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Procedimento da pesquisa

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4 NA TRILHA DE UM CAMPESINATO CONTEMPORÂNEO: APLICAÇÃO DA

4.1 Procedimento da pesquisa

Este estudo parte da premissa de que o rural é um “referente empírico”, que segundo Toledo, Alarcón-Cháires e Barón (2002, p. 21), só se pode analisar através de uma abordagem interdisciplinar e/ou multidisciplinar. Deste modo, o rural deve ser estudado a partir das dinâmicas sociais, de suas inte-relações com o urbano-industrial e de suas conexões com a natureza.

Sendo assim, esta pesquisa relaciona as Ciências Agrárias e as Ciências Sociais e Humanas dentro do campo abrangente dos estudos camponeses. Nesse campo, das diferentes ciências mencionadas, que procura apreender uma dimensão material, como a agrobiodiversidade, o desenho da unidade produtiva, entre outros, mas também uma dimensão simbólica (espaço social e de reconhecimento do ser camponês).

Para tanto, foi utilizado como método a coleta de dados direta, que é definida como sendo aquela na qual os dados são obtidos pelo próprio pesquisador através de levantamento de registro ou coletados diretamente através de inquéritos, questionários, entrevistas, etc. Também optou-se por fazer uma coleta de dados continua. Isto exigiu, além de uma pesquisa de campo, através de entrevistas semiestruturadas, a observação da dinâmica social na comunidade, realizada através de observação direta.

Destaca-se que durante as entrevistas semiestruturadas ou abertas foi utilizado o gravador, como instrumento de apoio ao registro das falas dos entrevistados.

A disponibilidade dos entrevistados em falar de suas histórias particulares, assim como a abertura para o diálogo através de questionamento e particularmente o compartilhamento de suas ideias, experiências e opiniões, foram os norteadores das entrevistas.

Ressalta-se que foi possível desenvolver uma relação de confiança que facilitou significativamente o levantamento de informações. Já o uso do gravador, em todas as

entrevistas, permitiu o resgate, através das transcrições, de elementos significativos da história oral que permitiram analisar, em certa medida, elementos de subjetividade, como também o uso do caderno de campo foi fundamental para os registro, no momento, das primeiras impressões, de falas dos agricultores que chamaram a atenção.

Importante destacar que, todas às vezes, que forem transcritas citações dos agricultores ou agricultoras entrevistados será usado um nome fictício.

A técnica adotada para a definição da amostragem foi a casual ou aleatória simples que vários autores definem como sendo baseada no sorteio. No caso deste estudo foi utilizado a seguinte sequência: entrevistar 02 (duas) casas próximas e pular 02 (duas) casas vizinhas a últimas entrevistadas, dando sequência na entrevista de mais 02 (duas) casas e assim sucessivamente.

Ainda no contexto da pesquisa dois conceitos foram importantes para nortear a compreensão da realidade estudada, são eles: a) metabolismo entre a sociedade e a natureza e, b) modos de apropriação da natureza.

A incorporação desses conceitos no estudo tornou-se relevante para que pudesse se compreender as formas de relação e as trocas existentes no modo de produção camponesa e agroindustrial em relação à natureza. Além de que a percepção do agricultor e de sua apropriação da natureza determina a tendência a ser mais camponês ou mais agroindustrial. Estes dois fatores são determinantes para colocar o agricultor mais próximo do protótipo camponês ou do protótipo agroindustrial.

Entende-se por metabolismo30 entre a sociedade e a natureza a troca de energia ou a troca de matéria que se opera entre o grupo social e a natureza, tanto em intensidade quanto em mudanças que a troca provoca nos dois sistemas. Como afirma González de Molina e Toledo:

Em analogia a noção biológica e fisiológica de metabolismo, o conceito utilizado no estudo das relações entre a sociedade e a natureza, descreve e quantifica os fluxos de matéria e energia que se intercambia entre conglomerados sociais, particulares e concretos, e o meio natural (ecossistema, paisagem, etc). Este conceito tem sido denominado “metabolismo social”, “metabolismo socioeconômico”, ou “metabolismo industrial” (GONZALEZ DE MOLINA; TOLEDO, 2011, p. 62)31

O metabolismo social é resultante da ação humana que se realiza através do trabalho (TOLEDO; ALARCÓN-CHÁIRES; BARÓN, 2002, p. 22). “As sociedades humanas produzem e reproduzem suas condições materiais de existência a partir de seu metabolismo

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A ideia de utilizar o conceito de metabolismo entre sociedade e natureza foi adotado por Karl Marx, a partir de

suas leituras do naturalismo da época e constituiu uma ferramenta fundamental para seus estudos econômicos e políticos do capitalismo. (GONZÁLEZ DE MOLINA; TOLEDO, 2011, p. 62).

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com a natureza, uma condição que aparece como pré-social, natural e eterna32” (SCHMIDT, 1976 apud TOLEDO; ALARCÓN-CHÁIRES; BARÓN, 2002, p. 22). Ou seja, os autores consideram:

[...] que este processo (de metabolismo entre a sociedade e a natureza) implica um conjunto de ações em que os seres humanos se apropriam, produzem, circulam, transformam, consomem e excretam produtos, materiais, energia e água proveniente da natureza. Esta ação faz com que sejam consumados dois atos: a) de “socialização” de fração ou parte da natureza e b) “neutralizam” a sociedade ao reproduzir seus vínculos com a natureza” (TOLEDO; ALARCÓN-CHÁIRES; BARÓN, 2002, p. 22).

Os autores destacam formas de interferência do humano na natureza, através de duas vias: (1) a apropriação dos recursos naturais, e, (2) os dejetos gerados pelo humano que voltam à natureza, como explicado a seguir:

Os seres humanos organizados em sociedade afetam a natureza (sua estrutura, sua dinâmica e sua evolução) por duas vias: ao apropriasse dos elementos naturais (aproveitamento dos recursos naturais e dos serviços ambientais) e ao excretar elementos da natureza já socializados, pois ao produzir, circular, transformar e consumir, os serem humanos expelem materiais (dejetos) em direção à esfera do natural (TOLEDO; ALARCÓN-CHÁIRES; BARÓN, 2002, p. 22).33

O segundo conceito foi de “apropriação da natureza” que se “constitui o primeiro ato do processo metabólico do humano em relação à natureza. Ele é fundamental para distinguir o rural do urbano” (TOLEDO; ALARCÓN-CHÁIRES; BARÓN, 2002, p. 26). O termo apropriação se refere “a tornar sua a coisa”, neste caso refere-se à forma como o ser humano extrai elementos ou se beneficia de algum serviço da natureza para transformá-lo em elemento social. “Em tal sentido, a apropriação da natureza é um ato de internalização ou assimilação de elementos ou serviços naturais ao “organismo” social” (TOLEDO; ALARCÓN-CHÁIRES; BARÓN, 2002, p. 26)34.

Neste cenário, para analisar a realidade usou-se as as seguintes categorias: 1) o tipo de energia utilizado no ambiente doméstico e produtivo; 2) autossuficiência da unidade de produção, no que tange as necessidades doméstica e produtiva; 3) O tipo de força de trabalho empregada; 4) A diversidade produtiva existente; e 5) as relações de reciprocidade35.

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Tradução livre

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4.2 Descrição do ambiente da pesquisa: Comunidade de Sitio Palmeiras, Chã

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