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4 PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO A PARTIR DOS ESTUDOS DE

5.5 PROCEDIMENTOS DE COLETAS DE DADOS

Utilizei a observação como ferramenta, onde me proporcionou adentrar no campo para reconhecer e familiarizar-me com o ambiente de sala de aula regular e sala de recursos multifuncionais, as relações interpessoais na hora do recreio e com os sujeitos neles envolvidos, tendo em vista que de acordo Moreira e Caleffe (2008), a observação é um procedimento de coleta de dados que

[...] o objetivo do pesquisador é apenas observar o comportamento do participante ou dos participantes. Os comportamentos incluem o que as pessoas dizem e fazem, mas os observadores evitam interrompê-las para buscar esclarecimentos (p. 195).

Nesse contexto, os dados foram coletados, durante a minha permanência junto ao aluno com síndrome de Prader-Willi e os demais sujeitos, compartilhando suas atividades no dia a dia das aulas e também em eventos do cotidiano escolar. De acordo com Gil (1994) ―o observador não é apenas o espectador do fato que está sendo estudado, ele se coloca na posição e ao nível dos outros elementos humanos que compõem o fenômeno a ser observado‖ (p. 215).

Sob tal perspectiva, as observações aconteceram no período de agosto a dezembro de 2014, ou seja, dois trimestres, com periodicidade semanal de dois a três dias. As idas à escola se organizaram no início de modo a possibilitar a observação das aulas na sala regular, com duração de cinquenta minutos cada, no atendimento na sala de recursos70 que possuía uma sala própria e nos recreios, depois participação de conselhos e reunião de pais e passeios71.

Sob o enfoque da perspectiva sócio-histórica a observação se fundamentou no processo interativo possibilitado pela linguagem entre a relação dos sujeitos e mediada por eles, permitindo a compreensão dos comportamentos a partir da percepção dos sujeitos da investigação. Segundo Freitas, Jobim e Kramer (2003, p. 33) "a observação, numa pesquisa de abordagem sócio-histórica, se constitui, pois em um encontro de muitas vozes: ao se observar um evento depara-se com diferentes discursos verbais, gestuais e expressivos".

Nesse sentido, a observação se concretizou no encontro de muitas vozes que refletiram e refrataram a realidade, construindo uma nova/outra tecitura social e permitindo-me ter essa dimensão da relação da singularidade com a totalidade, do individual/particular com o coletivo/social (FREITAS, 2002).

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Nesta sala o atendimento não acontecia no contra turno, e Samuel saía da sala comum junto com a estagiária, para realizar praticamente todas suas atividades junto à professora Silvia.

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Passeios que Samuel não esteve presente – passeio cultural a mostra cultural de cinema de Vitória-E.S e ao Parque da Cidade, localizado no município da Serra-E.S.

Para entender as vozes entrelaçadas no discurso da escola/sala de aula, utilizei os diários de campo para registrar as experiências e impressões sobre a sala de aula, sala de recursos multifuncionais e recreios, os eventos mais significativos e as ligações disso tudo com a fundamentação teórica, o que possibilitou constituir um detalhamento de informações para a utilização na pesquisa. Assim, Bogdan e Biklen (1994) enfatizam que o diário, é o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da coleta de dados.

5.5.2 Entrevista

A entrevista, de cunho sócio-histórica, assim como a observação, também é marcada por essa dimensão do social. Os sentidos são criados na interlocução e dependem da situação experienciada, dos horizontes espaciais ocupados pelo pesquisador e pelo entrevistado. Na entrevista é o sujeito que se expressa, mas sua voz carrega o tom de outras vozes, refletindo a realidade de seu grupo, gênero, etnia, classe, momento histórico e social (FREITAS, 2002).

Desta forma, utilizei a entrevista semiestruturada com os sujeitos da pesquisa, pois combina uma série de perguntas pré-determinadas com uma conversa mais solta, onde o entrevistador é livre para deixar os entrevistados desenvolverem as questões da maneira que eles quiserem, oferecendo uma oportunidade para esclarecer qualquer tipo de resposta quando for necessário (MOREIRA; CALEFFE, 2008).

As entrevistas semiestruturadas aconteceram durante o período (matutino)72 de observação na escola, foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas. Aconteceram em dias agendados com os sujeitos participantes, preferencialmente no horário de planejamento dos professores e nem todos os professores foram escolhidos73, assim distribuídas: uma entrevista com o aluno subjetivado como tendo a síndrome de Prader-Willi, uma entrevista com seu pai, uma entrevista com a pedagoga, uma entrevista com a professora de AEE responsável pelas atividades pedagógicas de Samuel, uma segunda professora de AEE, estagiária responsável

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Período letivo em que o aluno estudava. 73

Alguns professores apresentaram resistência mediante a entrevista. Esses professores foram escolhidos mediante observações na sala de aula e sua intensidade perante a pesquisa.

por auxiliar Samuel em suas atividades em sala de aula comum, duas estagiárias que auxiliam crianças com outros tipos de deficiência, uma delas incluída na sala de Samuel, cinco professores74 da sala comum de ensino. Diversas conversas foram realizadas durante minha estada na escola com professores, mais especificamente com a professora de Educação Especial.

A entrevista semiestruturada foi utilizada com o objetivo de conhecer o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de um aluno subjetivado como tendo a síndrome de Prader-Willi dentro de uma sala comum e como o processo de inclusão ocorre e perpassa dentro da escola. Como o professor recebe este aluno dentro de sala aula, como este aluno é visto pelos outros alunos, se o laudo médico interfere no processo ensino e aprendizagem e como eles têm reagido com estas novas subjetivações que surgem no ínterim da educação.

Percebi assim, na entrevista semiestruturada um espaço de produção de enunciados que se alternam e que constroem um sentido na interação das pessoas envolvidas.

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Professores regentes que disponibilizaram à entrevista: História, Geografia, Matemática, Arte, Ciências.

6 SUBJETIVIDADE, (DES) CONSTRUÇÃO DE UM SER ...OU... SOBRE O SER