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Diagrama 4 Modelo teórico “Esperando chegar ao tempo futuro”

4 PERCURSO DA PESQUISA

4.5 Procedimentos de análise dos dados

A proposta da TFD de coleta, transcrição e análise dos dados de forma simultânea potencializa maior aproximação com as experiências de comunicação da criança/adolescente, família e profissionais de saúde, no percurso do tratamento do câncer infantojuvenil. O processo de análise das entrevistas concomitante à coleta de dados, corrobora a interpretação dos conceitos e hipóteses emergidos da experiência dos sujeitos, o que norteia a próxima entrevista (STRAUSS; CORBIN, 2008).

No processo de coleta de dados, codificação e análise dos dados foram utilizados diagramas e memorandos (APÊNDICE C) para registrar informações que potencializam a visualização da experiência dos sujeitos sob a luz do IS (STRAUSS; CORBIN, 2008).

Os memorandos (notas teóricas, metodológicas e/ou de observação) são registros sobre a construção da teoria, realizados durante todo o processo de coleta e análise dos dados, com o objetivo de refletir sobre os dados. As notas teóricas constituem-se em inferências e/ou interpretações sobre os fatos que o pesquisador vai tomando conhecimento, o que lhe permite formular conceitos e hipóteses. Já as notas metodológicas são lembretes e críticas que o pesquisador faz sobre suas estratégias e as notas de observação são descrições sobre eventos experimentados, principalmente através da observação e audição no campo de pesquisa. Os diagramas são considerados memorandos visuais que mostram a relação entre os conceitos e permitem descrever as relações entre uma categoria e suas subcategorias (STRAUSS; CORBIN, 2008).

As entrevistas foram transcritas na íntegra e os participantes identificados por F ou C que representa família e criança, respectivamente, seguido de, a partir da primeira letra do parentesco com a criança/adolescente e, também, da ordem em que a entrevista foi realizada. Os profissionais de saúde foram identificados por PS que representa Profissionais de Saúde e seguido da ordem em que a entrevista foi realizada.

Após a transcrição das entrevistas foi realizada uma leitura profunda, a fim de identificar os códigos presentes nas palavras ou frases, possibilitando iniciar a construção dos conceitos atribuídos pelos sujeitos da pesquisa. Essa fase é o primeiro passo da TFD, a codificação aberta.

A codificação aberta (Quadro 2) permite o levantamento dos códigos, etapa que se aproxima, separa e compara os dados com o objetivo de apontar similaridade ou diferença entre os códigos para se iniciar o processo de construção das categorias iniciais. Para chegar aos códigos é necessário um processo minucioso e reflexivo pelo pesquisador em relação aos dados, com exaustiva interpretação de cada palavra, linha por linha (STRAUSS; CORBIN, 2008).

Quadro 2 – Exemplo de codificação

Trecho da entrevista Códigos

“Não tinha nem o que falar, eu não conseguia nem falar. Só pedia para ele ter muita calma, paciência que a gente iria vencer que iríamos fazer tudo direitinho o tratamento, que a Nossa Senhora não iria desamparar a gente, não ia deixar a gente sofrer (...)”

✓ Não tendo o que falar ✓ Não conseguindo falar

✓ Pedindo para criança ter calma e paciência

✓ Dizendo que iriam vencer a fase ruim ✓ Falando sobre fé

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Logo após a emersão nos códigos passa-se para a segunda etapa da codificação aberta, que está interligada à categorização dos dados. Essa fase da pesquisa está relacionada ao agrupamento dos códigos para emersão das categorias e subcategorias de acordo com sua similaridade (Quadro 3). Os nomes das categorias e subcategorias devem representar a ideia do pesquisador, podem surgir através do destaque de um conceito mais amplo, de ideias súbitas, de nomes já existentes na literatura ou através de “códigos in vivo”, ou seja, de um código em si (STRAUSS; CORBIN, 2008).

Quadro 3 – Exemplo de categorização

CÓDIGOS CATEGORIAS

✓ Pensando se os pais iriam ficar do seu lado durante o tratamento

✓ Pensando na reação dos amigos ao saber da doença

✓ Pensando se a sociedade iria aceitá-la mesmo com os efeitos colaterais do tratamento

✓ Pensando que os pais tinham os irmãos para cuidar

Refletindo a nova forma de ser

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Realizada a categorização dos dados é necessário que o pesquisador realize um processo reflexivo de dados, buscando por respostas para questões, tais como “por quê?”, “de que forma?”, “onde?”, “quando?”, “como?” (SANTOS et al., 2018). Essa é a segunda etapa da TFD, a codificação axial, que exige do pesquisador uma sensibilização teórica para a construção do modelo teórico.

Ao olhar para os dados, o pesquisador faz um reagrupamento dos dados a fim de formar explicações sobre os fenômenos em investigação e possibilitar a emergência de categorias, assim, o objetivo da codificação axial é desenvolver sistematicamente as categorias e relacioná-las (STRAUSS; CORBIN, 2008). Nessa etapa, destaca-se o Modelo do Paradigma para orientar a organização sistemática das categorias, estruturando o processo frente à identificação dos fenômenos e delimitação da categoria central. O modelo do paradigma é composto pelos componentes conhecidos como “5 Cs”: contexto, condições causais, condições intervenientes, estratégias e as consequências (STRAUSS; CORBIN, 2008).

O fenômeno é a ideia central sobre o qual um conjunto de ação-interação é direcionada; o contexto é o local onde o fenômeno acontece e condições que possibilitam o desenvolvimento de estratégias; as condições causais são fatos/fatores que influenciam e/ou causam o fenômeno; as condições intervenientes influenciam diretamente nas estratégias e são aspectos que interferem ou alteram o impacto e/ou o desenvolvimento do fenômeno; estratégias são ações e interações planejadas e desenvolvidas para lidar com o fenômeno; e as consequências são resultados do uso das estratégias identificadas no estudo (STRAUSS; CORBIN, 2008).

A terceira etapa da TFD consiste na codificação seletiva que é representada pelo refinamento das categorias, permitindo a identificação da categoria central, a qual perpassa todas as demais, e constitui a teoria do estudo. Todas as categorias, portanto, são abstraídas, analisadas, refletidas, sistematizadas, interconectadas e o pesquisador encontrará o fenômeno

central, que será a categoria central, consistindo na teoria fundamentada (STRAUSS; CORBIN, 2008).

O processo de refinamento dos dados com um olhar constante e exaustivo sobre as categorias e subcategorias, balizadas pelos conceitos do Modelo do Paradigma, potencializou a reorganização dos dados, o que permitiu a construção de três fenômenos e, a partir deles, identificação da categoria central, que revela a experiência de comunicação dos atores envolvidos no processo de tratamento da doença da criança/adolescente. No processo reflexivo da construção da categoria central, foi realizada uma redação que conta a história de família, criança/adolescente e profissionais de saúde durante o processo de tratamento do câncer infantojuvenil. A história contada contemplava todas as categorias e subcategorias, apoiando-se na leitura dos memorandos, possibilitando um diálogo entre o pesquisador e seus questionamentos, assim como a formulação e reformulação dos diagramas, buscando estabelecer as relações e interações dessas categorias frente a esse contexto estudado. A construção da categoria central, perpassando por todas as etapas de coleta e análise dos dados, representou um árduo percurso de imersão na experiência de comunicação das famílias, crianças/adolescentes e profissionais de saúde, para a construção de um modelo teórico representativo que abarcasse a comunicação existente, nesse processo de tratamento do câncer infantojuvenil.

No que tange à validação do modelo teórico, foi necessária uma conversa com os participantes a respeito das categorias e subcategorias encontradas no processo de análise, a fim de identificar se algo importante foi omitido do esquema teórico, bem como se a experiência apreendida condizia com a realidade dos sujeitos. Nesse sentido, a validação visa a comprovação de que o modelo teórico é representativo da realidade investigada (STRAUSS; CORBIN, 2008).

Com a finalidade de contemplar todos os sujeitos participantes desta pesquisa, o modelo teórico foi apresentado para três profissionais de saúde e duas famílias para validação, constituindo o 6º grupo amostral. Devido ao cenário mundial vivenciado, em função da pandemia de COVID-19, a validação dos dados se deu através de um aplicativo de rede social, onde foi previamente agendado um dia e horário para a apresentação do modelo teórico aos sujeitos da pesquisa. Para facilitar o processo de participação da família e criança/adolescente, o contato se deu por meio de um profissional de saúde que disponibilizou sua rede social para a interação entre pesquisador e sujeitos. As famílias, criança/adolescente e profissionais de saúde escolhidos já faziam parte do rol de contatos da pesquisadora construídos durante a pesquisa.

Nesse sentido, foi realizado um contato via telefone com os potenciais participantes do processo de validação do modelo teórico, explicando sobre a pesquisa e convidando-os para participar. Diante da aceitação dos mesmos, foi encaminhado via e-mail e/ou deixado com a secretaria do setor de pediatria um envelope nominal contendo: o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) digital e o Diagrama 4, para facilitar a visualização do modelo teórico. No dia e horário previamente agendados, inicialmente, explicou-se para os sujeitos da validação a forma como foi realizada a coleta de dados e que a experiência deles tinha sido apreendida pela pesquisadora, conforme os diagramas e o modelo teórico. Os sujeitos identificaram-se com a experiência apreendida, fizeram considerações sobre as vivências colocadas no modelo teórico e ponderaram que não conseguiam visualizar a comunicação da criança/adolescente na interação com seu “eu”. Nessa ocasião, o texto foi redigito, abordando os momentos que a criança/adolescente estabelece essa comunicação, bem como as questões colocadas por eles nessa conversa. Além disso, os sujeitos refletiram sobre a questão do preconceito existente sobre a doença e tratamento da criança/adolescente, colocando que visualizam a situação como sentimentos de piedade, não um preconceito. Com base na reflexão dos participantes do processo de validação, o nome da categoria foi modificado a fim de apreender a experiência dos participantes do estudo. Os dados dessa entrevista foram gravados, porém não passaram pelo mesmo procedimento metodológico que as anteriores, salientou-se apenas a identificação expressa das famílias, criança/adolescente e profissionais de saúde sobre o modelo teórico. Assim, no próximo capítulo, será retratada a experiência de comunicação dos sujeitos diante o tratamento da criança/adolescente com câncer.

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