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Os Procedimentos de Análise dos Dados

Capítulo 2 – Metodologia da Pesquisa

2.5 Os Procedimentos de Análise dos Dados

Os dados utilizados para o desenvolvimento desta pesquisa foram obtidos por meio das respostas dadas por seus participantes aos instrumentos utilizados para coleta, já descritos acima, aos quais denominei questionário investigativo do professor e questionário investigativo do aluno.

Os procedimentos que observei para a análise desses dados tomaram por base o método de análise de conteúdo apresentado por Bardin (2003) e, mais especificamente, dentro deste método, a técnica de análise categorial, sobre os quais discorro brevemente a seguir.

Segundo a autora, a análise de conteúdo é um método muito empírico, que depende do tipo de “fala” a que se dedica e também do tipo de interpretação que se deseja como objetivo (BARDIN, 2003, p. 30). A mesma autora, assim define análise de conteúdo:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2003, p. 42)

Nessa definição, a comunicação é entendida pela autora como sendo qualquer transporte de significações de um emissor para um receptor (BARDIN,

2003, p. 32), e inferência como uma operação lógica pela qual se admite uma proposição em virtude de sua ligação com outras proposições já aceitas como verdadeiras (p.39),

Desse conjunto de técnicas que compõem o método, optei por utilizar neste trabalho a técnica denominada análise categorial. Segundo Bardin (2003, p. 153) esta é cronologicamente a mais antiga e, na prática, a mais usada. Ainda segundo a autora, entre as diferentes possibilidades de categorização, a investigação dos temas, ou análise temática, é rápida e eficaz na condição de se aplicar a discursos diretos (significações manifestas) e simples (BARDIN, 2003, p. 153).

Entendo que o “tipo de fala” do qual provêm os dados a serem analisados neste trabalho, como já dito, são respostas dadas a perguntas abertas formuladas em questionários com finalidades específicas, o que, penso, as enquadra nesta natureza de discurso direto simples, cuja significação manifesta é o que se pretende analisar. Por essa razão, portanto, optei pelo emprego do método e técnica comentados.

De acordo novamente com Bardin (2003, p. 117), as categorias são rubricas ou classes que, sob um título genérico, reúnem um conjunto de elementos que são agrupados em razão de caracteres comuns. Segundo a mesma autora, o critério de categorização pode ser semântico (categorias temáticas), sintático (os verbos, os adjetivos), léxico (classificação das palavras segundo seu sentido) e expressivo (como categorias que classificam perturbações da fala). A autora afirma ainda que a categorização pode empregar dois processos diversos: em um deles, é fornecido o sistema de categorias e os elementos são repartidos da melhor maneira possível à medida que vão sendo encontrados; no processo inverso, o sistema de categorização não é fornecido, mas resulta da classificação analógica e progressiva dos elementos (BARDIN, 2003, p. 119).

Para que sejam organizadas as categorias, Bardin (2003, p. 103) aponta a necessidade de que o material a ser analisado seja tratado, isto é, que ele seja codificado. Segundo a autora, essa codificação corresponde a uma transformação dos dados brutos do texto, a qual, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto. Como exemplo, a autora cita metaforicamente uma situação em que se pediria aos passageiros de uma composição de metrô que esvaziassem as malas de mão, redistribuindo-se, depois, em caixas de sapatos,

segundo alguns critérios, os objetos que nelas estavam. Uma repartição poderia ser feita segundo o critério do valor mercantil: os objetos seriam divididos segundo o valor estimado para cada um deles. Outra classificação poderia se dar sob o critério da função dos objetos: objetos de maquiagem, dinheiro, etc. A técnica consiste em classificar os diversos elementos segundo critérios que possam gerar um sentido capaz de introduzir certa ordem na confusão inicial, tornando possível então deduzir- se, por exemplo, certos dados que demonstrem a situação sociocultural de senhoras observadas em determinada hora de utilização do metropolitano (BARDIN, 2003, p. 37).

Assim, para a autora, fazer uma análise temática consiste em descobrir, em uma comunicação, os núcleos de sentido que a compõem, cuja presença pode significar alguma coisa para o objetivo de análise escolhido. Ao proceder o recorte do texto, o segmento de conteúdo a ser considerado como unidade de base visando à categorização é denominado unidade de registro, e pode ser de natureza e tamanho variáveis. Entre as unidades de registro mais utilizadas estão incluídos a palavra e o tema, este último entendido como a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura (BARDIN, 2003, p. 105).

Ao concluir-se a fase descritiva do enunciado a ser analisado (tratamento de suas características por meio de codificação), segue-se a ela a etapa da inferência (na forma compreendida por Bardin, 2003, p. 32, indicada acima) como sendo um procedimento intermediário que permite a passagem, explícita e controlada, dessa primeira etapa para a fase final, a da interpretação (significados concedidos às características descritas na primeira etapa) (BARDIN, 2003, p. 39).

À luz então do que propõe a técnica de categorização dentro do método da análise de conteúdo, acima apresentados na visão de Bardin (2003), procurei organizar os procedimentos de análise dos dados que obtive para o desenvolvimento do presente trabalho.

Assim, penso, o objetivo desta pesquisa por si próprio - investigar as representações de professores e alunos da EJA sobre o ensino-aprendizagem de Inglês e compará-las entre si - já sugere as significações a serem buscadas durante o processo de análise dos dados. Em função disso, optei por utilizar o primeiro dos dois processos de categorização acima apresentados, no qual o sistema de categorias é fornecido a priori e os elementos são repartidos à medida que vão

sendo encontrados. A partir dessa opção, defini então três categorias temáticas, para as quais atribuí como títulos genéricos os seguintes:

o ensino-aprendizagem de Inglês na EJA o aluno de Inglês na EJA

o professor de Inglês na EJA

Definidas essas categorias temáticas, busquei, em prosseguimento, perceber, entre os dados coletados em ambos os instrumentos utilizados, os núcleos de sentido presentes nas comunicações dos participantes (comunicações aqui entendidas como por Bardin, 2003, p. 32, acima apontado), a partir dos quais pude identificar os temas subjacentes a cada uma dessas categorias. Feito isso, busquei, por fim, recortes dessas comunicações que me fornecessem unidades de registro ainda menores, capazes de permitir inferências que me fizessem chegar às representações que possam ter os integrantes dos dois grupos de participantes da pesquisa. Elegi então, para comporem tais unidades de registro, as escolhas lexicais feitas pelos participantes em seus depoimentos.

Assim pensados portanto os procedimentos de análise que adotei para o desenvolvimento da presente pesquisa, aponto, no quadro abaixo, uma síntese sistematizada dessa organização.

Elementos para análise dos dados da pesquisa Categorias Unidades de registro O ensino-aprendizagem de Inglês na EJA O aluno de Inglês na EJA O professor de Inglês na EJA Temas:

Opinião e definição pelo participante

Uma boa aula de Inglês Uma aula de Inglês ruim O bom aluno de Inglês na EJA O mau aluno de Inglês na EJA O papel do aluno no ensino-aprendizagem de Inglês na EJA O bom professor de Inglês na EJA O mau professor de Inglês na EJA O papel do professor no ensino- aprendizagem de Inglês na EJA

Quadro 2.3 – Organização dos procedimentos de análise dos dados nesta pesquisa, conforme técnica de análise categorial (Bardin, 2003).

Com essa organização em mente, o passo seguinte foi debruçar-me sobre os dados propriamente, isto é, lançar sobre as respostas oferecidas aos questionários investigativos (anexos 3 e 4) um olhar atento em busca de significações que me pudessem conduzir ao que propõem os objetivos da pesquisa.

Sob esse olhar, portanto, procurei, em cada um dos questionários, agrupar por proximidade as perguntas que versassem sobre um mesmo tema. A exemplo de Monteiro (2009, p. 51), após proceder tal agrupamento das perguntas, reuni também, em arquivos unificados (um para cada grupo de participantes), todas as respostas dadas a uma mesma pergunta efetuada em cada um dos instrumentos.

Feito isso, procurei então perceber, no conjunto das respostas reunidas, expressões e escolhas lexicais feitas pelos participantes que, alocadas sob os temas e categorias definidos, pudessem permitir a inferência de intenções e motivos subjacentes às ações dos participantes que as emitiram, revelando, assim, suas representações acerca do ensino-aprendizagem de Inglês na EJA.

Por fim, reconhecidas as representações a partir dos dados analisados, a ação seguinte foi comparar as representações que revelaram ter tanto professores quanto alunos de EJA sobre o ensino-aprendizagem de Inglês, a fim de identificar os pontos de convergência e/ou divergência entre as representações de ambos, conforme propõe a terceira pergunta de pesquisa formulada no início desse trabalho.

Nesta seção, portanto, apresentei a sequência de procedimentos que adotei para a análise dos dados coletados para realização da pesquisa proposta neste trabalho, a qual se orientou pelo método de análise de conteúdo segundo a visão de Bardin (2003). Finda esta apresentação, encerro também aqui este segundo capítulo, que tratou sobre a metodologia da pesquisa.

O conjunto dos resultados obtidos a partir dos procedimentos aqui descritos é apresentado no capítulo que tem início a seguir.

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