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3 O DELEGADO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA E O INQUÉRITO POLICIAL COMO

3.2 A Investigação Preliminar Através do Inquérito Policial

3.2.3 Procedimento do inquérito policial

Segundo o art. 5º do Código de Processo Penal, o inquérito policial poderá ser instaurado de ofício pela autoridade policial, “ou mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representa-lo”.

Outrossim, qualquer pessoa que tiver conhecimento da prática de crime poderá comunicar a autoridade policial, seja verbalmente ou por escrito, que mandará verificar a veracidade da denúncia e poderá instaurar inquérito (art. 5º, § 3º do CPP). No entanto, não é possível a instauração deste com base unicamente em denúncia anônima.

Senão vejamos,

Se houver instauração de qualquer ato de persecução estatal [...], com base em denúncia anônima, todo e qualquer elemento de prova que for colhido, posteriormente, estará contaminado com base na teoria dos frutos da árvore envenenada, adotada, hodiernamente, no Brasil. Eventuais procedimentos, ou processos, instaurados com base em denúncia anônima poderão ser questionados, via ação de habeas corpus, ou mandado de segurança [...], a fim de que sejam extintos ou anulados por determinação do Poder Judiciário. [...] A autoridade que instaurar procedimento criminal [...] com base em denúncia anônima,

fica sujeita, em tese, aos limites do art. 339 do CP. (RANGEL, 2010, p. 765).

Quanto à atuação do Delegado de Polícia, havendo delito, deve este proceder com a instauração oficiosa do inquérito – que pode ser iniciado com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria (art. 26 do CPP11) –, sob pena de cometer crime, esta é a lição de Alves,

O inquérito policial é instaurado pela autoridade policial que irá presidi- lo, quando toma conhecimento, por conta própria, da prática de um delito. Essa forma de instauração vai ao encontro dos princípios da obrigatoriedade e da oficiosidade da ação penal pública. Diante disso, só se permite a instauração do inquérito de ofício pela autoridade policial se o crime for de ação penal pública incondicionada. Aliás, insta salientar que, tomando conhecimento da prática de crime de ação penal pública incondicionada, por força dos princípios anteriormente aludidos, a autoridade policial tem o dever de

instaurar o inquérito policial, sob pena do cometimento do crime de prevaricação (art. 319 do CP). (ALVES, 2015, p. 121) GRIFO

NOSSO

Na hipótese da instauração de inquérito por requerimento do ofendido, caso a autoridade policial indefira a abertura daquele, poderá o prejudicado oferecer recurso ao chefe de Polícia (art. 5º, § 2º do CPP12) ou encaminhar sua irresignação ao Ministério Público e/ou ao juiz, que poderão requisitar ao delegado a instauração do inquérito.

Todavia, conforme Alves,

[...] o delegado tem o direito de fazer um juízo de tipicidade acerca dos fatos. Assim, se entender que o fato é atípico, não está obrigado a acatar o requerimento do ofendido ou de quem tenha legitimidade para representá-lo, não tendo tais pessoas direito líquido e certo a manejar mandado de segurança - é a posição do STJ. (ALVES, 2015, p. 122)

11 Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.

12 Art. 5º (...) § 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.

Sob a orientação do art. 6º do CPP, a autoridade policial, logo que tiver conhecimento do fato delituoso, deve se dirigir ao local para isolá-lo, providenciando para que o estado e conservação das coisas não se alterem até a chegada dos peritos criminais. Posteriormente, deve apreender objetos que tiveram relação com o fato; ouvir a vítima, o suposto autor e proceder com o reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; bem como determinar, caso necessário, que ocorra o exame de corpo do delito ou outras periciais; e ordenar a identificação datiloscópica do indiciado etc.

O prazo para conclusão do inquérito, ou seja, para o fim da colheita de provas e informações, é de 10 (dez) dias, caso o indiciado tiver sido preso em flagrante ou preventivamente, ou de 30 (trinta) dias, quando estiver solto (art. 10 do CPP13). Devendo, a autoridade policial, ao final da investigação, elaborar relatório minucioso sobre as atividades realizadas no procedimento policial, podendo indicar a qualificação jurídica ao fato praticado, assim como também solicitar alguma cautelar restritiva de liberdade, a exemplo da prisão preventiva.

Entretanto, caso o fato seja de difícil elucidação, poderá a autoridade policial solicitar ao magistrado a dilação do prazo legal, hipótese apenas admitida em se tratando de investigado solto, que poderá ser ou não concedida após a oitiva do Ministério Público (ALVES, 2015, p. 135).

Destarte, no que se refere ao indiciamento do suposto autor do delito, isto é, da imputação feita ao suposto autor do crime que está sendo investigado, o art. 2º, § 6.º, da Lei nº. 12.830/2013 afirma o seguinte: “o indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias”.

Ou seja, o indiciamento é um ato exclusivo do delegado, todavia não discricionário, devendo ser motivado e fundamentado em provas suficientes, sob pena de configurar constrangimento ilegal.

13 Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 (trina) dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.

§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. § 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.

§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

Encerrado o inquérito, a autoridade policial deverá remetê-lo ao juízo competente, devendo acompanhar os autos os instrumentos do crime e os objetos de prova (art. 11 do CPP14). Contudo, se não houver provas suficientes para a promoção da demanda criminal, competirá ao Ministério Público requerer o seu arquivamento, o que é vedado ao delegado (art. 17 do CPP15).

Em relação ao arquivamento do inquérito, afirma Nucci que,

Vige, no sistema processual, o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, motivo pelo qual compete ao magistrado averiguar se, realmente, é caso de arquivamento do inquérito. Discordando das razões invocadas pelo membro do Ministério Público, deverá remeter o feito ao Procurador-Geral da Justiça, nos termos do art. 28 do CPP. Se o Chefe da Instituição concordar com o juiz, designará outro promotor para o oferecimento da denúncia. Este membro do MP deverá propor a ação, pois age por delegação do Procurador-Geral. Se a Chefia discordar do juiz, expondo seu fundamento, insistirá no arquivamento; deverá, então, o magistrado determinar o referido arquivamento. (NUCCI, 2014, p. 34)

Face ao aludido, tem-se que a violação de uma norma enseja por parte do Estado a aplicação do seu ius puniendi, que estará condicionado a uma investigação preliminar, a ser realizada por órgãos legalmente autorizados, culminando ou não numa ação penal proposta pelo Ministério Publico, desde que haja provas suficientes para tal. Todavia, a persecução penal não deve ser conduzida de forma arbitrária, devendo as autoridades observar o princípio da legalidade e as garantias constitucionais.

14 Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.

4 APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PELO DELEGADO DE

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