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1. O RECORTE DA PESQUISA E OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.2. Procedimentos e caminhos da investigação

O estabelecimento e a definição dos processos teórico-metodológicos que estruturarão a pesquisa são um estágio importante dentro do trabalho de investigação para o alcance dos objetivos propostos. Assim, para mais adequadamente organizá-lo foram concebidas etapas essenciais para o seu desenvolvimento.

A fase inaugural da pesquisa conforma-se à estruturação da matriz teórica e à definição do método científico do trabalho. Um referencial teórico bem fundamentado, englobando a leitura de livros, teses, dissertações, artigos científicos, material disponibilizado na internet, entre outras obras consagradas, ajudam a construir conceitos norteadores, primordiais para a compreensão da temática em estudo e para a validação da investigação científica.

Conteúdos envolvendo pensamento racional, percepção ambiental, interação entre o homem contemporâneo e o lugar no seu dia a dia, consumo, geração e coleta seletiva de resíduos recicláveis secos, foram cruciais para a compreensão das atitudes humanas em relação ao meio ambiente, perceptíveis cotidianamente neste início de século. Acima de tudo, demonstraram-se relevantes para enfatizar a necessidade de uma educação ambiental efetiva e transformadora como contraponto às “inadequações profundas na lógica cartesiana e na ciência newtoniana. ‘Positivismo’, escreveu Husserl, ‘decapita a filosofia’, o que significa que

a ciência empírica deixa de fora os sentimentos, emoções, experiências e tudo que é humano” (RELPH, 2014, p. 19).

A princípio, a discussão se consagra à conceituação e ao histórico da construção do pensamento racional, um saber sistemático, cujos eixos gerais presidiram e presidem os principais debates na evolução científica. Os autores centrais no embasamento teórico deste tópico foram Gomes (2007), Leff (2001 e 2002) e Morin (2002), apresentando e legitimando outras vias de conhecimento, diferentes das abertas pela generalização e pela ordem lógica e que, por consequência, negam a primazia absoluta da razão, a qual tem se proclamado nos últimos séculos como acesso único e aceitável ao saber.

Outro conceito norteador trabalhado foi o da percepção como uma atividade humana em que há um “estender-se para o mundo” (TUAN, 2012, p.30), de modo que se veja algum valor nele. Por conseguinte, também foi abordada a percepção ambiental e como as atitudes para com o meio ambiente não só diferem de pessoa para pessoa, como também produzem impacto sobre o meio ambiente, sobretudo, quando se trata da geração de resíduos recicláveis secos. Alguns autores foram fundamentais para a compreensão deste ponto por se destacarem nesta temática, dentre eles estão: Tuan (2012 e 2013), Oliveira (2012 e 2013), Merleau-Ponty (2015) e Claval (2006, 2009 e 2014).

Para discutir a cotidianidade e a relação do homem com este aspecto da vida na contemporaneidade foram utilizadas as contribuições científicas de autores como: Lefebvre (1991), Beck (2010) e Bauman (1998, 2001, 2004, 2008, 2009 e 2014). Os estudos de Cortez (2009), Minéu (2017), Ortigoza (2009), SNIS (2005 – 2015), IBGE (2008), Besen, Jacobi e Freitas (2017) e CEMPRE (2016) sobre consumo e produção de resíduos, bem como seus impactos sobre o meio ambiente foram fundamentais para auxiliar na compreensão dos resultados e na discussão sobre o descarte do resíduo reciclável seco em Ituiutaba.

Deste modo, considerando todo o dinamismo que permeia a ciência e seu diálogo com diversas áreas do saber, simultaneamente à abordagem teórica a determinação do método científico da pesquisa não só se revelou como um grande desafio como também indicou o melhor caminho a ser percorrido em direção às respostas ao problema exposto.

Para auxiliar no alcance dos objetivos desta pesquisa, quanto à abordagem, ela é quali- quanti. Se, por um lado, a pesquisa qualitativa se mostra bastante apropriada quando o fenômeno em estudo é complexo e de natureza social, por outro, a pesquisa quantitativa garante a precisão de resultados diante da possibilidade do emprego da quantificação tanto na coleta de informações quanto no tratamento de dados pela estatística.

Estas duas abordagens associadas demonstram que enquanto a pesquisa qualitativa ocupa-se com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, tendo como foco, portanto, a compreensão e a explicação da dinâmica das relações sociais, a pesquisa quantitativa apresenta resultados por meio de linguagem matemática, utilizando-se de tabelas e quadros.

A exatidão das descrições dos fenômenos sociais é um requisito essencial da pesquisa qualitativa, como primeiro passo para avançar na explicação e compreensão da totalidade do fenômeno em seu contexto, dinamismo e relações. A descrição é uma etapa árdua, que exige muito esforço, experiência e informações sobre a situação que se estuda e a teoria geral que orienta o trabalho do pesquisador. Os comportamentos, as ações, as atitudes, as palavras etc. envolvem significados, representam valores, pressupostos etc., próprios do sujeito e do ambiente sócio- cultural e econômico ao qual este pertence. Sob cada comportamento, atitude, ideia, existe um substrato que não podemos ignorar se quisermos descrever o mais exatamente possível um fenômeno. Nunca, verdadeiramente, seremos capazes de uma descrição perfeita, única, do fato. Haverá sempre descrições diferentes já por condições referentes ao pesquisador, à teoria que embasa o estudo, aos sujeitos, ao momento histórico, às relações que se estabelecem entre os indivíduos etc. (TRIVIÑOS, 1987, p.155).

Considerando-se que na pesquisa qualitativa a busca da compreensão da dinâmica do ser humano é uma convocatória, seu campo de estudos envolve o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Logo, ela corresponde a um empenhar-se em traduzir o que há de mais profundo nas relações, nos processos e nos fenômenos que não podem ser reduzidos a variáveis. Este ponto demonstra uma afinidade expressiva com a temática da educação ambiental e porque não com a geografia humanista, tópico que mais adiante será abordado, e que tem estreita relação com a fenomenologia.

Em relação aos objetivos esta pesquisa foi classificada como descritiva, por exigir uma série de informações sobre o objeto de pesquisa com o intuito de descrever fatos e fenômenos de uma determinada realidade. Normalmente estudos de caso e análises documentais são apropriados à pesquisa descritiva, não só por proporcionar maior familiaridade com o problema, como também por aprofundar as discussões ou promover uma visão geral sob um novo olhar.

A pesquisa qualitativa com apoio teórico na fenomenologia é essencialmente descritiva. E como as descrições dos fenômenos estão impregnadas dos significados que o ambiente lhes outorga, e como aquelas são produto de uma visão subjetiva, rejeita toda expressão quantitativa, numérica, toda medida. Desta maneira, a interpretação dos resultados surge como a totalidade de uma especulação que tem como base a percepção de um fenômeno num contexto. Por isso, não é vazia, mas coerente, lógica e consistente. Assim, os resultados são expressos, por exemplo, em retratos (ou descrições), em narrativas, ilustradas com declarações das pessoas para

dar o fundamento concreto necessário, com fotografias etc., acompanhados de documentos pessoais, fragmentos de entrevistas etc. (TRIVIÑOS, 1987, p.128).

Dando sequência, na segunda etapa desta pesquisa foi realizada a coleta de dados, buscando reunir dados junto ao SNIS por meio de planilhas e tabelas, observando-se o recorte temporal da pesquisa, o que muito ajudou na elaboração das representações gráficas dos resultados.

Conforme relatado, as publicações anuais do SNIS trazem diagnósticos da situação da prestação de serviços de saneamento básico, divididos em “Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos”, “Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos” e “Diagnóstico do Serviço de Águas Pluviais”. Por isso, o SNIS é dividido em três componentes: Água e Esgotos (SNIS-AE), Resíduos Sólidos (SNIS-RS) e Águas Pluviais (SNIS-AP). Como outro item que faz parte do contexto do saneamento básico, o componente Águas Pluviais Urbanas foi criado em 2016 pelo SNIS (ano de referência 2015) e nos próximos anos será possível quantificar como ele tem evoluído nos municípios e qual o grau de comprometimento das administrações municipais com a sua melhoria nas cidades. Entretanto, há que se atentar ao fato que o componente alvo desta pesquisa é o SNIS-RS.

Para auxiliar a compreensão dos termos, definições e equações adotadas pelo SNIS, em sua página oficial na internet o sistema disponibiliza o “Glossário de Informações” e o “Glossário de Indicadores”31 (que contém as especificidades para o cálculo de cada um dos

indicadores como a padronização de nomenclatura, fórmulas de cálculo e unidades de medida). Para facilitar a consulta aos dados do SNIS, existe o aplicativo SNIS – Série Histórica32, por meio do qual pode-se visualizar de forma rápida e fácil os dados do SNIS a partir de consultas personalizadas a critério do usuário.

Os elementos metodológicos empregados pelo SNIS33 estão em contínuo aprimoramento e evolução, consistindo na contemplação das distintas fases envolvidas no processo de coleta, tratamento, organização, armazenamento, recuperação e divulgação de dados. Para que o banco de dados do SNIS-RS seja atualizado anualmente, os dados são coletados nos órgãos gestores do manejo de resíduos sólidos nos municípios, envolvendo as etapas que constam do Quadro 01, descritas pelo SNIS (SNIS-RS, 2015).

31 Glossário de Informações e Glossário de Indicadores RS-2015. Disponível em:

<http://www.snis.gov.br/diagnostico-residuos-solidos/diagnostico-rs-2015>. Acesso em: 20 mar. 2017.

32 SNIS – Série Histórica. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/aplicacao-web-serie-historica>. Acesso em:

20 mar. 2017.

33 Elementos metodológicos RS-2015. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/diagnostico-residuos-

Quadro 01 – Elementos metodológicos do SNIS-RS

1. Processo de atualização anual do SNIS-RS