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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.4. Procedimento de análise

Para iniciar a exposição dos procedimentos de análise, consideramos relevante retomar a defesa de que o processo de investigação qualitativo é dinâmico e contínuo, o qual dá lugar a uma situação de comunicação entre pesquisador e pesquisado, de modo que não concebe uma separação entre eles. Este curso metodológico permite o aparecimento de elementos empíricos relevantes à construção do conhecimento em qualquer momento concreto do processo.

Ademais, vale ressaltar que o investigador em todo o procedimento de pesquisa, atua de forma ativa, construindo informações do contexto empírico, dentro do qual amadurece continuamente

questões sobre o próprio objeto estudado. Durante essa trajetória, o sujeito pode reorganizar estruturas de significação sobre o objeto pesquisado de acordo com suas próprias reflexões e vivências (González Rey, 1997). Dessa forma, não concebemos que os dados sejam pertencentes à realidade sem que haja a atuação subjetiva do pesquisador e a relação com a teoria trazida por ele.

Desse modo, González Rey (2002) define os indicadores empíricos como: sendo as unidades de significação mais elementares produzidas no processo de construção do conhecimento e que só ganham significado a partir da interpretação do investigador. Neste curso da pesquisa aparecem diferentes direções que, simultaneamente, se integram ao processo de produção de informação. Compreendemos que o cenário social de nosso estudo foi, assim, fonte de produção desses indicadores empíricos, que conduziram a pontos de partida para novos momentos de produção de informações associados às ideias da pesquisadora e que serão, adiante, apresentados e discutidos.

Isto não significa, contudo, que o compromisso intencional do sujeito com o processo de investigação dependa apenas da sua intenção consciente. O pesquisador produz uma grande quantidade de informações sobre a qual não será capaz de se conscientizar e que, por sua vez, será essencial à investigação (González Rey, 1997).

Para o autor, o primeiro nível de análise não está relacionado com a tentativa de classificar em categorias gerais, mas sim em tornar inteligíveis as manifestações do sujeito concreto estudado, de acordo com as potencialidades heurísticas da teoria. Sob essa perspectiva, a generalização não é resultado do processo de classificação das manifestações parciais do sujeito em categorias gerais, mas da integração daquilo que aparenta ser similar dentro da estruturação holística do sujeito individual. A definição da generalização não se dá por meio de conclusões estatísticas, mas da construção teórica que encontra seu sentido como forma de conhecimento pelas diferenças individuais (González Rey, 1997).

O caso individual representa, assim, um ponto chave aos pontos de ruptura desenvolvidos na experiência empírica que é o que define o caráter processual dada à análise do conteúdo, a qual sempre representa uma abertura em relação à teoria. Na análise de conteúdo, o sentido dos resultados obtidos é determinado dentro da interpretação holística dos dados construídos, a partir dos instrumentos metodológicos e das ações interativas geradas na investigação (González Rey, 1997)

Segundo reflexões e críticas de González Rey (2002), destacamos, porém, a ressalva de que a análise de conteúdo pode ser utilizada na proposta de epistemologia qualitativa de pesquisa se for entendida como um processo construtivo-interpretativo. Este é contínuo no que se refere ao desenvolvimento de indicadores que são organizados a partir de determinada estrutura de sentido para a interpretação, indo além, desse modo, da definição de códigos e da produção restritiva de categorias. O momento parcial conclusivo, de qualquer etapa do processo, é identificado como unidade de sentido (González Rey, 1997). Para o autor esse, é um dos momentos mais delicados e importantes do processo, pois será quando as categorias ou momentos de explicação realizados por ele irão integrar diversos indicadores para uma nova explicação.

Nesse sentido, ao considerar as observações realizadas durante a rotina da escola, destacamos os sentidos subjetivos distintos que por si mesmos não são capazes de representar um resultado conclusivo sem que haja, assim, a interpretação do investigador, a qual se realiza dentro de uma rede de indicadores configurados a partir da interrelação de seus conhecimentos teóricos e suas experiências anteriores (González, 1997).

Do mesmo modo, a observação do próprio sujeito sobre sua conduta, assim como ocorreu na experiência das crianças ao verem os episódios de si mesmas, não é uma via legítima na produção de conhecimento se usada apenas como uma correspondência direta e linear entre o seu conteúdo e o sentido de tal conduta sem que atue a subjetividade do pesquisador (González Rey, 1997). Sendo assim, consideramos que a simples descrição da conduta e a introspecção do sujeito não são suficientes para produzir informação sobre o fenômeno, necessitando, portanto da interpretação e reflexão do pesquisador, o que reforça o movimento que mantém a comunicação entre o investigador e o investigado na proposta da epistemologia qualitativa.

Baseadas nisso, a análise dos momentos e indicadores empíricos do presente trabalho teve um papel ativo e criativo da pesquisadora para fundamentar os dados construídos no processo de investigação, de acordo com suas ideias teóricas e vivências anteriores, gerando, dessa maneira, novas possibilidades integrativas de reflexão e discussão.

Por fim, não vislumbramos, com a análise dos indicadores empíricos, atermos-nos em comprovar ou refutar hipóteses prévias ou romper com paradigmas existentes sobre o fenômeno estudado, mas sim contribuir com reflexões e apontamentos relevantes sobre o tema estudado, seguindo, sobretudo, um rigor científico. Essa proposta, portanto, visa contemplar novas e inesperadas perspectivas, possibilitando a abertura às experiências científicas futuras de novos questionamentos e problemas de pesquisa.

V- RESULTADOS E DISCUSSÕES