• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO

3. METODOLOGIA

3.3. Procedimento de Recolha de Dados

No que se refere à recolha de dados, esta passou por duas fases fundamentais, ou seja, pela aplicação em dois momentos distintos de um formulário. A recolha de informação pode ser definida como um processo altamente estruturado, que permite obter a mesma informação junto de todos os sujeitos da amostra, de uma forma comparável e preestabelecida (Polit & Hungler, 2004). Assim, perante os factos descritos, nomeadamente as características esperadas dos participantes, selecionou-se como instrumento mais favorável a esta investigação, um formulário preenchido pela investigadora.

Segundo Gil (2002), este método pode ser definido como a técnica de colheita de dados em que o investigador formula questões previamente elaboradas e anota as respostas do participante. Para o mesmo autor, em termos de métodos de colheita de dados, este encontra-se entre o questionário e a entrevista, sendo indicado para pesquisas de opinião pública e de mercado. Para Marconi e Lakatos (2003, p. 212) o formulário apresenta as seguintes vantagens e limitações:

• Vantagens – pode ser utilizado em todos os segmentos da população; a presença do pesquisador favorece o esclarecimento de eventuais dúvidas; flexibilidade para ajustar às necessidades da situação; consegue extrair dados complexos; facilita a aquisição de um número representativo de participantes; possibilita uma uniformidade nos símbolos utilizados no momento do preenchimento.

• Limitações – oferece menos liberdade nas respostas, devido ao contato com o investigador; oferece risco de distorções por parte do investigador; fornece pouco tempo para os participantes pensarem na resposta; pode haver insegurança nas respostas devido à identificação do informante; os participantes podem estar em localidades distantes, gerando dificuldade quanto ao tempo e ao gasto financeiro.

De acordo com as metas traçadas para este estudo foram utilizados três instrumentos de avaliação/colheita de dados: o instrumento Mini Mental State Examination (MMSE) (Anexo II), um formulário (Apêndice I) para caracterização sociodemográfica, clínica e da UCMI dos participantes e a EAMD.

O primeiro instrumento utilizado foi o MMSE, aplicado com o intuito de cumprir um dos critérios de seleção da amostra (avaliação da capacidade cognitiva). A escala de MMSE de Folstein, Folstein e McHugh (1975), foi validada para a população portuguesa por Guerreiro et al. (1994), sendo uma das principais escalas mais utilizadas em todo o mundo como medida de avaliação da capacidade cognitiva. Segundo Sequeira (2007), constitui um instrumento de avaliação cognitiva, possibilitando o despiste de défice cognitivo de acordo com o grau de escolaridade. Este instrumento permite a avaliação da orientação, retenção, atenção e cálculo, evocação, linguagem e habilidade construtiva. Cada resposta correta corresponde a um ponto, a escala

varia de 0 a 30 valores, condizendo este último dado com o melhor desempenho (Morgado et al., 2009). Tendo em conta a melhoria no acesso à educação, a evolução a nível económico e social, a melhoria nos cuidados de saúde e nutrição, Morgado et al. (2009), propuseram novos valores operacionais de “coorte” do MMSE para a população portuguesa, com consistência interna de valor moderado (Alfa de Cronbach 0.464).

Os valores operacionais propostos pelos autores acima mencionados são: 0 a 22 pontos para literacia de 0 a 2 anos, 22-24 pontos para literacia de 3 a 6 anos e 24-27 pontos para literacia igual ou superior a 7 anos, não sendo o objetivo distinguir indivíduos com declínio cognitivo de indivíduos saudáveis, mas sim identificar sujeitos que apresentem um desempenho muito inferior à média. Considerando estes valores, no estudo proposto, apenas foram incluídos os utentes cujo score de aplicação da escala corresponderem aos valores operacionalizados acima.

O formulário (Apêndice I) aplicado no nosso estudo é constituído por três partes:

• Primeira parte: caracterização sociodemográfica e clínica [sexo (masculino/feminino), idade (anos), constituição do agregado familiar, habilitações literárias e profissão, comorbilidades, medicação, hábitos tabágicos, peso (quilogramas), altura (metros), Índice de Massa Corporal (IMC), história de diabetes e índice de dependência de Barthel

];

• Segunda parte: caraterização da úlcera [tempo de evolução da úlcera de perna, recidiva da úlcera da perna, localização da úlcera, área (mm2), etiologia, origem da úlcera,

presença de dor, pulsos e terapia compressiva, utilização da avaliação da úlcera do SClínico];

• Terceira parte: EAMD, validada para a população portuguesa por Baltar, Ribeiro, Torres, Araújo (1999).

O índice de Barthel foi desenvolvido, originalmente, por Mahoney e Barthel (1965) e avalia a independência do sujeito para a realização de atividades básicas de vida diária: comer, higiene pessoal, uso de sanitários, tomar banho, vestir e despir, controlo dos esfíncteres, deambular, transferência da cadeira para a cama e subir e descer escadas. Na versão original, a pontuação varia entre 0 e 100, sendo a pontuação mínima de 0 correspondente a máxima dependência para todas as atividades de vida diária avaliadas e, a máxima de 100 equivale a independência total para as mesmas. No entanto, Araújo et al. (2007) validaram para a população portuguesa a versão desenvolvida por Wade e Collin (1988), que propõe uma pontuação dos itens em 0, 1, 2, ou 3, obtendo uma pontuação total da escala entre 0 (totalmente dependente) e 20 (totalmente independente), como poderemos verificar no Quadro 2 que apresentamos de seguida.

Quadro 2 - Interpretação do Índice de Barthel (Araújo et al., 2007) Pontuação Classificação 0 – 8 Dependência Total 9 – 12 Dependência Grave 13 – 19 Dependência Moderada 20 Independência Total

O estudo das propriedades psicométricas revela que é um instrumento com um nível de fidelidade elevado (Alfa de Cronbach de 0,96), apresentando os itens da escala correlações com a escala total entre r=0,66 e r=0,93, pelo que facilmente pode constituir uma estratégia de avaliação do grau de autonomia das pessoas idosas, de uma forma objetiva (Araújo et al., 2007).

A EAMD (parte III do formulário) baseada na escala de Ajuste Mental ao Cancro de Watson et al. (1988) foi validada para a população portuguesa por Ribeiro et al. (1999) e utilizada, posteriormente, por Sá (2001). Esta escala permite avaliar um conjunto de respostas cognitivas e comportamentais face a um diagnóstico, por forma a determinar o ajustamento mental a uma doença. A escala original era composta por 58 questões e, posteriormente, foi elaborada uma versão reduzida, com 40 questões, distribuídas por 5 dimensões. Estas dimensões não foram confirmadas por outros estudos em língua inglesa, a não ser o do Reino Unido (Romero et al., 2006). Isto levou os autores da escala a reconhecer as limitações da mesma e a desenvolver uma nova escala que incluiu um grande número de novos itens, a Mini-MAC (Mental Adjustment to Cancer Scale). Também reconheceram limitações na avaliação de estratégias de coping de evitamento e foi tida em conta a fidelidade (consistência interna) de cada uma das cinco dimensões (Watson et al., 1988). A Mini-Mac foi adaptada para a população portuguesa por Pais Ribeiro, Ramos e Samico (2003) e o estudo das suas características psicométricas foi realizado numa amostra de 60 doentes com diagnóstico de cancro, dos quais 30 tinham diagnóstico de cancro colo-rectal em fase inicial e 30, diagnóstico de cancro da mama. Segundo os autores, na versão portuguesa foi retirada a palavra “cancro”, por exigência da instituição onde os dados foram recolhidos.Neste estudo, foi utilizada a escala validada por Ribeiro et al (1999), constituída por 47 questões (consultada no estudo de (Sá, 2001), “A influência da adaptação mental à doença oncológica na qualidade de vida do doente hemato-oncológico, em ambulatório”) divididas em cinco dimensões (Quadro 3), onde à semelhança de outros estudos se omitiu a palavra “cancro” passando esta a ser substituída pela palavra “doença”, permitindo assim a sua utilização em qualquer patologia crónica.

Quadro 3 - Itens por subescalas da EAMD (Ribeiro et al.,1999; Sá,2001)

Subescalas MAD Itens Interpretação

Fatalismo 7, 8, 12, 15, 24, 30, 33, 35, 45

Permite saber se o doente vê o diagnóstico como uma ameaça minor com atitudes de confronto ausentes e serenidade sobre os resultados, verificando-se aceitação passiva

Preocupação Ansiosa 1, 3, 10, 14, 19, 21, 22, 29, 37

Demarca a existência de ansiedade persistente, por vezes acompanhada de depressão, procura informação compulsivamente como resposta comportamental sobre a doença, mas tende a interpretá-la de forma pessimista, sendo incerto a capacidade de controlar a doença

Desespero /

Desesperança 2, 9, 17, 23, 25, 36

Delimita a existência de respostas passivas face à doença, manifestadas essencialmente por uma visão negativista das competências bem como a descrença sobre a possibilidade de qualquer controlo sobre ela

Espírito de Luta

4, 5, 6, 11, 13, 16, 18, 20, 26, 27, 28, 31, 32, 34, 39, 40, 41,

42, 43, 44, 46, 47

Determina a existência dum conjunto de respostas de coping, visão otimista do futuro e crença na possibilidade de algum controlo sobre a doença

Negação 38

Entendido como a recusa do diagnóstico ou admissão do diagnóstico, mas negando a gravidade com visão positiva do prognóstico em que a questão do controlo é irrelevante

Relativamente ao comportamento da EAMD, no que respeita à sua confiabilidade, esta verificou- se em vários estudos consultados, apresentando um Alfa de Cronbach na sua maioria entre 0,61 a 0,94 (valores questionáveis a excelentes), como podemos verificar na Tabela 2; porém constatam-se valores de caráter pobre e inaceitável para determinadas subescalas.

Tabela 2 - Valores da consistência interna da EAMD por subescala através do cálculo do alfa de

cronbach dos diferentes estudos

Subescala α de cronbach Watson et al., (1988) Schawartz et al, (1992) Nordin et al. (1999) (2001) Alves, (2017) Espírito de Luta 0,84 0,78 0,81 0,86 0,22 Desespero/Desesperança 0,79 0,83 0,78 0,83 0,92 Preocupação Ansiosa 0,65 0,43 0,62 0,60 0,92 Fatalismo 0,65 0,67 0,61 0,64 0,94

Evitamento/Negação n.a. n.a. n.a. n.a. n.a.

As respostas são dadas segundo uma escala ordinal de quatro alternativas, sendo que 1 “Não se aplica de modo nenhum a mim” e 4 “Aplica-se totalmente a mim”. Para cada um dos itens, os sujeitos assinalam o seu grau de concordância, numa escala de quatro pontos (1= Não se aplica de modo nenhum a mim; 2= Não se aplica a mim; 3= Aplica-se a mim; 4= Aplica-se totalmente a mim).

Relativamente aos pontos de corte para a classificação “ajustado” versus “não ajustado” nas diversas subescalas da EAMD, verificámos que na bibliografia consultada, apenas Alves (2017) estabelece um score para a dicotomização das subescalas. Neste sentido, optámos pela mesma dicotomização: como cada item avaliado tinha 4 opções de resposta, considerou-se que na subescala “Espírito de Luta” as duas primeiras opções de resposta estavam relacionadas com a classificação de “não ajustado”, enquanto as duas últimas opções de resposta estavam relacionadas com a classificação de “ajustado”. No caso das subescalas “Desespero / Desesperança”, “Preocupação Ansiosa”, “Fatalismo” e “Evitamento / Negação” o procedimento foi o contrário, ou seja, as duas primeiras opções de resposta estavam relacionadas com a classificação de “ajustado”, enquanto as duas últimas opções de resposta estavam relacionadas com a classificação de “não ajustado”. Como cada resposta estava codificada de 1 a 4, então o ponto de corte foi o ponto médio do intervalo de valores possíveis para uma determinada subescala (ver Quadro 4).

Quadro 4 - Pontos de corte para a classificação "ajustados" versus "desajustados nas diversas dimensões da EAMD (Alves, 2017)

Subescalas MAD Nº total de questões Score Min. Score Máx. Ajustado (score) Desajustado (score) Fatalismo 9 9 36 9 a 23 24 a 36 Preocupação Ansiosa 9 9 36 9 a 23 24 a 36 Desespero / Desesperança 6 6 24 6 a 15 16 a 24 Espírito de Luta 22 22 88 56 a 88 22 a 55 Evitamento / Negação 1 1 4 1 a 2 3 a 4

Com o intuito de verificar a adequabilidade do preenchimento da primeira parte do formulário, correspondente à caracterização sociodemográfica e clínica dos participantes assim como das características das UCMI, foi realizado um pré-teste a duas pessoas não pertencentes ao grupo de participantes no estudo, de forma a poder prever o tempo necessário ao seu preenchimento e eventuais dificuldades de compreensão/ interpretação.

Para facilitar a identificação e coincidência dos participantes entre o momento 1 e momento 2 (cerca de 1 mês após o primeiro momento) de recolha de dados foi criado um código numérico por formulário e elaborada uma tabela de informação geral (código, nome, contacto telefónico, caracterização por subescala em cada momento e respetivas datas de realização).

Entre os dois momentos de recolha de dados foi realizada uma intervenção psicoeducativa individualizada e adequada a cada participante com recurso ao “Manual de Intervenção do Ajustamento Mental da Pessoa com Úlcera Crónica nos Membros Inferiores”, criado de forma a promover o ajustamento mental (Apêndice II) e que explicaremos posteriormente.

Documentos relacionados