sexualidade, os outros filmes não necessariamente explorarão esse tema, já que as discussões aqui também

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of a lesbian culture that shapes, supports, and politicizes personal change and self-definition. It is impossible to underestimate the need for films to affirm all aspects of lesbian identity, given the virulent hostility against lesbians in our society. Films are required to reclaim history, offer self definition, and create alternative visions.

tratam do empoderamento da mulher em outros aspectos além da sexualidade. Argumentarei, no próximo capítulo, que a música pode constituir um caminho para este empoderamento.

Talvez o verdadeiro tabu não seja a sexualidade entre as mulheres, mas a afirmação de qualquer associação entre mulheres, que são primariamente e exclusivas do homem. Ou, talvez, a potencialidade da sexualidade entre mulheres seja uma ameaça tão forte que bloqueia até mesmo a representação de amizade entre mulheres80(BECKER; CITRON; LESSAGE; RICH: 1981).

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80Perhaps the real taboo is not sexuality between women, but the affirmation of

any associations between women which are primary and exclusive of men. Or, perhaps the potential for sexuality between women is itself so strong a threat that it blocks the depiction of even female friendship.

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