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Muito se tem debatido sobre as vantagens, limitações e dificuldades apresentadas pelos métodos de pesquisa qualitativos ou quantitativos. Entretanto, parece haver atualmente consenso de que, em Ciências Sociais, não há uma indicação segura do caminho a percorrer para se fazer pesquisa, acreditando-se na interdependência entre os aspectos quantificáveis e a descrição da realidade objetiva, e como melhor opção, devem-se utilizar diferentes abordagens de pesquisa (GOLDEMBERG, 1997). Desse modo, o pesquisador deve utilizar todos os recursos disponíveis que possam auxiliar na compreensão do problema a ser estudado, afirma a mesma autora.

O estudo de caso é uma metodologia que prevê a análise aprofundada de um caso particular ou de vários casos, reunindo grande número de informações, e tem por finalidade descrever a totalidade de uma situação ou avaliá-la criticamente objetivando tomar decisões a seu respeito ou propor novas formas de ação sobre ela (BRUYNE, et al, 1991; CHIZZOTTI, 1997).

Essa metodologia se mostra mais útil quando utilizada em estudos que tenham um caráter exploratório, como é o caso desta pesquisa, isto é, quando tem como objetivo “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas na formulação de hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (GIL, 1994). Dessa forma espera-se que a particularização ou a limitação de se construírem generalizações, próprias da metodologia escolhida, não constituam impedimentos para que sejam ultrapassados os limites do particular, permitindo que algumas generalizações empíricas sejam feitas, mesmo que sejam transitórias.

Optamos por analisar três casos, em cuja seleção procuramos privilegiar aqueles que nos pareceram mais expressivos da realidade que procuramos pesquisar, conforme sugerido por GIL (1994). Esse tipo de estudo “multi-caso” é também chamado de “Estudo Comparativo”, por BRUYNE et al (1991), baseando-se na intenção de comparar os casos, o que permite a elaboração de tipologias ligadas aos resultados da pesquisa empírica e ao quadro teórico traçado.

Os estudos de caso foram selecionados dentro do universo de estudo do presente trabalho, tendo sido escolhidos três projetos específicos de interação entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o setor empresarial.

Para a escolha dos projetos alguns critérios foram previamente definidos a fim de garantir o alcance dos objetivos propostos para o estudo. Desse modo, os projetos deveriam: a) estar inseridos no universo da UFMG e ser desenvolvidos em interação com empresas; b) ser desenvolvidos com empresas de capital essencialmente nacional; c) ter como objetivo principal o desenvolvimento de tecnologia; d) ter obtido êxito. Para identificação destes casos foi feita pesquisa junto à Coordenação de Transferência e Inovação Tecnológica (CT&IT) da UFMG, bem como contatos com pessoas com experiência no campo das interações UFMG-empresa.

Os casos selecionados são de áreas do conhecimento diferentes e constituem exemplos típicos das interações que ocorrem em departamentos acadêmicos que possuem tradição de interação com empresas para criação tecnológica. Os três Departamentos Acadêmicos da UFMG contemplados pertencem a áreas que

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desenvolvem projetos de pesquisa próximos da aplicação comercial – as áreas farmacêutica, de ciência da computação e de engenharia metalúrgica.

Após a definição dos casos a serem analisados, foram realizadas entrevistas com os coordenadores universitários de cada projeto e em dois dos casos, aplicados questionários que foram respondidos pelos responsáveis pelos projetos nas empresas.

O objetivo principal das entrevistas foi destacar aspectos relevantes da interação relativos às formas como as atividades foram desenvolvidas e registradas, bem como os resultados obtidos, possibilitando um relato completo das experiências vividas. Dessa forma a entrevista (Anexo 1- Roteiro) foi dividida em blocos de assunto, sendo que na primeira parte foi realizada uma “atualização” sobre o assunto a ser discutido, concentrada em algumas informações sobre a motivação e a efetivação da parceria, bem como informações relativas também à formalização do contrato, ou seja, sobre a explicitação das condições em que o trabalho seria desenvolvido. Em segundo momento pretendemos saber o histórico completo da interação, bem como os resultados alcançados. A partir daí a entrevista era dirigida para obter informações sobre a forma em que essas atividades foram registradas nos sistemas de informação da UFMG e sobre a eficiência ou não desses registros, do ponto de vista do pesquisador, em vista de constituírem os indicadores daquelas atividades. As sugestões ao processo de interação UFMG-empresa e à construção de indicadores foram solicitadas ao final da entrevista.

O questionário aplicado às empresas teve como objetivos obter informação sobre o processo de interação com a universidade e verificar o impacto de seus resultados sobre as mesmas. A decisão por aplicar questionários aos coordenadores nas empresas, ao invés de entrevista, como feito com os coordenadores-professores da UFMG, deveu-se à impossibilidade de realizar entrevistas pela necessidade de deslocamentos até localidades muito distantes. Optamos pela utilização de correio eletrônico para envio do questionário e recebimento das respostas dos coordenadores nas empresas, após contato por telefone com cada um. Em um dos casos não foi possível nenhum tipo de contato direto com a empresa e por isso o questionário não foi aplicado, nem tampouco foram obtidos maiores dados sobre sua estrutura e a atuação na própria empresa, por razões de sigilo apresentadas pelo coordenador universitário.

O questionário aplicado (ANEXO 2) também foi dividido em partes. A primeira referia-se a uma apresentação do respondente e da empresa; a segunda referia-se aos motivos que levaram à interação; em seguida solicitava-se descrição de como o processo foi formalizado e de seu desenvolvimento; finalmente era solicitada avaliação dos resultados e sugestões para melhoria do processo.

Em resumo, preocupou-nos identificar nas entrevistas e nos questionários aspectos da interação UFMG-Empresa que, por sua natureza, não constam de relatórios ou de outros documentos escritos, ou seja, relatos sobre: origem e motivação da iniciativa, maneiras de estabelecer acordos para desenvolvimento das atividades, formas de comunicação entre os pesquisadores, maneiras estabelecidas para organização inicial da parceria, formas de registro e avaliação dos resultados, dificuldades encontradas, aspectos que contribuíram para o êxito da parceria e o impacto dos resultados sobre a organização.

Foram também analisados documentos disponíveis sobre os projetos com o objetivo de observar como foram formalizados, focalizando-se aspectos, como: características principais da interação, contrato firmado (nível de formalização, definição dos papéis e dos objetivos almejados, forma de desenvolvimento das atividades, recursos humanos e materiais envolvidos), previsão de resultados (publicações, produtos, processos, treinamentos, critérios de avaliação), formas previstas de transferência de conhecimento, existência de normas explícitas sobre publicação e comercialização dos produtos, bem como opções feitas para o processo de intermediacão e apoio administrativo-financeiro à interação.

Os relatórios de atividades anuais dos professores da UFMG também foram analisados a fim de se verificar como foram registradas as atividades desenvolvidas em interação, bem como os seus resultados, durante o período de sua realização.