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Procedimentos de análise de dados

8.1

Introdução

Os procedimentos utilizados para o tratamento dos dados recolhidos foram, maioritariamente, do tipo qualitativo. A análise aprofundada das entrevistas foi feita, deste modo, através da categorização do conteúdo das mesmas por palavras-chave. Assim, como já foi visto, foram criadas categorias que reflectem o conteúdo das entrevistas, e este conteúdo foi então colocado sob uma ou mais categorias, dependendo da sua concordância com as mesmas, de forma a organizar ideias e conceitos. Este processo foi realizado com recurso ao software de análise estatística NVivo®.

A razão para o tipo de análise qualitativo ser preferido neste estudo, prende-se com o facto de ser mais relevante perceber o como e o porquê e não apenas estudar outputs quantitativos.

8.2

Análise Qualitativa

A análise qualitativa tenta compreender o como e porquê dos resultados obtidos no estudo de um determinado fenómeno. Os dados recolhidos não são do tipo estruturado como no caso da análise quantitativa, mas podem assumir várias formas, como transcrições de entrevistas, trechos de áudio e vídeo, entre outros.

Desta forma, este tipo de análise propõe-se a entender atitudes, comportamentos, motivações, necessidades e culturas.

Foi identificada a necessidade de utilização de um software de análise qualitativa de maneira a facilitar o processo de categorização e análise dos dados obtidos.

O software de análise qualitativa é utilizado de maneira a simplificar o processo de análise deste tipo de dados. Tratando-se de dados não estruturados e ambíguos, é necessário conduzir uma análise cuidada e detalhada. Este tipo de ferramentas pode facilitar este processo, ao simplificar a gestão de grandes quantidades de informação.

Existem ferramentas que ajudam à criação de categorias para a classificação e organização dos dados, assim como à observação de relações entre os dados.

"Computers are useful for administrative functions and at arranging and sorting data. What computers can't do is think like a qualitative researcher. But the fact that computers don't think is not a limitation at all; in fact, it leaves the researcher doing what they most want to do - the thinking."45

Miles e Huberman (1994) acrescentam ainda que um investigador que não utilize uma ferramenta de análise que vá alem das capacidades de um processador de texto ver-se-á limitado em comparação com aquele que escolha utilizar uma ferramenta deste género.

45 Ereaut, G. Director of Linguistic Landscapes, UK. – http://www.qsrinternational.com/what-is-qualitative-research.aspx (Consultado em 10

Para proceder à análise das entrevistas realizadas com os cinco clientes da empresa PT Inovação, S.A., optámos pela utilização do software NVivo 846 como ferramenta de apoio. Esta opção prendeu-se com o facto de ser uma das aplicações mais utilizadas neste âmbito, e também com o facto de termos já alguma experiência prévia de utilização da mesma, o que nos fez perceber que era adequada àquilo que pretendíamos alcançar neste estudo.

O NVivo 8 é um software para análise qualitativa que facilita a classificação e organização da informação, de maneira a permitir a exploração facilitada das relações e conclusões derivadas dos dados analisados.

Este software tem como objectivo ajudar no tratamento de dados não numéricos e não estruturados. O NVivo permite a edição, visualização e relacionamento de documentos, facilitando a criação de categorias, a codificação, a filtragem e buscas sobre os dados, de maneira a ajudar o investigador a obter respostas às questões de investigação.

8.3

Eliminação de subjectividade

A própria natureza da análise qualitativa torna-a subjectiva. De maneira a tentar limitar esta subjectividade, houve um enorme esforço de imparcialidade ao analisar as entrevistas, limitando-nos a categorizar os conteúdos o mais objectivamente possível. Para tornar esta categorização o mais fidedigna possível, foram ainda utilizados dois métodos47:

1 – Pedir a uma pessoa externa ao projecto para categorizar uma parte de uma das entrevistas de acordo com as categorias criadas, de maneira a verificar a percentagem de coincidência entre a categorização por ela feita e a que foi por nós realizada.

2 – Cerca de três meses após ter feito a categorização das entrevistas, voltar a categorizar uma parte de uma delas para verificar se a nossa opinião coincide com aquela que havíamos tido inicialmente ou se havia alguma parcialidade presente.

Com estes dois métodos, pretendeu-se tentar diminuir o grau de subjectividade na análise dos dados obtidos, sendo que mesmo assim assume-se que continuará sempre a existir subjectividade na análise e interpretação de dados de natureza qualitativa.

Unidade de análise Codificação 1 Codificação 2 Codificação 3

1 0 0/0 0/0 2 1 1/1 1/1 3 0 0/0 0/0 4 1 0/1 1/1 5 0 0/0 0/0 6 1 1/1 1/1 7 2 1/2 2/2 8 1 1/1 1/1 9 1 1/1 1/1 10 0 0/0 0/0 11 1 0/1 0/1 12 2 1/2 2/2 13 2 1/2 2/2 14 1 0/1 1/1 15 1 0/1 1/1

Tabela 1: Concordância entre codificações

A coluna “Unidade de análise” da Tabela 1 indica cada parte do texto que foi considerada individualmente nesta comparação. Neste caso, cada unidade de análise é uma pergunta por parte do entrevistador ou uma resposta do cliente.

A coluna “Codificação 1” é a coluna tida por base nesta comparação, e indica o número de categorias em que esse excerto foi codificado. As outras duas colunas, “Codificação 2” e “Codificação 3” apresentam valores em forma de fracção. Isto, porque, estes campos indicam o número de categorias em que esse excerto foi codificado, comparativamente à Codificação 1. Assim, por exemplo, o Excerto 4 foi codificado na Codificação 1 numa categoria, e na Codificação 3 também numa categoria. A fracção 1/1 na coluna Codificação 3 pode então da seguinte forma “houve concordância numa categoria da codificação 3 de um total de uma categoria da Codificação 1”. Em contraste, o resultado da Codificação 2 para o Excerto 4 é 0/1, o quer dizer que não houve concordância em nenhuma categoria.

Somando o total de categorizações em que houve concordância entre a Codificação 1 e 2 e o total de categorizações da Codificação 1, obtém-se a fracção 7/14, o que representa uma percentagem de concordância de 50%.

Por sua vez, fazendo o mesmo exercício com a concordância entre a Codificação 1 e 3 e o total de categorizações da Codificação 1, obtém-se a fracção 13/14, o que representa uma percentagem de concordância de 93%.

Como se pode verificar, houve uma grande discrepância entre as codificações efectuadas. Enquanto que entre a codificação inicial e a codificação efectuada três meses depois pela mesma pessoa houve uma concordância de 93%, entre a codificação inicial e a codificação feita por uma pessoa externa ao estudo, a concordância foi apenas de 50%. Este resultado pode estar relacionado com o facto da investigadora estar ainda muito embrenhada no estudo e, dessa forma, ter tendência a codificar os conteúdos de forma muito similar ao que fez inicialmente. Para além disso, o facto de as categorias terem sido definidas pela investigadora, faz com que esteja mais familiarizada com elas.

Pode concluir-se que, conforme previsto, existe um nível de subjectividade bastante elevado na codificação das entrevistas, que deve ser tida sempre em consideração aquando da análise e interpretação dos resultados obtidos.